Pensamento Pós-Hermenêutico: um contraponto cibernético à subcultura da interpretação - PARTE II

26/07/2022

Parte I

 

 

A condição hermenêutica a que me refiro na parte I e que será devidamente explicitada nas quatro partes subsequentes não se trata de um conceito, de um princípio ou de uma definição. No domínio do Pensamento do Sul do Mundo (PSM)[1], não operamos com essas categorias, ainda que de seus valores comunicativos façamos uso eventual no domínio descritivo como uma espécie de licença poética, no sentido de que distinguimos certo fenômeno num domínio qualquer, mas o apresentamos noutro que adquira mais presença, perceptibilidade (MATURANA, 2015).

Reafirmo aqui que o ponto de partida do reflexionar cibernético bioculturofenomenológico é nossa vivência-convivência cotidiana. A condição hermenêutica, no fundo, resulta da abstração de uma matriz sensório-operativo-relacional que envolve um conjunto de proposições admitidas como triviais, no âmbito cognitivo do Pensamento do Norte do Mundo (PNM)[2], como sejam:  a) a hipótese de que os seres humanos são sistemas abertos; b) a ideia de que as interações linguísticas são informativas; c) a suposição de que o sistema nervoso humano opera com representação do meio; d) a crença na possibilidade de que o entorno ambiental instrui os sistemas viventes etc.

De antemão, com fundamento nos aportes científicos entregues pela Biologia do Conhecimento, veremos que a condição hermenêutica é insustentável no atual estado da arte. E o fato de tê-lo sido por mais de 2.400 anos não invalida minha percepção. A concepção ptolomaico-geocêntrica do Universo, conquanto tenha prevalecido por mais de 1.300 anos, acabou não resistindo à argúcia heliocêntrica do polonês Copérnico. Talvez seja essa uma das evidências que estimularam Bateson (1978, p. 479) a afirmar que os erros epistemológicos funcionam bem e são pegajosos como mel.

Sucede que a humanidade de um ser vivo Homo sapiens não se encerra em sua dimensão material (fisiológica). Pelo contrário, emerge quase que completamente de sua dimensão relacional, enquanto flui recorrentemente no conversar. O que chamamos de humanidade, estritamente, não é senão um aspecto do conviver cotidiano entre seres humanos. A humanidade só é perceptível na relação entre seres vivos que realizam e conservam seu modo de vida na linguagem, motivo pelo qual somos seres biológico-culturais (DÁVILA; MATURANA, 2015b).        

Então, como pretensa atividade humana, que sucede no domínio relacional da existência humana na forma de uma rede de conversações (MATURANA; VERDEN-ZÖLLER, 2011), antolha-se inconcebível qualquer mirada sistêmica sobre a interpretação que ignore sua dimensão cultural. É que, se não há seres humanos convivendo num vazio relacional, se o habitar humano dá-se sempre intrafronteira numa rede fechada de conversações – que evocamos com a palavra cultura –, não faz nenhum sentido admitirmos a existência de atividades humanas extrafronteiras à arquitetura dinâmica da unidade ecológica organismo-nicho sem incidir em escancarado reducionismo.

Não importa se, no domínio do PNM, o aspecto cultural do comportamento humano é ativamente negligenciado. Atrevo-me a desconfiar, por sinal, que se trata de irrenunciável estratégia de autossalvação. E isso fica perceptível no modo como a doutrina religiosa, a literatura, a tradição filosófica descrevem e apresentam a atividade hermenêutica, associando-a primariamente ao étimo do vocábulo Hermes, como se o mensageiro do panteão helênico pudera ser reduzido à pobre dimensão semântica de um nome próprio.

Assim sendo, para manter-me coerente com as consequências decorrentes da abordagem cibernética e bioculturofenomenológica que aplico nesta tarefa reflexiva, como informei na parte I, submeto a atividade interpretativa ao teste da tríplice validação do fenômeno humano. O objetivo dessa operação é verificar se, de fato, a condição hermenêutica é compatível ou não com a natureza dos seres antropoecológicos. E, de saída, se aceita a hipótese maturaniana da determinação estrutural dos sistemas autopoiéticos moleculares, a conclusão é, aparentemente, negativa.

De qualquer modo, mesmo que não possa ancorar-se na dimensão física ou material dos seres humanos, não posso ignorar que o ato de interpretar tem uma história particular de pelo menos 2.400 anos. Há, portanto, nesse ato, algum viés cultural à espera de uma investigação séria e multidimensional. Por conta dessa possibilidade, enceto, nesta parte, uma revisão histórico-evolutiva da cultura patriarcal europeia, buscando detectar a existência de alguma relação entre a origem da atividade interpretativa com a epifania do deus Hermes em algum momento da Grécia pré-homérica.

Na sequência, exporei algumas implicações bioculturais e consequências práticas decorrentes da atividade hermenêutica, desde sua provável origem rudimentar no seio da civilização micênica, introduzida na ilha de Creta por tribos pastoris indo-europeias procedentes das estepes russas[3]. Além de expor as vísceras sagradas e potestativas da hermenêutica, esse desenvolvimento objetiva também descortinar a hipocrisia, o caráter normativo e autoritário que a palavra interpretação oculta nas relações humanas.

 

1 A Epifania de Hermes 

Confesso que não disponho de dados primários que me autorizem apontar com precisão a origem geográfica e o marco temporal do advento de Hermes. De todo modo, graças aos registros obtidos na primeira metade do séc. XX d.C., durante escavações realizadas no sítio arqueológico da ilha de Creta, sobre os escombros de sociedades gregas pré-homéricas, sabemos, no entanto, onde e como apareceu o arauto dos mortais[4] na Grécia Antiga. Pela primeira vez, esses achados arqueológicos apontam para nomes de divindades olímpicas, inclusive o de Hermes (EISLER, 1987, p. 55), e foram grafados em tabuletas, possivelmente, entre os séculos XV e XII a.C.[5]

Essas descobertas, associadas a outras escavações realizadas nas ruínas do assentamento neolítico de Çatal Hüyük, na Ásia Menor (Turquia), mostram que, nessa mesma época, como consequência de um processo migratório pré-histórico deflagrado há 5.000 a.C., sociedades agrícolas pré-micênicas, que habitavam pacífica e ordeiramente a região do Danúbio na Europa Antiga, acabaram sendo destruídas. Tal dizimação, segundo Gimbutas (apud EISLER, 1987, pp. 43-44), foi levada a cabo por tribos e hordas guerreiras indo-europeias provenientes das estepes russas e outras regiões desérticas.

