O fim dos direitos – Por Fernanda Mambrini Rudolfo

26/03/2017

Em 2013, muitos falaram que um gigante tinha acordado. O povo foi às ruas para exigir um pouco de tudo e, no final das contas, não lutar por nada. Em 2016, novamente muitos foram às ruas. Panelas foram batidas clamando por uma mudança no cenário político nacional (leia-se: houve um golpe). Tais manifestações foram transmitidas pelas principais emissoras de televisão e enaltecidas por aqueles a quem era conveniente uma guinada inconstitucional. Outros tantos foram às ruas em defesa da democracia, mas esses atos não foram divulgados do mesmo modo que os anteriores. Escolas foram ocupadas. Alunos, professores e servidores acamparam em universidades. Vários setores se mobilizaram. Nada disso foi capaz de sensibilizar tanto os ditos representantes da sociedade quanto a mídia dominante, e todos nós estamos pagando o pato... um grande pato amarelo.

Pouco a pouco estão acabando com os direitos do povo brasileiro. Mas vejam bem: do “povo”, desses “quaisquer” que acham que têm algum tipo de ingerência no que decidem os governantes, mas que são absolutamente manipulados. Porque a classe dominante continuará a gozar dos mesmos benefícios e privilégios com os quais se regozija atualmente, provavelmente até mais.

Não bastasse a reforma da previdência, em iminente e lamentável aprovação, agora rasgaram as leis trabalhistas. As conquistas de tantas gerações jogadas fora com a inconsequência de quem não precisa se preocupar com direitos, porque vive de favores.

E me ensurdece o silêncio das panelas, que não deixam mais as cozinhas para manifestar-se, em uma omissão conivente com as mais cruéis atrocidades. Talvez porque quem empunhava essas tão “poderosas armas” não consiga enxergar além do que lhes mostra a mídia dominante, talvez porque não se perceba a gravidade da situação, talvez por mero comodismo ou desinteresse. Seja qual for o motivo, é um grave silêncio. Silêncio que permite sejamos empurrados em direção ao abismo do retrocesso.

Se já vivíamos em um país de desigualdades, caminhamos no sentido da construção de muros a separar classes sociais. Muros que dividirão os sem direitos e os com privilégios. Hoje, enquanto se fala quase inconsequentemente em meritocracia, já há barreiras por vezes intransponíveis. A tendência é que tais barreiras emerjam a ponto de a segregação beirar a era em que a escravidão era legítima. E não será, de certa forma?

Em um país que se diz em desenvolvimento, são vários passos rumo ao passado. Passado em que, por exemplo, a mulher era reconhecida apenas por saber o preço dos produtos no supermercado. Opa, acho que estou fazendo confusão.

Não tenho mais palavras para descrever o momento que estamos vivendo. Aliás, apenas uma palavra nos resta neste momento: lutar. Lutar sem temer.


 

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