Estamos vivendo a Era da tecnologia e isso é uma situação inevitável. Não temos como claudicar diante da realidade em que vivemos onde qualquer pessoa no meio da rua é um potencial difusor de notícias, informações, imagens e vídeos. Estamos sendo vigiados por tudo e por todos. O Big Brother, fruto da imaginação de um novelista, é real, presente e sentido. É quase impossível encontrar um residente citadino que nunca tenha visto a famigerada frase: “Sorria, você está sendo filmado!”. Estamos sendo monitorados 24 horas por dia.
A película Show de Truman retrata um enredo envolvente e emotivo. Raro encontrar um telespectador que não se sensibilize com a vida de Truman Burbank, um homem que tem sua vida devassada em todos os momentos de sua existência, desde o nascimento até a vida adulta, e nem imagina que está vivendo uma vida simulada e interpretada por atores e atrizes, todos contratados por um programa da televisão, transmitido 24 horas por dia para bilhões de pessoas ao redor do mundo, um verdadeiro Reality Show. Em certa ocasião, Truman começa a suspeitar de tudo o que ocorre ao seu redor e passa a tentar descobrir o que está ocorrendo com sua vida.
A cidade em que Truman vive é Seahaven, que em tradução literal quer dizer paraíso do mar. Esta cidade é cenográfica, constituindo-se em um cenário completo com um enorme domo (galpão) e habitada por atores, diretores e a equipe do programa, permitindo que o diretor-geral do programa, o Sr. Christof - qualquer semelhança com o nome de Cristo não é mera coincidência - controle todos os aspectos da vida de Truman, até mesmo o clima. Os obstáculos que surgem para atrapalhar Truman a descobrir a realidade são manipulados por Christof que usa como artifícios para conduzir Truman e sua personalidade. Para moldar o comportamento de Truman, Christof encena "matar" o pai de Truman em uma tempestade no mar, criando, dessa forma, um medo de água na personagem principal. Entretanto, apesar do controle, Truman começa a reparar coisas entranhas e passa a se comportar de maneiras inesperadas, em particular se apaixonando por uma figurante, Sylvia, em vez de Meryl, a atriz que deveria ser sua esposa.
O juiz americano Cooly, em 1873, definiu privacidade como o direito de não ser incomodado de ficar em paz, de estar sozinho sem ser importunado. Os americanos chamam de right be alone.
Faz-se mister também relacionar os nomes de Samuel D. Warren e Louis D. Brandeis como verdadeiros estudiosos do assunto, inclusive, desempenhando um estudo que exclamava surgir dos adventos comerciais uma nova forma de violar o ser humano e seus direitos.
Nossa Carta Magna de 1988 assegura os mesmos direitos preconizados pelo juiz Cooly em seu dispositivo 5º, inciso X.
Diante das premissas do filme e as garantias jurídicas do cidadão o que observamos é um cenário totalmente desrespeitoso com as lições do direito vigente, uma vez que Truman não tem direito a ficar sozinho, a viver uma vida tranquila e por ter seu nome e sua história envolta em uma complexa rede de informações pessoais, do qual ele sequer tem ciência dessas atividades. É uma verdadeira devassa com ares de vitupério a vida de um ser humano, violando princípios e regras. Vale a pena assistir Show de Truman como meio de alerta ao momento em que estamos vivendo, rodeado por smartphones, câmeras e flashes.
THE TRUMAN SHOW. Direção: Peter Weir. Elenco: Jim Carrey, Laura Linney, Natasha McElhone, et al. COR, EUA, 1998, Drama, DVD, 104 min.
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