Acontecimentos como esses revelam apenas a parte protuberante da transformação cultural desencadeada na Idade do Bronze por guerreiros aqueus e consolidada pelos dórios no séc. XI a.C. Conquanto não me seja aqui possível explicitar toda essa dinâmica relacional, não significa admitir agora que a cultura patriarcal seja apenas coisa do passado. Pelo contrário, é nesse espaço psíquico que seguimos imersos, a despeito dos elementos gilânicos[6] ou matrísticos[7] que suleiam[8] as dissidências, muitas vezes silenciadas vivas ou mortas por “defender interpretações ligeiramente diferentes”[9] (HARARI, 2018, Part Three, 12., p. 7).

A evocação dessa cronologia faz-se necessária porque nos ajuda a identificar, no tempo e no espaço, a antroposfera[10] inaugural da atividade hermenêutica, que vem sendo reconfigurada ao longo dos tempos até nossos dias (ELIADE, 1978, p. 109). Sabemos, por exemplo, que, no “crepúsculo do século VII [a.C. a civilização grega ingressa] numa nova era, em que a razão prevalece sobre o mito” (NAY, 2007, p. 18). E essa é apenas uma das circunstâncias históricas que pode nos conduzir à hipótese de que, pelo menos a partir do período arcaico grego, o deus Hermes tivera de se reinventar, a fim de emular com a razão.

É certo, como pontua Eisler (2007, p. 91), que os marcos temporais exatos “de começo e fim do período micênico em Creta e a forma como o processo ocorreu são questões bastantes controversas”. Essa polêmica, porém, escapa aos propósitos deste estudo. Aqui, o que importa fixar é que a emergência de Hermes na cultura helênica só pode ter ocorrido a partir do séc. XV a.C., depois da queda da civilização minoica cretense, desencadeada pelos aqueus indo-europeus, fautores da cultura micênica, mais adiante defenestrados por semelhantes tribos pastoris dóricas.

Antes do processo migratório indo-europeu a que se reporta a arqueóloga Marija Gimbutas (GIMBUTAS, 2004; 1982),[11] as sociedades pré-micênicas, provavelmente, desconheciam deuses masculinos, como Hermes, tampouco vorazes, violentos e guerreiros. Seja como for, há evidências arqueológicas de que os colonos neolíticos adoravam uma Grande Deusa (feminina), e não um Deus ou deuses (masculinos). Essa prova existe, hoje, documentada. Por isso, segundo Eisler (2007, p. 74), “A descoberta da Creta minoica (assim batizada pelos arqueólogos por causa do lendário rei Minos) [...] caiu como uma bomba”.  

Há quem sustente que, ao falar de uma suposta “raça dourada”, em Os trabalhos e os dias, Hesíodo estaria fazendo referência à civilização cretense pré-micênica[12]. Um fragmento do aludido papiro realmente sugere que helenos da raça de ouro hesiódica: 

como deuses viviam, o coração sem cuidados, sem contato com sofrimento e miséria. Em nada a débil velhice estava presente, mas, sempre iguais quanto aos pés e às mãos, alegravam-se em festins, fora de todos os males, e morriam como que vencidos pelo sono. Tudo o que é bom possuíam: a terra fecunda produzia seu fruto espontaneamente, muito e de bom grado. Eles, voluntária e tranquilamente repartiam os trabalhos, tendo bens abundantes. (HESÍODO, 2012, p. 73) 

E essa descrição, coincidentemente ou não, aproxima-se bastante das descobertas efetivadas pela nova arqueologia, dois mil e setecentos anos depois. Como antecipei há pouco, estudos científicos realizados nos sítios arqueológicos de Cnossos (Creta) e de Çatal Hüyük (Turquia), com base em técnicas de datação disponíveis a partir do séc. XX d. C.,[13] sugerem que, enquanto durou o padrão cultural minoico de organização social nas sociedades agrícolas do neolítico, prevaleciam as relações humanas centradas na cooperação e harmonia.

Então, possuindo tudo o que é bom, esses povos neolíticos talvez não tivessem mesmo motivo para se preocupar com a morte, porque muito prezavam o viver, ainda que com sofrimento, opressão e miséria, porque conviviam em igualdade de condições, compartilhando riquezas e os abundantes frutos espontâneos da terra. E não é desse modo que Hesíodo passa a descrever a suposta raça de bronze, referindo-se, provavelmente, aos aqueus, que dominaram a Grécia pré-homérica até a devastadora incursão das tribos dóricas, por volta do séc. XII a.C.

Segundo narra o próprio Hesíodo (2012, p. 77), a raça brônzea de homens mortais, “nascida de freixos, terrível e vigorosa; eles se ocupavam dos funestos trabalhos de Ares e de violências, e trigo não comiam, mas tinham um coração impetuoso, de aço. Eram toscos; […]. Suas armas eram de bronze, […], trabalhavam com bronze: negro ferro não existia”. Ares, como sabemos, era o impiedoso e agressivo deus da guerra no panteão olímpico, também composto por Hermes, que, na condição de arauto do dodecateão, estava incumbido de repercutir suas mensagens aos humanos ou vice-versa.

Mesmo que a provável raça de ferro renegada por Hesíodo tenha durado pouco, por conta da selvageria dórica posterior, há notícia de que houve pelo menos uma assimilação parcial entre a cultura cretense e a dos bárbaros aqueus, de modo a ensejar a formação de uma cultura híbrida do tipo minoico-micênica. Conforme noticia Eisler (2007, p. 75): 

Na ilha de Creta, onde a Deusa ainda reinava suprema, não havia sinais de guerra. Ali a economia prosperava e as artes floresciam. E mesmo quando no século XV a.C. a ilha finalmente caiu sob a dominação dos aqueus (período que os arqueólogos chamam de cultura minoica-micênica [sic]), a Deusa e o modo de pensar e viver que ela representava aparentemente se mantiveram.

