O HORIZONTE DA HUMANIDADE: QUO VADIS?  

02/05/2019

 

O que resta em tempos de desespero existencial e da falta de uma avaliação ética[1]? Parece que os horizontes civilizatórios deixam de existir ou jamais são alcançados exatamente por nós não fazemos a nossa parte de oportunizar o reconhecimento do Outro pelas suas características, pela sua história, pela sua maneira de ser.

Não existe numa perspectiva jurídica, uma resposta que seja satisfatório para resolver esses conflitos se não antes o próprio ser humano não tomar consciência sobre a sua responsabilidade – muitas vezes, radical - perante o Outro. Ao se pensar em uma possibilidade de justiça, essa somente existirá na medida em que as expectativas da realidade estiverem escritas na norma jurídica para que haja a sua devida eficácia e efetividade.

Todavia, tanto na produção legislativa quanto na convivência do cotidiano não temos nenhuma tolerância, respeito, cultivo ao cuidado, ou melhor, de um ethos do cuidado[2] para que possamos criar alternativas e estratégias que sejam capazes de amenizar esses tipos de riscos e inseguranças vividas no século XXI.

Quais são essas alternativas e estratégias, perguntaria o leitor e a leitora? É a criação de uma agenda comum para se diminuir as desigualdades enfrentadas não apenas no âmbito nacional, mas mundial. Combate à corrupção, combate às milícia, diminuir a fome e as desigualdades sociais, a mudança estratégica para cidades sustentáveis inteligentes, a recepção de imigrantes em terras estrangeiras, o combate à violência doméstica e ao feminicídio, recursos para efetivar o trabalho decente, combate ao trabalho escravo, maior efetividade no cuidado com crianças e adolescentes, bem como suas famílias, respeito pela alteridade ecosófica[3] a Natureza[4] e as águas com entre outras questões que precisamos identificar como sendo próprias do aperfeiçoamento civilizacional do século XXI.

Por esse motivo, e como afirmava Warat, a esperança é algo que pertence ao improvável, mas vou um pouco mais além: todas as alternativas e estratégias aqui descritas representam genuínas utopias carregadas de esperança[5], ou seja, são elas que exatamente terão o seu tempo de maturação para saírem de sua morada no plano ideal para que se transformarem em realidade. Essa condição depende unicamente da nossa vontade. Nesse caso, pergunta-se: qual o mundo se desejável? Um mundo atual e suicida ou mundo o utópico que pela nossa vontade se realiza.

 

 

Notas e Referências

[1] A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é a ciência de uma forma específica de comportamento humano”. VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Tradução de Joel Dell’ Anna. 28. ed. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2006, p. 23.

[2] “[...] Os cuidados do corpo não excluem os cuidados da alma (psyche) não dispensa que se eleve em consideração a dimensão ontológica do homem”. LELOUP, Jean-Yves. Cuidar do ser: Fílon e os terapeutas de Alexandria. Tradução de Regina Fittipaldi et al. Petrópolis, (RJ): Vozes, 2007, p. 32.     

[3] Me parece que uno de los puntos “ciegos” de la tradición dominante de Occidente, al menos desde el Renacimiento, ha sido justamente el tema de la alteridad “ecosófica”. Aunque la tradición semita (judeo-cristiana) haya introducido al discurso ontológico determinista y cerrado de la racionalidad helénico-romana las perspectivas de la “trascendencia”, “contingencia” y “relacionalidad”, es decir: la no-conmensurabilidad entre el uno y el otro, entre el egocentrismo humano y la resistencia de la trascendencia cósmica, religiosa y espiritual, la racionalidad occidental moderna se ha vuelto nuevamente un logos de la “mismidad”, del encerramiento ontológico subjetivo, de la fatalidad que tiene nombres como “la mano invisible del Mercado”, “coacción fáctica” (Sachzwang), “crecimiento ilimitado” o “fin de la historia”. La crisis civilizatoria actual tiene que ver con el agotamiento de los planteamientos de la modernidad y posmodernidad occidental, planteamientos que se fundamentan básicamente en una falacia que in actu recién se desvirtúa en nuestros días: la expansión humana, en todas sus formas, no tiene límites. O con otras palabras: vivimos supuestamente en un mundo ilimitado. Esta falacia retorna a nuestros preconceptos como bumerán, en forma de los colapsos de eco- y biosistemas, mercados financieros hiper volátiles, necro-combustibles, hambrunas y revueltas políticas de las personas que siempre han sufrido las limitaciones reales de su mundo. Existe un solo crecimiento aparentemente “ilimitado” que se llama “cáncer”, y todos/as sabemos que sólo llega a su fin en la muerte. Esta falacia fue expresada por Hegel en forma insuperable al identificar la filosofía de lo absoluto con la filosofía absoluta, es decir: con el espíritu occidental moderno. El “afán infinito” (unendliches Streben) de Fichte, desencadenado sobre la Naturaleza “ciega y sorda”, se ha convertido en avaricia ilimitada, en explotación y acumulación de bienes y dinero en forma desenfrenada. El homo oeconomicus de la actualidad no es otra cosa que la manifestación materializada de la absolutización del sujeto humano, planteado de distintas maneras por la filosofía occidental moderna. ESTERMANN, Josef. Ecosofía andina: Un paradigma alternativo de convivencia cósmica y de Vivir Bien. FAIA  - Revista de Filosofía Afro-In do-Americana, VOL. II. N° IX-X. AÑO 2013, España, p. 2.

[4] “[...] O cidadão ecológico é capaz de alterar a configuração política, econômica, social e ambiental de onde vive provocando mudanças significativas com vistas na sustentabilidade”. PELLENZ, Mayara. Metamorfoses da cidadania. Erechim, (RS): Deviant, 2017, p. 86.

[5] MELO, Osvaldo Ferreira de. Fundamentos da Política Jurídica. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1994, p. 19.

 

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