Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
O fio do horizonte pincela as ondas do oceano do incerto
Bem ali, onde a falta clama por um lugar ao lado.
Negar-lhe assento, porém, não é uma escolha nessa travessia do averno,
Caso contrário, a (com)pulsao pelo reverberar o arrematará.
A falta
Estamos diante de sua sombra
Que apaga as linhas pretensiosas do nosso mapa,
Esse delicado papiro que insinua as rotas do nosso querer.
Eis a questão: o desejo!
Seria ele uma forma de resistência?
Um brado contra a asfixia da falta?
Ou, quem sabe, o desejo se atreva a ser um murmúrio?
Que encontra na trilha desbravada pela falta o seu ser?
Já nos dizia o frances que se marcava como incompreendido,
E o alemão que cruzava a floresta negra da Turíngia,
Ambos colocaram a palavra como morada do ser.
Dizia aquele, que “o amor é dar aquilo que não se tem a alguem que não o quer”.
Permitir-me-ei apegar ao desejo,
Sendo-o um epitáfio do suspiro derradeiro do meu ser
Prestes a agonizar na aurora da falta
Daquela que me estrangula no prelúdio da angústia.
Deixe-me semear o meu querer no relevo de seus olhos.
Seus olhos!
Reclamou sê-los pequenos,
Todavia, foi em sua vastidão que minhas palavras se ancoraram
Em suas palpebras
Onde fui tocado com afeto.
O contraditório soou seu badalar,
Vi o seu finito através de um infinito distante.
Notei uma voz
E, veja, ela ensaiava, com o dançar das mãos, a sinfonia do dizer
Tem-se a tablatura de seu sussurro notas afinadas em hertz.
Queria desafina-las no interim de meu ouvido.
O querer se pronuncia no entremeio do pulsar,
Entre a sistole e a diastole
Habita a incerteza da vida e a certeza da morte.
A melodia que compõe o arpejo do desejo não é uníssona,
Concebe-se ela nas linhas tortas das palavras
Ou, até, na violência do silêncio.
Mas, quando o timbre se deixa corromper pela completude,
O fim anuncia sua chegada.
Doravante, o ser desejante (des)vela o seu não-ser.
O bramido da marcha fúnebre me (re)ingressou ao repouso eterno
O meu desejo encontrou no peito da morte um abrigo
Jogo-lhe a minha última flor de esperança
Onde posso encontrá-la?
Oras! O que quer?
Quero mergulhar em seu abraço
Onde sinto que o mundo muda mudo
E, nesse enlace do incerto,
Sentir cada batimento seu
Aqui, digo: quero ver você
O ponto de encontro é (o) incerto.
Qual seu desejo, Poeira Estelar?
Tal qual sua maiêutica,
A resposta está no desejo da partida, ser desejante!
O desejo de (se) constituir (n)a aresta,
Na própria falta
E você, seu covarde,
Negara ver e reconhecer a presença da falta.
Estou sitiado na vertigem do desejo,
Exilado na frustração de não conseguir tamponar esse vazio.
Foi na aresta
Encontrei a poeira que se esvai.
(Re)encontrei a minha falta.
Resta-me apreciar o meu infinito vazio,
Respirar na apneia
E, ali, fazer-me anunciar:
Eis-me aqui também,
Sou aquilo que sempre me faltará.
Foi e será nessa perene falta
Que form(ar)ei os meus buracos
Por onde entra e sai a respiração do desejo
Ninguém deve arrolhar.
E você, leitor intrometido, que flerta as curvas dessa poesia
Já está com vontade de tampar com um acento algumas palavras
Cuja ausência o despertou?
Peguei-o! Ah... esse impulso por preencher as faltas!
Como alertara no início: a palavra é morada do ser
O ser é incompleto
O ser é imperfeito
Mesmo que queira invadir ele com seu acento pretencioso,
Com ou sem você, ele ainda será incompreensível.
Verá que “ser” é se (re)criar na sua própria falta.
Sou eu uma proparoxitona sem acento!
Tarde demais, ser desejante
Se quiser aquele abraço outrora clamado,
Apenas diga:
Dentre todos os abraços do mundo, eu queria só o seu!
Depois disso, vejo...
Não tem mais jeito
Talvez eu esteja pronto!
Pronto para deixar entrar e sair
E nessa respiração
... o meu desejo ...
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