Sob a influência minoica anterior, os novos senhores indo-europeus da ilha parecem ter adotado muito da cultura e religião minoicas. O mesmo aconteceu na Grécia continental, que também entrou no período Micênico. 

Sim, a alusão à Grande Deusa, em alguma medida acolhida pelos aqueus, é deveras bastante sugestiva, porque nos mostra um relevante contraste entre a mitologia praticada na Hélade pelos povos indo-europeus e a religião cultivada por sociedades agrícolas do Neolítico em várias regiões do globo. Segundo Eisler (1987, p. 21, tradução livre): 

Uma provável explicação para essa formidável unidade religiosa pode derivar da hipótese de a Deusa ter sido adorada originalmente em todas as sociedades agrícolas antigas. Há evidências de divinização da fêmea - que, por sua natureza biológica, dá à luz e sustenta seus filhos, exatamente como a Terra - nos três centros principais que originaram a agricultura: Ásia Menor e Sudeste Europeu, Tailândia e Sudeste da Ásia, e mais tarde também na América Central. 

No domínio da religião, portanto, ao menos até a destruição das culturas pré-patriarcais europeias pelos dórios, a cuja estirpe o poeta Hesíodo (2012, p. 81) envergonhara-se de ter pertencido, o normal era o culto às divindades femininas ou, como se queira, à Deusa Mãe da Natureza ou do Universo. O novo normal, por conseguinte, surge com a imposição de culturas pastoris patriarcais e seus deuses masculinos, irascíveis e opressores, nos territórios saqueados e dominados, sob o comando de sacerdotes guerreiros, culminando com a chamada “Idade das Trevas”, que se estenderá até o séc. VIII a.C.

Após quatrocentos anos sob a escuridão dórica, na aurora do séc. VII a.C., como já antecipei, finalmente tremeluziram sobre a Grécia arcaica os primeiros raios da razão filosófica. Sem embargo, a mitologia grega oficial, de cujo panteão Hermes era peça-chave, com sua astúcia, inteligência e sabedoria interpretativa, “em seus aspectos fundamentais, era uma religião assujeitadora: Zeus impõe e assegura sua supremacia através de atos de crueldade e barbárie, incluindo muitos estupros de deusas e mortais”[14] (EISLER, 1987, p. 117, tradução nossa). 

O humanismo chegava a ser aprovado, e mesmo ocasionalmente admitido, pelos homens que governavam a Grécia Antiga. Mas só isso, nem um passo a mais. Nesse sentido é muito revelador examinar o estranho e mais perturbador dos eventos pessoais da Grécia Clássica: a sentença de morte imposta ao velho e aparentemente inofensivo filósofo Sócrates. Quais eram as ideias “radicais” pelas quais até mesmo um grande filósofo como Sócrates teve de ser condenado à morte por “corromper” a juventude ateniense? Eram justamente ideais que continham heresias gilânicas – como a educação para as mulheres e uma noção de justiça que desafiava frontalmente o pressuposto androcrático de que “o poder faz a justiça”. (EISLER, 2007, p. 178-179)  

A democracia grega surge na última década do séc. VI a.C., por obra do aristocrata Clístenes, que, depois da deposição de Hípias, filho de Psístatro, o golpista e fundador do regime tirânico levado a efeito em 546 a.C. contra o arconte Sólon, dera curso às reformas iniciadas por Drácon e Sólon entre 621-545 a.C. Sem embargo, a alentada democracia helênica, ainda hoje muito celebrada no Ocidente, tal como os novos regimes democráticos contemporâneos, mantivera a mesma visão androcrática cultivada pelos bárbaros indo-europeus, inclusive negando mobilidade social às mulheres e aos escravos.

Sabemos que a história não se reduz a uma sucessão linear de acontecimentos ou sequência de mudanças ao longo do tempo. A breve revisão proposta até aqui mostra que a história humana é intrinsecamente não linear, porque formada de progressos e retrocessos que acabam desencadeando transformações muitas vezes inesperadas. É certo que não há história ou evolução sem mudança; todavia, no frigir dos ovos, o que conta não são as mudanças em si, mas sim o que se conserva no processo de transformação em que essas mudanças ocorrem. Estritamente, falamos de um fenômeno histórico “quando fazemos referência a um suceder recursivo de contínuas mudanças mirando em algo que se conserva”[15] (DÁVILA; MATURANA, 2019, tradução livre).

 

1.1 Implicações bioculturais da atividade interpretativa              

Numa primeira aproximação de seu conceito médio de hermenêutica, partindo do tradado Da Interpretação de Aristóteles (2013), Ricoeur (1965, p. 29-31), por exemplo, argumenta que, entre os antigos, a interpretação era associada à semântica da proposição declarativa, que servia de prolegômenos à lógica da argumentação, centrada na veracidade ou falsidade das proposições. Interpretar, no sentido completo e forte do termo, significava “dizer algo de algo”[16].

Num segundo momento, a hermenêutica se volta para os textos, particularmente os bíblicos, e se converte na ciência das regras exegéticas, valendo ressalvar, porém, que, na Idade Média, a noção de texto transcendia a forma escrita para considerar a Natureza como um grande livro, motivo pelo qual os medievos falavam de “interpretatio naturæ”. Para Ricoeur (1965, p. 33), não resta dúvida de que a hermenêutica exegética, em grande medida, constituíra-se num domínio de interpretação das Sagradas Escrituras, mas limitada por alguns fatores, como a referência a uma autoridade (monárquica, eclesiástica) e o fato de privilegiar textos escritos[17].

