Os financistas e eu, sim; o inglês comum, não – Por Léo Rosa de Andrade

29/06/2016

O mundo, para os europeus, era basicamente a Europa. O mais não existia. Sabe-se de algumas aventuras por “outras terras”, mas o obscurantismo que lá medrava trazia uma explicação religiosa que limitava o planeta ao derredor do Mediterrâneo. Depois de certos limites haveria os precipícios do fim do “prato”.

A Terra nem era um planeta; era o próprio Universo. Acreditava-se que fosse o centro do mundo; todo o mais não contava. A Europa, pois, não era exatamente o cerne geopolítico dos povos, mas o princípio, o meio e o fim de tudo o que existia.

As grandes navegações evidenciaram outros fatos. As Grandes Descobertas, as ocorrências novas, as narrativas dos viajantes permitiram a reinterpretação das coisas. Poucas pessoas, contudo, compreenderam que o pensamento dominante estava errado. O assentado na mentalidade das gentes, no geral, permaneceu.

Se as navegações revelaram os cafundós da Terra, a Europa tomou a revelação para fazer negócios e expandir religião. Os poderosos europeus foram se estabelecer com seus interesses por todos os lugares possíveis.

Começou a era da Colonização. O que se encontrasse, terra ou gente, era posto em submissão a famílias “reais”, a negociantes, à religião católica. No seu auge, Portugal e Espanha dividiram as descobertas. Depois a Inglaterra orgulhou-se de um império tão vasto que nele o sol jamais se punha. Isso veio até a metade o século XX.

As barbaridades das duas Guerras Mundiais espantaram a humanidade. As nações perceberam a necessidade de instituições internacionais intermediarem politicamente as diferenças, os interesses, os encaminhamentos civilizacionais.

As guerras “discutiram” territórios, ideologias, dinheiro. Os conflitos acabaram, mas o mundo continuou territórios, ideologias, dinheiro. Se já não se aceitava que estados saíssem ocupando territórios alheios, o mesmo não se pensava a respeito de alinhamentos ideológicos e de expansão de empresas.

Começou a Guerra Fria. Os Estados Unidos da América fomentaram e sustentaram ditaduras em nome da liberdade. A desfeita União das Repúblicas Socialistas Soviéticas expandiu-se como ditadura em nome da igualdade.

Formaram-se dois blocos. Num e noutro os países mais poderosos continuaram se impondo aos demais: ditando normas internacionais, fazendo incursões militares, estabelecendo empresas comerciais. Os “argumentos” eram mais comerciais, ainda que não faltassem invasões territoriais em nome da paz.

A Europa foi a protagonista e a maior vítima das guerras. Alguns países europeus deram inícios a acordos comerciais que se desenvolveram para união aduaneira e depois de trânsito livre de pessoas.

Daí à União Europeia, cerca de meio século. Um avanço civilizatório e de importância geopolítica maior que o dado pelos treze estados americanos que formaram os EUA. Mas penso que foi cometido grave erro. Alguns países europeus cresceram espoliando outros. Por isso, ou apesar disso, alcançaram um patamar distinto.

A Europa liberal e próspera acolheu países saídos de ditadura e economicamente claudicantes, além de culturas demasiado diversas. Isso trouxe desdobramentos que geraram custos altos e problemas de difícil solução.

Exemplo: Portugal, Espanha e Grécia eram ditaduras. Milhares de apaniguados pendurados na conta do Estado; educação e produtividade baixas. Sua economia prosperou enquanto a União investia; depois, desastre. Então, migração buscando países economicamente fortes além da capacidade de assimilação.

Exemplo: Turquia. Outro modo de encarar as liberdades civis, as relações de gênero, enfim, os valores da Tradição Ocidental. Culturas islâmicas são fortes, fechadas, reativas. Para onde vão, é comum formarem guetos.

A Inglaterra estava na União com restrições (manteve a moeda). Os ingleses não deram conta da coisa. Grandes empresas, interesses internacionais, financistas europeus queriam a permanência. O povo, disputando trabalho e hostilizado por mentalidades religiosas estranhas, decidiu pela recusa.

A União Europeia voltou-se preferencialmente para os negócios, relegou a realidade cultural da população. Entendo o desempregado ou a mulher inimistada por um estrangeiro em seu próprio país. Eu votaria sim; o inglês comum, não.


 

Imagem Ilustrativa do Post: Youth on the Move - Lisbon // Foto de: DG EMPL // Sem alterações

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