Política: estruturas de dominação – Por Léo Rosa de Andrade

27/01/2016

Nossa História política, mais especificamente a concernente à representação popular, nunca expressou exatamente o anseio do povo. Cultivamos uma coleção de vícios que desvirtuam o que se poderia chamar de vontade pública.

Já não refiro lá os tempos de Colônia ou de Império. Falo mesmo da época republicana. A República foi inaugurada sob a vigência da vontade dos coronéis, exercida por controle direto sobre redutos eleitorais.

A estrutura coronelista de dominação não vingava somente nos rincões, como a imaginação geral, mesmo a de politicólogos, pensa. O coronelismo se estabelecia de modo vertical, medrado pelo interior, mas com posições no governo central.

Somos hoje o resultado disso. O sistema político brasileiro adveio de relações de poder com donos. E os donos do Brasil sempre foram ciosos de seus interesses. Para manter suas vantagens, fizeram o que lhes pareceu conveniente.

Neste país houve golpes, violência armada contra manifestações populares, apropriação de bens públicos. Houve abuso de poder por uso da força bruta e por captura de vontades; houve e há, ainda que por outros modos.

Os coronéis típicos sucumbiram diante das exigências próprias da vida urbana, mas o controle de máquinas partidárias, de meios de comunicação, de religiões ou de contingentes de eleitores ainda permite a formação de currais eleitorais.

Não sei o quanto é percebido, mas estamos com o Congresso Nacional enfeudado por interesses que não são exatamente os da Nação, mas de grupos dispostos a barganhas ou de indivíduos que representam apenas a si mesmos.

Um grupo típico que sabe se perpetuar no poder é o formado por chefes de partido que se apoderam da sigla e se reservam bases de eleitores que lhes repetem votação, mantendo-os eternamente no Congresso. É o político de ofício.

Outro, é o endinheirado. Elege-se por dispor de meios. Compra espaços em meios de comunicação, cabos eleitorais, eleitores etc. Esbanja dinheiro e vincula a si deputados estaduais, prefeitos, vereadores etc. Vê a eleição como negócio.

Há também o oligarca convencional. Pessoas com recursos e importantes em determinada região, principalmente rural, valem-se de sua condição e transformam prestígio pessoal em capital político. Buscam o “título” de político.

Existe a celebridade. Recebe votos tão somente por gozar de notoriedade. São apresentadores de programas televisivos, radialistas, artistas, futebolistas. Em geral são convidados a se candidatar para trazer legenda a uma sigla.

A “moda” é a candidatura de pastor. Um país como o nosso, com mentalidade religiosa e hierarquizada socialmente, é ambiente adequado para votar obedientemente em intermediários de divindades.

Os políticos religiosos, católicos ou evangélicos, têm tripla vantagem: contam com o rebanho de crentes, com a subordinação dos ignorantes, com a notoriedade que programas de rádio e televisão lhes oferecem.

Por fim, há os “companheiros”. O lulopetismo criou uma modalidade própria: as máquinas sindicais vinculadas à Central Única dos Trabalhadores foram convertidas em trampolim de candidatos do PT, com farto sucesso.

Estamos assim. Esses grupos têm negociado entre si, mantendo um deletério balanceamento de vantagens sacadas do que é público. Eu diria que capturaram a República e a vêm submetendo ao que lhes interessa.

Essas brigas de torcidas partidárias nas mídias sociais dizem-me o quanto se está olhando o mundo político com sectarismo: idolatram, odeiam; não argumentam. Talvez por isso sejamos presas fáceis dessas estruturas de dominação.


 

Imagem Ilustrativa do Post: Chairs // Foto de: Mahender G // Sem alterações

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