O Mecanismo, a esquerda autoritária, os seus ladrões

09/05/2018

Há quem se coloque (ou esteja colocado) na vida como em guerra de posição (ainda que pouco saiba sobre hegemonia cultural). Falo sobre fazer torcida por um grupo de poder como o faz um sectário, não como o faria um intelectual.

Nos estados atuais, as estruturas da sociedade civil têm vida própria e não se curvam facilmente aos discursos que não legitimam propostas de organização social, mas intentam interditar narrações que alcançam circulação.

A esquerda brasileira (que, em sua realização concreta, é autoritária, religiosa e ladravaz, portanto de “práxis” direitista), brandindo uma palavra de ordem, fascista, fascistamente quer calar a boca de quem se lhe discrepe.

Tal pretensão satisfaz certos grupos de si para si mesmos, mas não obterá sucesso em elidir fatos. A operação Lava Jato é um evento social materialmente verificável. Esse processo já devolveu bilhões aos cofres públicos.

“MPF recupera R$ 11,9 bilhões com acordos. O montante calculado pela força-tarefa a ser ressarcido aos cofres públicos é de R$ 44,4 bilhões” (Fernanda Odília encurtador.com.br/kuCHJ). Bastam, pois, olhos de querer ver.

O objeto do processo é um esquema de ladroagem que foi montado sob predomínio da esquerda brasileira. O esquema, sob o nome de O Mecanismo, tornou-se série policial da Netflix, criada por José Padilha e Elena Soárez.

A indústria cultural converteu em entretenimento algo caro à esquerda patrimonialista. Aliás, a indústria cultural, no Brasil, é um esquema, em grande parte, atrelado a arranjo de favores públicos (farto financiamento de estatais).

As críticas de esquerda ao O Mecanismo são censoras. Consideraram a série policial como sendo política e dirigida contra seus líderes Lula e Dilma (a esquerda brasileira pratica culto à personalidade), abominando-a.

Na série, um policial de métodos “puros” insurge-se contra as formas institucionais de fazer justiça e converte-se em justiceiro, perseguindo um personagem que, ademais, teria tido um caso juvenil com sua esposa.

O vingador vai às últimas consequências pessoais ao tempo mesmo em que alimenta secretamente de informações a Polícia Federal, propiciando a derrubada de um mecanismo que toma todo o mundo político.

Está claro que a série é sobre a Lava-Jato, e a esquerda brasileira não tem como não se ver nela, pois a narrativa da ficção é baseada na realidade de um sistema de rapinagem montado sob os governos de Lula e Dilma.

Mas a ficção não se resume a isso. É uma coisa de mocinho e bandido: a Polícia Federal (uma delegada e poucos policiais) versus o mundo político. Sem concessões a quem quer que seja, alcança Lula, Dilma, Temer, Aécio.

A série simplifica as relações de poder corruptas que movem o Brasil. Claro, faz cinema, acelera as coisas para tornar-se atrativa. Mas, se há dramatizações, não há invenções. São fatos conformados a drama cinematográfico.

José Padilha tem história à esquerda, com o seu cinema fez denúncias importantes, com risco, inclusive, da própria vida. A irracional tentativa petista de linchá-lo é um desesperado exercício de controle autoritário.

A esquerda não se pode dar licenças de direita. A esquerda não pode atuar autoritariamente, formulando discursos censores. A esquerda tem que se obrigar à análise da história, antes de tudo, reconhecendo-a.

A esquerda que alcançou o poder traiu-se e traiu o povo que nela confiou. Uma série televisiva que explicita seus métodos e expõe seus atores deveria ser uma ferramenta de reflexão, não objeto de raivosa censura ideologizada.

No mundo democrático, sobretudo depois das mídias sociais, que para o bem e para o mal põem tudo em circulação, resolve pouco dizer que O Mecanismo cumpre papel enganoso. Basta assistir à série, ela falará por si mesma.

A esquerda tem que se esquerdear, franquear-se democrática, guerrear posições por persuasão. Tem que discursar seu credo e compromissar-se com ele. A esquerda não pode roubar e depois censurar.

 

Imagem Ilustrativa do Post: Logo da série "O mecanismo" // Foto de: Netflix // Sem alterações

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