Na livraria  

20/04/2019

Sempre imaginei que o paraíso

fosse uma espécie de livraria.

(Jorge Luis Borges)

Estava numa daquelas grandes livrarias, que vendem até livros, quando um educado vendedor me fez a clássica pergunta:

- O senhor está precisando de ajuda?

- Por hora não, obrigado.

É muito agradável “flertar” com os livros. Com alguns podemos até “casar”. Eu me casei com mais de um: Crime e Castigo de Dostoievski, Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa, Dom Casmurro de Machado de Assis e Cem Anos de Solidão de Gabriel Garcia Márques – um querido amigo foi enterrado com um exemplar dessa magnifica obra. Poderia falar ainda de Clarice Lispector e de Fernando Pessoa... esses livros são de sempre, sem prejuízo de novas paixões literárias.

No campo do direito, notadamente do direito penal, ainda nos bancos da universidade, o primeiro livro que adquiri para estudar foi de Heleno C. Fragoso as Lições de Direito Penal, Aníbal Bruno veio em seguida e posteriormente Francisco de Assis Toledo.  Algum tempo depois vieram Juarez Tavares, Nilo Batista e Juarez Cirino dos Santos. Para ficar apenas nos autores nacionais.

Voltando a livraria. Estava ali manuseando com todo cuidado, e até um certo carinho, alguns livros.  Muitas vezes entramos em uma livraria para comprar determinada obra, mas nos encantamos com outra ou outras. Para mim nada substituíra o livro. Confesso que tenho dificuldade de ler através de uma tela fria de computador. O livro passa a fazer parte da nossa história. Marquês de Maricá chegou a afirmar que “a companhia dos livros dispensa com grande vantagem a dos homens”. Sim, um bom livro pode ser a melhor das companhias, mas como bem asseverou Carlos Drummond de Andrade, “há livros escritos para evitar espaços vazios na estante”.

Como era uma grande livraria, os livros eram separados por assunto: romance, poesia, história, culinária (impressionante a quantidade de livros sobre este tema), autoajuda, biografia, infantil etc.

Estava na seção de ficção quando o educado vendedor – já havia passado mais de uma hora do nosso primeiro contato – voltou a me perguntar:

- O senhor procura algo em especial?

- Estou procurando um exemplar da Constituição da República.

- A Constituição fica na seção de livros de direito, disse o solícito vendedor.

- Desculpa, mas acredito que a transformaram em uma obra de ficção.

 De qualquer forma obrigado.

 

 

 

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