Obrigado Calero, valeu – Por Léo Rosa de Andrade

30/11/2016

Nesse combo que incluía Dilma e Temer, jamais vislumbrei qualquer coisa que não fosse o Brasil de sempre, salvo o fato de a presidenta não ser do ramo, não entender do métier, não dar conta do recado.

Dilma foi tirada do bolso do colete de Lula e vendida à nação como uma “gerentona”. Nossos políticos nos fazem esse malefício: negam-se como tal; de tanto tantos não prestarem, escondem-se de sua condição.

O impeachment, esse ajuste de sócios desacertados, nos foi o mal menor, não porque Temer sucedeu Dilma, mas porque Dilma foi sucedida, e só. O Brasil estava agoniado; a desgovernança não podia perdurar.

A História do Brasil caiu no colo de Temer. Ainda que assim tenha ocorrido não por grandezas dele, mas apesar dele mesmo, o presidente deveria ter-se esforçado para se fazer à altura da expectativa nacional.

Temer nunca foi a expectativa nacional, mas a esperança da Nação deveria ter sido compreendida pelo presidente. Deu-se-lhe até crédito: o viés de baixa da economia, da confiança externa, da e do moral foi interrompido.

Mas não. Temer não compreendeu o seu tempo, ou o tempo do Brasil. Como se a nação fosse segregada, compôs um ministério sem negros; como se o machismo fosse possível, excluiu as mulheres do governo.

E recomeçou lá com os nossos maus costumes. Cedeu em coisas essenciais, agradou corporações, contemplou companheiros. Declarou corretamente a que viria, nunca mostrou compromisso com o declarado.

Agora a República está em causa com um apartamento. O governo brasileiro está entravado porque alguém comprou um imóvel em estado ilegal e quer contornar normas por meio de jeitinhos indevidos.

Temer deveria ter noção das medidas da História. Trata-se de um político bem formado intelectualmente, de larga experiência de poder. Seja: conhece o que o País necessita e sabe o caminho das pedras.

O presidente admite duas conversas com um de seus ministros sobre reclamações de outro e recomendação de que a AGU avaliasse juridicamente a querela. Ora, que falta de escrúpulos! Isso lá é função de chefe de Estado?

A idade de 76 anos limita muito, mas permite muito. Temer, na sua idade, no lugar onde está, não deve nada para ninguém; em sendo devedor só da Pátria, deveria ir no encalço de quitar essa sua única obrigação.

Não lhe faltaria apoio para propor o certo e pelejar pelo certo. Mas os vícios nossos se atravessaram, e o homem se apequenou, ou se mostrou pequeno. Temer está menor do que suas grandiosas obrigações.

A grandeza não lhe veio, nem com a formação, nem com a experiência, nem com a idade, nem com o cargo. Temer está aí, exposto, arranjando interesses junto a um ministro que, não sendo raso, demitiu-se.

A transição, que deveria ser meio e fim de uma tarefa altiva, está ordinária. O ministro demissionário explicitou, com sua atitude, as questões menores de que se ocupam os elevados próceres da República.

Esse foi um dos gestos mais importantes dos nossos últimos tempos de vida pública: a decência pessoal de alguém que, num tempo de ávidos por cargos, em não sendo corrupto, simplesmente discorda e se vai.

Por outros motivos que não os da grita lulopetista que não se conforma, faço coro com os que dizem fora Temer. E cá neste pequeno espaço queria contribuir para inscrever o nome de Marcelo Calero entre os que prestam.


 

Imagem Ilustrativa do Post: _MG_7212 // Foto de: Ministério da Cultura // Sem alterações

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