Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
quantas vezes tocou a canção do Milton Nascimento para que eu te escrevesse quantas vezes isso acontece. isso que acontece quando o dia acorda em outono. você mantém a pose azul do céu de Lisboa enquanto Fernando Pessoa nos permite desassossegar dessa coisa latina. eu só quero beijos latinos. mas eu sempre fiquei parado nas horas europeias em que fazíamos nascer os mais solares dos sonhos. demos voltas para chegar nisso. na verdade. isso da verdade é bem chato. fica nisso ou naquilo. enquanto derretem as geleiras pelo verão. e mais uma vez o rio Mondego atravessa meu coração. eu não iria contar. mas se trata de uma nota. aprendi que devemos cuidar das notas. sejam elas musicais sempre. porque vida sem canção não chega. e agora que atravesso o sertão à sua procura. quero te contar que há uma moeda arremessada naquela ponte. imagina que faz muitos anos as águas saboreiam o segredo que deixei ali. a ideia era voltar depois para buscar. mas existem tantas músicas entre essas distâncias que prefiro deixar para que um dia. em uma manhã de outono. haja a chance de encontrar no seu riso a mesma face. não que seja possível. é que desde então. estive atrás e através do impossível. espero estar sensível quando ele pousar. não há hora marcada quando vem a invenção. e há pessoas que ainda seguem mapas. o aleph continua a girar. amanhã é como um hoje não saboreado. como são insípidas as projeções. da vida. que venha ventura. o resto é água de rio.
Imagem Ilustrativa do Post: Try Poetry // Foto de: Michael Chen // Sem alterações
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