Essa compreensão ricoueriana do fenômeno hermenêutico muito se avizinha da de Gadamer (1998, p. 95-96), na proporção em que este argumenta que, sobre a interpretação, apesar de significar, geralmente, num sentido neutro, “enunciação de pensamentos”, é relevante o fato de Platão evitar o uso do vocábulo hermeneia para evocar qualquer manifestação de ideias, restringindo sua aplicação ao saber próprio duma autoridade, expressando nesse sentido o caráter de um mandamento. 

[...] sem dúvida, a "hermenêutica" como arte ainda conota a origem ancestral da esfera sagrada: é a única arte cujo oráculo deve ser considerado decisivo ou acolhido com admiração porque pode compreender e expor algo que é reservado: a discurso estranho ou mesmo a opinião não expressa de outra pessoa. É, portanto, uma ars, como oratória ou a arte da escrita ou aritmética: mais uma habilidade prática do que uma “ciência”. (GADAMER, 1998, p. 96, tradução nossa) 

Outrossim, talvez não constitua demasia registrar que, mesmo sob uma ótica mais psicologizada, a filosofia do martelo de Nietzsche, já na ebulição epistemológica do séc. XIX, nos abria uma tremenda clareira no espaço hermenêutico, associando a interpretação à vontade de poder, ao propor que “La interpretación, en realidad, es un medio de adquirir el dominio de una cosa (El proceso orgánico admite continuamente el ‘interpretar’)”[18] (NIETZSCHE, 2006, p. 430).

Trata-se, com efeito, de uma maneira peculiar de conceber a hermenêutica, na medida em que parece entregar menos do que promete. Entendo, porém, que a carência é apenas aparente. Estritamente, o olhar nietzschiano conduz a interpretação a seu devido lugar no espaço relacional do Pensamento Hermenêutico (PH), ao concebê-la como uma potência ou capacidade in fiere (meio orgânico) de submeter (dominar) algo (coisa), porque traduz precisamente a dinâmica patriarcal intrínseca ao ato de interpretar. E a história parece evidenciar essa hipótese.

A despeito de ter sido alvo de multivariadas distinções, ao ser rotulada de arte, ciência (ermēneutikē), compreensão, declaração, enunciação, esclarecimento, exegese, explicação, exposição, mediação, proposição, técnica, tradução, voz[19], a exegese segue tendo, atualmente, íntima relação com o deus olímpico Hermes, tanto que, segundo propõe Grondin (2008, p. 22; tradução livre): 

[...] deriva do verbo grego hermeneúein, que tem dois significados importantes: designa tanto o processo de proferir (enunciar, dizer, afirmar algo) quanto o da interpretação (ou tradução). Em ambos os casos, sugere uma transmissão de significado, que pode ocorrer em duas direções: pode (1) passar do pensamento para o discurso, ou (2) subir da fala ao pensamento. Hoje só falamos de interpretação para caracterizar o segundo processo, que ascende do discurso ao pensamento que o sustenta, mas os gregos já pensavam na elocução como um processo "hermenêutico" de mediação de significados, que então designa a expressão ou tradução do pensamento em palavras.[20] (grifos nossos; tradução livre) 

Podemos antever, portanto, que a noção de interpretação é tão controversa quanto a teografia[21] do mito que a evoca[22]. De toda sorte, talvez outro não tenha sido o motivo pelo qual a cultura ocidental, quiçá estimulada pelas ideias de Platão e seus epígonos, resolveu assimilar o ato de interpretar com logos, (λόγος), signo usado não só para evocar linguagem, fala, palavra, comunicação, razão, o que não é compreendido enfim, mas igualmente com o próprio mensageiro dos deuses e patrono dos ladrões[23]. Decerto, não por mera coincidência, Logos também foi o epíteto atribuído “pelos primeiros Padres da Igreja a Cristo”[24].

Seja como for, apesar da ruidosa relação dessa divindade pagã com a arte de interpretar[25], prevalece no Ocidente o entendimento de que hermenêutica (χερμένêωτικά) tem tudo a ver com interpretação, sobretudo em virtude das habilidades linguísticas associadas a Hermes. Eliade (1978, p. 109) sugere que “seus atributos primordiais [...] serão continuamente reinterpretados e acabarão por fazer de Hermes uma figura cada vez mais complexa, [...]”; todavia, continuará sendo, “necessariamente, também o intérprete, se não ‘o tradutor’ dos deuses”[26] (ZORE, 2008, p. 385).

Nessa mesma pegada, o professor Franci Zore (ZORE, 2008, p. 381 e 385, tradução livre e grifos nossos), busca alertar que a hermenêutica, para mais de transbordar os diques filosóficos, no espaço mesmo da filosofia, pode implicar várias coisas,[27] dependendo da deriva histórica e do aspecto de seu conteúdo, sendo extremamente amplo o horizonte de compreensão de Hermes, um vetusto deus com raízes no período pré-homérico. O esforço para compreender o mundo é, obviamente, mais antigo do que a própria filosofia e, pelo menos de Platão em diante, testemunhamos a prática da interpretação filosófica de textos, com a própria questão da compreensão humana individual já sendo interrogada[28] (grifos nossos).

De fato, Platão “é a primeira evidência de intérprete dos pensamentos de seus antecessores, e até mesmo da poesia” (ZORE, 2008, p. 381, N. A. 1) – mas não só isso, digo eu. O Pai da Academia, mesmo tendo inventado suas próprias narrativas, a exemplo do famigerado mito da caverna,[29] mostrou-se implacável triturador de adversários, no campo das ideias[30], e de alegorias alheias, no domínio simbólico, notadamente as narradas pelos poetas que lhe precederam: Homero, Hesíodo etc.[31].

De qualquer modo, o que de fato importa é sabermos, hoje, que tanto quanto os neolíticos, antigos, medievos, renascentistas, também os modernos, pós-modernos e quejandos cultivam seus mitos[32]. O deus Hermes, por exemplo, tendo resistido à irrefreável hipertrofia do cristianismo na Europa latina,[33], [34] em particular, esteve em evidência até o séc. XVII. A rigor, narrativas míticas não são, portanto, formas inferiores de pensamento, tampouco meras lendas ou fabulações indignas do valor de verdade, tal como propunha a filosofia inaugural (CHAUÍ, 2000, p. 204).

