Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Meu corpo fugiu de mim
não me avisou aonde iria nem por quanto tempo se ausentaria
no espelho não há imagem
não sinto frio ou calor
forço movimentos
nos pés nas pernas no torço
mexo-me bruscamente como quem quer voltar a ser gente
meus olhos só enxergam luzes artificiais
meu habitat é o concreto mais abstrato que já conheci
não ouço minha voz há tempos
ao que tudo indica, emudeci.
Roboticamente percorro as horas do dia
Minhas pálpebras se mantêm semiabertas
Sons urbanos me invadem
Ao que tudo indica, adoeci.
Me debruço sobre a janela
Busco no horizonte as forças que perdi
Ainda sou de carne e osso? Respiro fundo o ar não tão puro que adentra a sala
Preciso sentir-me viva, ainda que sem esperança.
Põe-me contra a parede. Comprometo-me a retornar à vida
Por onde começo?
Pelo corpo, que ainda é de carne e osso.
Ainda é de carne e osso?
Retiro as vestes para tirar a prova
Inúteis fantasias performáticas.
Toco-me. Minha pele ainda me pertence
Meus dedos entrelaçam meus fios
Há sinal de vida!
Em movimentos ondulares me coloco em contacto com os arredores
Já não estou entre concretos apáticos
Circundo minha órbita
Sinto que estou levitando
Em nuvens poderia passear vagarosamente
Passo a passo me reconheço em meu corpo outrora pálido
Por uma fração de segundo apenas
Meu corpo e eu nos reencontramos
Até que dores do tempo me removessem de mim
Num infindável movimento circular
Entre indiferença e ultra sensibilidade
O cenário presente me tira o sorriso
Me pesa o ombro
Não fosse a terra insólita
Poderia me colorir pelos raios de sol
E não com marcas de cadeira
Poderia me distrair pela arte do bem viver
Mas o cheiro é de chamas alastrando
E o que queima é o meu país.
Imagem Ilustrativa do Post: person raising both hands // Foto de: I.am_nah // Sem alterações
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