Política nos tribunais, tribunais na política – Por Léo Rosa de Andrade

30/03/2016

O poder é o controle da resultante de uma relação de forças. A prática do poder na esfera política e social ou mesmo na vida pessoal é bem mais complexa do que no mundo da física, em que tudo se resume a ação e reação.

Quem reduz as relações de poder à dicotomia bem versus mal tem uma visão de mundo designada maniqueísmo. O adepto desse dualismo sempre reserva aos seus interesses o que seria o bem e aos adversários o que seria o mal.

Maniqueístas mistificam suas explicações\justificações dos fatos atribuindo-se a si mesmos posição de neutralidade. Mentem, contudo. Toda opinião é comprometida com alguma relação de poder.

Tome-se esse ato do juiz Moro de divulgar gravações dos “costumes” lulopetistas. Para sectários de Lula, um crime; para encolerizados com o governo, um gesto de interesse público. Já ouvi até um “há males que vêm para pra bem”.

Depois que Moro “morolizou” a moral moralizante a complexidade da vida pública foi simplificada e decomposta em certo ou errado, com palavras de ordem e bravatas substituindo raciocínios estruturados e argumentos.

Pense-se no impeachment em andamento. Petistas bradam que é golpe fazer tal pedido no curso de um governo eleito. Mas... O PT pediu o impeachment de Fernando Henrique Cardoso pelo menos quatro vezes. Por que não era golpismo?

Na dúvida, conferir na Net: PT Impeachment FHC. Visto, qual a conclusão? Impeachment é ou não é golpe? Se não foi golpe quando o PT, na oposição, o pediu, não é golpe quando a oposição ao PT o pede. Coerência.

Mais coerência: condene-se a divulgação das referidas conversas (sim, deveriam ter sido mantidas em sigilo), mas que se lembre que antes das eleições presidenciais o governo petista proibiu o IBGE de divulgar dados que o desmentiam.

Um julgador equidistante dirá que interditar o que deveria vir a público equivale a divulgar o que solicita sigilo. Com que moral alguém defende com pesos diferentes anverso e verso de uma mesma moeda trapaceira?

Opera-se em “modo” torcida. Está pândego ver tantos e tão sábios constitucionalistas emitindo “pareceres” conformados às claques partidárias. No meio, a multidão iracunda em profusão de publicações nas redes sociais.

Relações de poder, interesses inconfessáveis, manipulação dos incautos: o IBGE foi embargado por desavergonhados empenhos eleitorais lulopetistas. Moro, ao divulgar certas conversas, confirmava-se o mais poderoso senhor de uma causa.

O lulopetismo manipulou o IBGE, o preço da gasolina e da eletricidade, o dinheiro da Petrobras, o bolsa família, o que pôde. Picaretagem, mesmo. Moro está se passando, sem dúvida. E suponho que esteja atuando em risco calculado.

A meu ver (e isso não é justificativa jurídica), ao medir a pressão que se fazia para que fosse afastado da Lava-Jato, Moro agiu antes. Mostrou os abomináveis intestinos do lulopetismo ao Brasil e ao mundo. E agora? Como mexer em Moro?

Está na internet uma declaração de guerra:  procuradores federais, associações de juízes, ministros do STJ, às bravatas, em atitude politizada (não partidarizada, como querem os lulopetistas) resguardam Moro como quem resguarda a Pátria.

Os lulopetistas, à sua vez, instrumentam grupos interessados (vide aportes de verbas da Petrobras para negócios de artistas “desinteressados”) e a própria Presidência (instituição) para defender a presidenta (pessoa). Isso pode?

Por fim Moro é situado em invejável posição numa lista de líderes mundiais (Fortune). Lulopetistas menosprezaram o fato, embora tenham enaltecido relações equivalentes quando Lula (Financial Times e Time) ou Dilma (Forbes) foram referidos.

Lulopetistas ou moristas, decline-se da inocência. Nas relações de poder não há neutralidade nem inocência. Contudo, um mínimo de honestidade faria com que cada parte percebesse as contradições da própria história.

Lulopetistas tomaram Rui Barbosa, “Quando a política entra nos tribunais, a justiça bate as asas e vai embora.”, para criticar eventual partidarização da Justiça. Sim, isso é ruim. Tão ruim quanto é o contrário: a judicialização da política.

Ademais, foi o lulopetismo que deu início à politização da Justiça. Creio que o Brasil inteiro sabe que Lula indicou um advogado do PT para o STF, ou que pediu reunião com Gilmar Mendes para acerto ou pressão.

Sobre isso, lulopetistas principiaram a prática de levar para o Supremo as votações que perdiam no Congresso; renegavam as regras do jogo parlamentar. Como, pois, dizer contra a judicialização que sempre perpetraram?

Além de judicializar a política levando o Parlamento para o Tribunal, o lulopetismo tentou politizar e até partidarizar a Justiça. Lula reclamou da ingratidão de nomeados seus e sugeriu abordagem de ministros do STF (é fato gravado).

As coisas foram misturadas. Ao agir desse modo, o PT estabeleceu esse modo de agir. Sem ilusão, não se exerce poder impunemente. Criaram essa teratologia político-jurídica. Ela está engolindo seus criadores.


 

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