Na realidade, para o Homo sapiens, o pensamento simbólico, centrado na bricolagem, independentemente da forma que tenha assumido ao longo dos tempos, sempre se mostrou imprescindível ao desenvolvimento da espécie, se admitimos que “a cooperação humana em grande escala é baseada em mitos”[35] (HARARI, 2018, Part One, 2., p. 15). O que sucede é que “cada civilização propende a superestimar a orientação objetiva de seu pensamento, tendência jamais ausente”[36] (LÉVI-STRAUSS, 1962, p. 2, tradução livre, grifos nossos). Por orientação objetiva, leia-se realidade transcendente.

Estritamente, muito antes de converter-se num tema filosófico oriundo da exegese bíblica moderna, encontrando sua forma articulada nos contornos da hermenêutica filosófica de Schleiermacher e Gadamer[37] (ZORE, 2008, p. 381, tradução livre), a interpretação não encerrava senão um autêntico mito ou, mais precisamente, uma realidade imaginada (“imagined reality”)[38], que não chega a ser uma distorção do real, uma ilusão, uma mentira, mas algo em que a generalidade das pessoas acredita e que exerce influência no mundo, enquanto a crença segue sendo partilhada nas redes de conversações.

É certo que a humanidade supõe que “interpreta” há pelo menos 2,4 milênios. E este período supera o dobro do tempo durante o qual prevaleceu o teocentrismo de Cláudio Ptolomeu, até que sobreviesse o De revolutionibus orbium coelestium de Nicolau Copérnico (COPERNICI, 1543). Essa circunstância, de fato, aparenta certa dificuldade à minha tarefa de negar viabilidade explicativa à interpretação; primeiro, porque os equívocos epistemológicos são viscosos, como diria Bateson; segundo, devido ao fato de que, em regra, toda transformação é lenta, tal como o giro copernicano que, tendo ocorrido em 1543, amargou pelo menos 150 anos para sobrepujar o Almagesto ptolomaico[39].

 

1.2 Algumas consequências históricas do modo humano de interpretar 

Neste momento, portanto, as únicas certezas que me restam são as de que: (1) não tenho sobrevida suficiente para experimentar alguma virada de enfoque nesse tema, porém, para meu gáudio, (2) não serei condenado a arder nas chamas de uma sagrada fogueira. É que, se vivenciássemos o final do séc. XVI e início do XVII, não estaria tão certo disso, pois, nesse período, como sabemos, tal qual hoje na interpretação, a crença no teocentrismo era tão arraigada e difusa que, por desafiá-la, em 1600, o frade dominicano Giordano Bruno foi queimado vivo pela Igreja Católica[40].

Fim trágico também reservado a Galileu Galilei, 33 anos depois, se não tivera, de joelhos, diante da Santa Inquisição, renegado suas convicções em troca de uma prisão perpétua domiciliar.[41] Cumpre, porém, registrar, por oportuno, que os cristãos também foram vítimas desse modo de vida de raiz indo-europeia. Com efeito, até a conversão do imperador romano Constantino Magno, lá por volta do séc. III d.C., a cristandade sofreu milhares de baixas, por conta das perseguições perpetradas pela Roma politeísta do deus Mercúrio.[42]

Paradoxalmente, entretanto: “Os cristãos, por sua vez, ao longo dos quinze séculos seguintes, assassinaram cristãos aos milhões por defenderem interpretações ligeiramente diferentes da religião do amor e da compaixão” (HARARI, 2017, p. 223-224, grifos nossos). Sem embargo, em algum momento, vale anotar, a Santa Sé veio a público pedir perdão por alguns desses equívocos: 

A lista de erros pelos quais João Paulo 2º se desculpou durante seu pontificado é extensa, incluindo as cruzadas, ditaduras, iniquidades cometidas contra as mulheres, os judeus, as guerras (incluindo as de religião), excomunhão de religiosos reformadores como Lutero, João Calvino, Ulrich Zwingli e Jan Hus, o tratamento aos negros e as violências cometidas contra os índios da América.
Ainda entraram na lista de erros pelos quais pediu perdão as injustiças, a Inquisição, o integralismo, o Islã, o racismo, os crimes em Ruanda, o cisma do Oriente, a história do pontificado e inclusive pelas responsabilidades dos católicos dentro das máfias e pelos erros cometidos contra a China (JOÃO..., 2005). 

Finalmente, também, o erro perpetrado contra o Pai da Ciência foi declarado formalmente, em 1992 – há, portanto, trezentos e cinquenta e nove anos de sua condenação, depois que um colegiado eclesiástico, instituído pelo Papa João Paulo II, em 1981, reconheceu o equívoco da Santa Inquisição. O Vaticano, de fato, resolveu fazer um mea-culpa para reabilitar Galileu. “Em discurso de 13 páginas lido na Sala Régia do Palácio Apostólico, o papa João Paulo II o qualificou de ‘físico genial’ e ‘crente sincero’, ‘que se mostrou mais perspicaz na interpretação da Escritura que seus adversários teólogos” (VATICANO..., 2009, grifos nossos).

Por seu turno, a interpretação que levou Bruno de Nola[43] à fogueira no Campo de’ Fiori segue sem revisão, tal como o sacrossanto decreto estabelecido em 1545, na IV Sessão do Concilio de Trento, cujo cânone atribui à Igreja Católica o monopólio hermenêutico da Bíblia, ao declarar que ninguém, confiando em seu próprio discernimento, deve atrever-se a interpretar as Sagradas Escrituras nos assuntos da fé e dos costumes pertencentes à edificação da doutrina cristã, de modo a contradizer o sentido fixado pela Santa Mãe Igreja, a quem cabe determinar o verdadeiro significado e interpretação da Bíblia Sagrada[44] (CONCILIO DE TRENTO, 1564, p. XXI-XXII, grifos nossos).

