Os Papagaios do Direito e a Sociedade dos Poetas Mortos

27/12/2015

Por Luccas Tartuce – 27/12/2015

Não sou um bom aluno, falto muitas aulas, raramente presto atenção e nunca fiz a tarefa de casa. Talvez por isto, me tenham como um estudante incapaz de comentar apropriadamente qualquer assunto que envolva produtividade e métodos de ensino. Mas a verdade é que, justamente por não entrar no clima, consigo ter uma visão clara do que acontece com grande parte dos estudantes de direito.

Cadernos lotados, livros gigantescos, horas de estudo e a matéria na ponta da língua, perfil clássico do aluno nota dez, treinado desde o ensino fundamental para fazer bonito nas provas (de papel) da vida. Todo ano, milhares destes são injetados no mercado, acreditados que, por suas notas, são os mais capacitados para fazer a diferença. O que é uma cruel mentira.

O conhecimento teórico é essencial, mas sozinho não vai longe...O mundo é cheio de notas dez desempregados, pois apesar de muito úteis, este tipo costuma ser descartável, não possuem um diferencial. Como papagaios, foram treinados apenas para reproduzir o que já foi dito. E o pior, eles não têm culpa disto, apenas confiaram em um sistema de ensino ultrapassado, que operando semelhante a uma fábrica, trata todo estudante com a mesma receita: leia, decore, e quando for a hora, repita.

Nas provas, extinguiram o “Na sua opinião” e consagraram o “De acordo com a opinião de três doutrinadores”. Dizem que qualquer livro que não trate de temas jurídicos, é perda de tempo e que ficar na aula, ouvindo o professor ler mecanicamente os slides da matéria, é o caminho para o sucesso. Não dá para esperar muitos pensamentos extraordinários disto.

Se as faculdades realmente quisessem formar pensadores e não papagaios, trocariam os textos arcaicos (e aborrecedores) das aulas de Introdução ao Estudo do Direito, por discursos semelhantes ao do professor Jonh Keating, do filme Sociedade dos Poetas Mortos:

“Não lemos e escrevemos poesia porque é bonitinho. Lemos e escrevemos poesia porque somos membros da raça humana e a raça humana está repleta de paixão. E medicina, advocacia, administração e engenharia, são objetivos nobres e necessários para manter-se vivo. Mas a poesia, beleza, romance, amor... É para isso que vivemos”.

O filme retrata uma escola extremamente rígida, com um método de ensino ortodoxo, que como a maioria das faculdades de direito, acredita que o estudo padrão é a única forma de crescimento. Keating, sendo o novo professor de inglês, procura quebrar estes métodos e ensinar a seus alunos que aproveitar a vida é a verdadeira chave para o amadurecimento.

A obra só popularizou a expressão carpe diem, como expôs o paradigma do aluno estudioso e dedicado, mas incapaz de compreender as sutilezas da vida. E no direito, mais do que em qualquer outra área, o sucesso depende desta capacidade. Por isto, o aluno deve sim dominar a teoria técnica do meio, mas também desenvolver seu emocional, sua capacidade de entender e lidar com as pessoas e principalmente, se sensibilizar com as situações do seu cotidiano e não as tratar como questões semelhantes às dos seus livros.

Isto só é possível quando abandonamos a ideia ingênua de que nos privando da vida em prol do estudo, estamos nos preparando para o sucesso. Ir ao bar, fazer novos amigos, ler poesia, amar e contestar o padrão colaboram com o seu crescimento de uma forma que nenhuma doutrina é capaz, pois é aproveitando os nuances da vida que crescemos e nos tornamos dignos de alcançar nossos objetivos. Não deixe que a mochila cheia, torne sua mente vazia.

Quando você pensa que conhece alguma coisa, você tem que olhar de outra forma. Mesmo que pareça bobo ou errado, você deve tentar! – Sociedade dos Poetas Mortos


Luccas Tartuce .

Luccas Tartuce é Bacharelando em Direito pela PUC-GO. Futuro advogado criminalista. Apaixonado por literatura e Membro do Instituto Paramaçonico de Estudos e Pesquisa.

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Imagem Ilustrativa do Post: Robin Williams, painted portrait _DDC1289 // Foto de: thierry ehrmann // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/home_of_chaos/15154092958

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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


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