O que a juventude “conservadora” conserva?

08/02/2016

Coluna Espaço do Estudante 

Pelas andanças dessa vida, vejo um discurso crescente no dialeto juvenil, algo que embasa o posicionamento de muitos políticos, e uma gama da juventude sente-se honrada, apoiada e apoiadora por esse discurso. O discurso “somos os de ideias conservadoras!” se houve na boca de uma grande parcela dos brasileiros, o que nada mais é do que uma baita hipocrisia, um descaramento louvável, não se trata de dizer que não há pessoas de ideia e posicionamento conservador, mas sim que estas estão em número bem menor do que se aparece nos estandartes que veiculam “opinião” (Facebook, Twitter, YouTube e afins).

Vejo o discurso da juventude “conservadora”, em sua grande maioria, como uma baita hipocrisia, pois não é possível enxergar em que aspecto civil-moral-tradicional se encontram pra se intitularem “conservadores” basta sair às boates e noitadas de Terrae Brasilis pra se ver a tamanha incongruência entre o discurso e a bagagem conservadora das práticas dessa dita juventude, como algo prático basta observar que entrem as músicas mais ouvidas estão sempre presente músicas que cultuam o sexo; uma vida desregrada dos padrões “convencionais, morais e tradicionais”; consumo de drogas; basta ver os altos índices de pornografia que circula nesse meio; o que é dito aqui não é nada contra as “músicas” e a pornografia, isso seria assunto pra outra hora, mas a incompatibilidade entre as práticas desses mancebos que dizem compactuar com tal ideal e o real conservadorismo.

O problema que aparece é que tal discurso não é usado por uma afinidade ideológica ( como devia ser!), mas para alicerçar e alimentar um discurso de ódio, ódio cada vez mais latente nessa Saramandaia que é Terrae Brasilis, ódio contra os direitos humanos, ódio contra as conquistas e ascensão das mulheres, ódio pelas políticas públicas de inclusão social (afinal tudo deve ser pela meritocracia, não importa se o indivíduo tivera estudo no Farias Brito ou nas escolas pública que têm aula dia não e o outro também), ódio que carrega no seu DNA a marca do preconceito com errôneos conceitos sobre os indivíduos.

Um dos resultados desse ódio voltado a apenas determinadas parte do tecido social já é do saber comum (ou deveria ser!), basta ver a cor, classe e o nível de escolaridade dos que estão nas prisões desse território brazuca e o que deixa mais evidente a seletividade, ensejada por esse ódio, é o número alarmante dos presos que se encontram em tal estado sem o respeito do devido processo legal, e o que é perceptível é que é esse status de injustiça que o discurso da maioria dessa juventude “conservadora” busca conservar, mesmo que consequencialmente; afinal já é brocardo comum “bandido bom é bandido morto” (sendo incluído na qualidade de bandido com a mera acusação de sê-lo, apenas), como a Constituição proíbe matar, e isso, mesmo que minimamente, vem sendo respeitado, então a solução é manter o estado de indignidade humana da maneira pior possível. Nota-se que boa parcela dessa juventude munida de raiva e “conservadora” embasa a conservação, mas não da moralidade, e sim de um estado de injustiça em nome da justiça (o problema é o significado que dão à justiça!).

O resultado disso é a devastação causada, cada vez mais entes políticos agindo com procuração assinada pelo o ódio dos “jovens de bem”. Soma a isso uma profusão legiferante, cada vez mais leis e mais leis punitivas (quanto mais punitivismo melhor!), buscando passar por cima de princípios basilares do Direito legitimado a punir, como o princípio da Ultima Ratio, da inocência, do devido processo legal, da inadmissão de provas ilícitas e assim se segue. Acompanhando isso estão os retrocessos que se encontram nas pautas do legislativo nacional. Tudo isso sendo legitimado por um ódio irascível vindo de pessoas que, em estado de cegueira social, não vêm e não têm plena consciência do que estão autorizando e fomentando, é penoso que nesse contrato entre povo e entes políticos não há a observação da função social, analogicamente falando.

Já dizia a canção do Paralamas sobre quem “entrou de gaiato no navio”, e essa galera que vejo com um posicionamento político que nem sabem ao certo da “bagagem” que tal posicionamento carrega, não busca saber as consequências, não busca a pluralidade e acabam por achar que o que apenas um diz ser o caminho bom e justo o é realmente, sem saber das outras dimensões que abarcam a realidade brasileira, há de ter cuidado, pois quem entrou de gaiato no navio acabou por entrar pelo cano, no começo era “tudo bonito, pra chamar a atenção”, também dizia a canção.


Mateus P. Gomes.

Mateus P. Gomes é graduando de Direito da Faculdade Católica do Tocantins e membro do CA de Direito. . .


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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


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