Há, evidentemente, muitos outros indícios relevantes, sinalizando a existência dessa sanha patriarcal pela apropriação do saber (sagrado ou profano), da verdade, pelo absoluto controle do conhecimento e, enfim, pelo submetimento do outro aos interesses religiosos, políticos, econômicos e ideológicos do establishment de ocasião, dentre os quais posso destacar o Index Librorum Prohibitorum, instituído em 1559 pelo Papa Paulo IV, em cujo temido catálogo a Madre Igreja Católica lançou nomes de célebres poetas, escritores, cientistas e filósofos, proibiu a leitura e mandou queimar suas obras a pretexto de interpretarem mal a realidade (Cf. QUAIS..., 2014).

Na Europa, antes da invenção de Gutenberg, em 1440, o controle episcopal romano sobre a edição e difusão das ideias era praticamente absoluto. A hierarquia católica, além de monopolizar o processo educativo medievo, que florescia às sombras de catedrais e monastérios, tinha acesso e poder de censura sobre praticamente toda produção intelectual por intermédio dos monges copistas, exímios reprodutores de livros em pergaminho, cujas cópias se convertiam na fonte básica e formal do conhecimento da época.

De fato, apesar da invenção da imprensa no séc. XV, da Revolução Científica a partir do séc. XVI, a relevância do raciocínio experimental apenas aflorou nos albores da Revolução Industrial na segunda metade do séc. XVIII, quando definitivamente o mundo externo à natureza humana foi convertido em objeto de conhecimento. Antes, já o vimos, a verdade já se encontrava selada nos textos sagrados ou então consagrados pela doutrina cristã. E o suposto mecanismo para acessá-la não era outro senão a exegese, a hermenêutica, como muito bem o fizeram os homens da Renascença com auxílio de suas técnicas interpretativas[45].

O Doctor Gratiæ Agostinho de Hipona (2010, p. 267-268), na sua tentativa de travar uma aliança com Deus, efetivamente reforça essa ilação, ao declarar em suas Confissões que: “[…] nadie más que Tú es doctor de la verdad allí donde y desde donde ésta brille”[46]. No fundo, fatos históricos como esse mostram duas coisas interessantes: primeiro, a verdade é sempre dependente de quem a distingue;[47] segundo, as transformações culturais, mesmo que tardem, acabam acontecendo. Essa é, porém, uma ínfima mostra do caráter potestativo, normativo e autoritário da interpretação.

Não há dúvida de que até mesmo os primeiros filósofos gregos, que foram além dos pronunciamentos morais para alcançar as realidades política e social do modo de vida androcrático, em cujo domínio, tanto então como agora, os homens provam que estão certos por sua capacidade de intimidação[48] (EISLER, 1987, p. 117-118, tradução livre), disso já o sabiam. Vale considerar, porém, que o “então como agora” dos filósofos pré-socráticos (ainda que alguns deles tenham sido contemporâneos de Sócrates e Platão)[49] tem a ver com uma análise retrospectiva ao séc. V a.C., inclusive.

Embora o contexto atual não demande qualquer ressalva especial ao recorte histórico que acabo de trazer a lume, assinalo que escapa à pretensão deste estudo pôr em causa a reputação do pensamento cristão e, em particular, da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. A propósito, a história que revela as insanidades praticadas pelo catolicismo paulino é a mesma que segue registrando perseguições aos cristãos em várias partes do globo terrestre[50].

Então, insisto, o foco deste estudo cinge-se a desvelar a crua índole da interpretação pelo uso que dela se tem feito em vários domínios relacionais, inclusive o místico. O pavor à exegese pode até parecer desmedido, mas não é injustificado. No próprio domínio do PNM, o filósofo Michael Moore (MOORE, 2000b, p. 425) vê com invulgar simpatia a solução anti-hermenêutica proposta por seu colega Michael Devitt, ao sugerir o uso de arma “quando alguém começar a falar sobre ‘interpretação’”[51]. O curioso é que Devitt talvez não tenha se dado conta de que a prevenção recomendada é parte do mesmo arsenal ontológico manejado pelos hermeneutas.

Nossas discussões não se findam nesta parte. Dar-lhes-emos continuidade na parte III. 

Reconhecimentos               

Esta reflexão eclodiu em mim num certo momento da minha adolescência, quando uma professora me convidou a interpretar um texto. A perplexidade que me abateu naquela fatídica situação de aprendizagem foi tão dramática que segue acesa depois de quatro décadas. Felizmente, outro professor me ajudou a perceber que nada é um recurso ou uma oportunidade se não o desejamos. Desde então, comecei a me libertar daquele trauma juvenil. A cura veio-me logo que conheci e recebi a atenção e o carinho de Ximena Dávila e Humberto Maturana, em cuja sabedoria ancoro minha presente história. Reconheço, porém, que meu rumo intelectual poderia ter sido outro se não tivesse antes cruzado com a amizade do resiliente jurista e professor Paulo César Busato, que, ao lançar luzes sobre minhas cegueiras culturais, ajudou-me a eleger a rota que me levou à Escuela de Pensamiento del Sur del Mundo.  Se não bastara, nessa deriva cultural, o Dr. Busato também me brindou um amigo e raro exemplar de humanidade, o jurista e professor Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, tão gigante, generoso e humilde quanto o próprio, a quem especialmente dedico esse singelo esforço reflexivo desde o Sertão da Bahia. Por fim, jamais poderia deixar de reconhecer o sacrifício, a compreensão e o apoio da minha família e de meus colaboradores que ajudam a tornar o meu viver edificante e prazeroso.

 

Notas e Referências 

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[1] Sobre essa noção, ver parte I, nota 5.

[2] Idem.

[3] Em alguma parte deste trabalho, mostro que o conflito bélico desencadeado pelo governo russo contra a Ucrânia é coerente com esse processo epigênico cultural. 

[4] Cf. Hesíodo (1995).

[5] Sobre o assunto, anotam Radulović et al. (2015) que “[…] the name of Hermes is recorded in several Mycenaean tablets. His name is written as e‐ma‐a₂ transcribed in Greek as Ἑρμάhας (classical Greek, i.e. Attic contracted form Ἑρμῆς) testifying his old origin which dates back to the Bronze Age. The tables that bear Hermes’ name are the Tn 316, Un 219 both from Pylos, Of 31 from Thebes, D 411 from Knossos.” ([...] o nome de Hermes está registrado em várias tabuinhas micênicas. Seu nome é escrito como e‐ma‐a₂ transcrito em grego como Ἑρμάhας (grego clássico, ou seja, forma ática contraída Ἑρμῆς), testemunhando sua antiga origem que remonta à Idade do Bronze. As tabelas que levam o nome de Hermes são Tn 316, Un 219 ambas de Pylos, De 31 de Tebas, D 411 de Knossos.) (Tradução livre).

[6] Vid. Eisler (1987, p. 105).

[7] Cf. Maturana; Verden-Zöller (2011).

[8] Cf. Freire (1992): Paulo Freire usou o verbo “sulear”, chamando a atenção para a conotação ideológica do verbo “nortear”. Um ano antes o físico brasileiro Márcio D’Olne Campos aplicou o neologismo no texto “A Arte de sulear-se”. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sulear. Acesso em: 18 mar. 2021.

[9] “… to defend slightly different interpretations…”.

[10] Com Ximena Dávila e Humberto Maturana (DÁVILA; MATURANA, 2008, p. 23), entendemos por antroposfera, “al ámbito de coherencias ecológicas donde se realiza y conserva lo humano, que surge con el vivir humano como un modo humano de estar inserto en la biosfera y ser parte de ella. Todo lo que cons­tituye nuestro vivir humano (desde nuestro operar biológico natural hasta las más grandes fantasías de nuestros artificios creativos) es parte de la antropósfera, y como tal es parte de la biosfera. Y todo lo que hacemos y hagamos seguirá siendo parte de la biosfera, del mismo modo como lo es el vivir y la forma de vivir de cualquier ser vivo”.

[11]Gimbutas informa que o processo de invasão e devastação da Europa pré-histórica por tribos pastoris indo-europeias, nômades ou seminômades, iniciou-se por volta de 3.000 a.C., numa sequência de ondas migratórias kurgan provenientes das estepes russas e outras regiões desérticas.

[12] Vid. Eisler (2007, p. 112-113).

[13] Existem diversas técnicas de datação arqueológica, porém as mais utilizadas nesse caso foram a de radiocarbono (1949) e o método dendrocronológico (1929). Sobre o assunto, cf. https://www.greelane.com. Acesso em: 16 mar. 2021.

[14] “The official Greek religion was in key respects a dominator religion: Zeus establishes and maintains his supremacy through acts of cruelty and barbarism, including his many rapes of both goddesses and mortal women.”

[15] “[…] al hablar de historia nos referimos a un devenir de continuos cambios recursivos con la atención puesta en algo que se conserva […]”.

[16] “Dire quelque chose de quelque chose c'est, au sens complet et fort du mot, interpréter.”

[17] “Il est incontestable que le problème de l'herméneutique s'est, pour une grande partie, constitué dans cette enceinte de l'interprétation de l'Écriture Sainte; [...]. Ce qui limite cette définition de l'herméneutique par l'exégèse, c'est d'abord sa référence à une autorité, qu'elle soit monarchique, collégiale ou ecclésiale, comme c'est le cas pour l'herméneutique biblique telle qu'elle est pratiquée à l'intérieur des communautés chrétiennes; mais c'est surtout son application à un texte littéraire; l'exégèse est une science scripturaire.”

[18] Aforismo 636.

[19] Cf. Aristóteles (2010; 2013; 2019); Aquino (2018); Gadamer (1998; 1999).

[20] “El término interpretación viene del verbo griego hermeneúein, que posee dos significados importantes: designa a la vez el proceso de elocución (enunciar, decir, afirmar algo) y el de interpretación (o de traducción). En ambos casos, se trata de una transmisión de significado, que puede producirse en dos direcciones: puede (1) transcurrir del pensamiento al discurso, o bien (2) ascender del discurso al pensamiento. Hoy día sólo hablamos de interpretación para caracterizar el segundo proceso, que asciende del discurso al pensamiento que lo sostiene, pero los griegos pensaban ya la elocución como un proceso «hermenéutico» de mediación de significados, que designa entonces la expresión o la traducción del pensamiento en palabras”.

[21] Refiro-me à descrição histórica de uma divindade.

[22] Sobre o assunto, cf. as professoras doutoras sérvias Radulović, Smirnov‐Brkić e Vukadinović (2015), segundo as quais: “[...] o nome de Hermes está registrado em várias tabuinhas micênicas [linear B]. Seu nome é escrito como e‐ma‐a₂ transcrito em grego como Ἑρμάhας (grego clássico, ou seja, forma ática contraída Ἑρμῆς), testemunhando sua antiga origem que remonta à Idade do Bronze. As tabelas que levam o nome de Hermes são Tn 316, Un 219 ambas de Pylos, De 31 de Tebas, D 411 de Knossos.)” (Tradução livre).

[23]Cf. Zore (2008, p. 384). Para mais informações sobre esse rico mito greco-romano, acesse “THEOI GREEK MYTHOLOGY”. Disponível em: https://www.theoi.com/Olympios/Hermes.html. Acesso em: 15 ago.2021.

[24] Segundo Eliade (1978, p. 110), “Hermes, identificado pelos filósofos como o Lógos, será comparado, pelos primeiros Padres da Igreja, a Cristo.” Com base nesta informação que o professor esloveno da Universidade de Liubliana, Franci Zore (ZORE, 2008, p. 383) argumenta: “in this way, Hermes is placed in the very heart of the origins of European spirit and tradition. Already in the ancient Greek world, the god Hermes was identified with Logos and this identification holds true whether we understand Logos as something that gives sense to what is not understood (seemingly “senseless”) or as the very explanation (gathering the dispersed “non-senses” into sense). It is surely not a coincidence that the Christian mediator between man and the “unknown God” Jesus Christ is also called Logos”. (Dessa maneira Hermes situa-se no coração mesmo das origens do espírito e da tradição europeus. Já no mundo grego antigo, o deus Hermes era identificado com Logos e essa identificação se mantém válida se entendemos logos como algo que dá sentido ao que não é compreendido (aparentemente "sem sentido") ou como a própria explicação (reunindo os "não sentidos" dispersos no sentido). Seguramente não é por mera coincidência que Jesus Cristo, o mediador cristão entre o homem e o "Deus desconhecido", também seja chamado de Logos) (Tradução livre).

[25] Gadamer (1998, p. 95), v.g., participa do debate, afirmando que: “La investigación más reciente (Benveniste) pone en duda que la etimología de la palabra tenga alguna relación con el dios Hermes, como sugiere el uso verbal y la etimología antigua”. Entretanto, ainda segundo o filósofo alemão: “La referencia a Benveniste (41, nota 17a) no puede alterar en nada la cuestión. El testimonio de la tradición pesa mucho, no como un argumento lingüístico, obviamente, sino como una indicación válida del alcance y la universalidad con que debe verse y se ha visto el fenómeno hermenéutico: como «mensajero del pensamiento”. (Id., op. cit. p. 286). Cf. tb. Zore (2008, p. 383): “This etymological relatedness of hermeneutics and Hermes has also been criticized; some are not ready to acknowledge the Olympian roots of hermeneutics, but prefer to relate Hermes to Hermetism”.

[26] “Hermes is, […] necessarily also the interpreter, if not “the translator” of gods.” A propósito, o entendimento de Gadamer (1998, p. 95-96) parece coincidir também com esse ponto de vista. 

[27] “Within the framework of philosophy, hermeneutics can imply several things, depending on the historical aspect as well as on the aspect of its contents, with the horizon of understanding of Hermes being extremely wide”.

[28] “[…] Hermes is a very old god, since he bears traces of the pre-Homeric world. The endeavor to understand the world is of course older than philosophy itself and at least from Plato onwards we are witnesses of the practice of philosophical interpretation of texts,1 with the very issue of individual human understanding already being under question.”

[29] A respeito das consequências práticas dessa alegoria, frequentemente tomada como modelo explicativo do processo de conhecimento humano, cf. PROFESSOR... (2021, intervalo 00:10:52 – 00:11:45).

[30] Cf. Onfray (2008, p. 11). “Por que razão Platão nunca cita Demócrito em sua obra completa, ao passo que todo o seu trabalho pode ser lido como uma máquina de guerra lançada contra o materialismo? Como explicar que nunca se explore a informação dada por Diógenes Laércio que relata o desejo enfurecido do autor do Fédon de destruir num auto-de-fé todas as obras… justamente de Demócrito?” (Id., Ibid., p. 13-14).

[31] Sobre o assunto, cf. Oliveira (2017); Façanha et al. (2016). 

[32] Por todos, cf. Harari (2018).

[33] Sobre a noção de Europa Latina, vid. Lalinde Abadía (1992).

[34] De acordo com Eliade (1978, p. 109): “Hermes é um dos raros deuses olímpicos que não perderão a sua qualidade religiosa depois da crise da religião ‘clássica’ e não desaparecerão quando sobrevier o triunfo do cristianismo. Assimilado a Tot e a Mercúrio, ele conhecerá uma nova voga na época helenística e, como Hermes Trismegisto, sobreviverá, através da alquimia e do hermetismo, até o século XVII”.

[35] “… large-scale human cooperation is based on myths…”.

[36] “Every civilization tends to overestimate the objective orientation of its thought and this tendency is never absent.”

[37] “Hermeneutics is hereby not understood solely as a philosophical strand, originating from the modern biblical exegesis and finding its articulated form in Schleiermacher’s and Gadamer’s outlines of philosophical hermeneutics.”

[38] A noção de realidade imaginada é proposta por Harari (2018, Part One, 2., p. 14).

[39] Sobre a obra de Cláudio Ptolomeu de Alexandria, cf. Mínguez (1995).

[40] Vid. QUEM... (2018).

[41] Cf. Cavalcante (s.d.).

[42] Nome do deus Hermes no panteão greco-romano.

[43] Como também era conhecido Giordano Bruno.

[44] Tradução livre de: “Prætereà ad coercenda petulantia ingenia, decernit, ut nemo suæ prudentiæ innixus, in rebus Fidei, et morum ad ædificationem doctrinæ christianæ pertinentium, sacram Scripturam ad suos sensus contorquens, contra eum sensum, quem tenuit, et tenet sancta mater Ecclesia, cujus est judicare de vero sensu, et interpretatione Scripturarum sanctarum, aut etiam contra unanimem consensum Patrum, ipsam Scripturam sacram interpretari audeat; etiamsi hujusmodi interpretationes nullo unquam tempore in lucem edendæ forent”.

[45] Cf. Durkheim (1995); Onfray (2008).

[46] Tradução livre: […] ninguém mais que Tu [meus Deus] é professor da verdade onde e desde onde quer que esta reluza.

[47] Cf. Maturana (2014, p. 147-198). Sob uma perspectiva heideggeriana, cf. tb. Guimarães (2017).

[48] “The worldview the Sophists bluntly articulated was simply that of the men who ruled Greece—as it is of the men who rule much of the world today. For the Sophists went beyond moral pronouncements to the political and social realities of androcratic life in which, then as now, men prove they are right by their armed might.”

[49] Cf. Onfray (2008, p. 50 e 53).

[50] cf. Os 50 países em que é mais difícil ser cristão em 2022 [online]. [S. l.]:Christianity://www.christianitytoday.com/news/2022/january/perseguicao-2022-paises-igreja-cristao-mortos-evangelho-pt.html. Acesso em 5 fev. 2022.

[51] “These Derridan, Barthian, and Gadamerian slogans create a great deal of sympathy in me for reactions like that of Michael Devitt: 'when someone starts talking about "interpretation'', reach for your gun.'” (Cf. tb. MOORE, 1994).

 

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