Meia Estação e Muitas Emoções  

06/01/2018

 Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

A noite estrelada despontava a lua cheia no infinito, tamanha era sua exuberância que atraiu Dinorá para a varanda. A brisa tépida soprando o perfume das flores anunciava a nova estação. Admirada com o brilho salpicado no crepúsculo sentiu saudade Tadeu, eis que guardava na memória afetiva as alegrias compartilhadas nos passeios noturnos primaveris à beira mar.

Num ímpeto nostálgico escreveu a seguinte mensagem enviada pelo aplicativo virtual: “Queria você aqui e agora de mãos dadas comigo regozijando com minhas gargalhadas como da última vez, em que caminhamos a sós até o raiar do dia”.

Em poucos segundos a resposta é anunciada pelo efeito sonoro no telefone: “Chego dentro de uma hora. Saudades”.

Há tempos ela vinha se esquivando com desculpas da falta de tempo e outros compromissos disfarçando às súplicas dele para o reencontro de intimidade. Assim, seguia na zona do conforto emocional evitando expectativas que julgava frustrantes.

Imediatamente interrompe a tranquilidade da fantasia e segue ansiosa para o banheiro se surpreendendo com os cabelos brancos despontados na raiz refletidos no espelho. Abre o armário abaixo da pia e lança mão da tinta castanha para pigmentá-los em apenas vinte minutos cravados no relógio. Enquanto isso verifica que precisa depilar suas pernas e virilha, cujo procedimento o fará no banho.

Ciente da pontualidade dele confere os trinta minutos restantes. Abre o guarda-roupa e na gaveta escolhe uma calcinha de renda branca que no bailado apressado quase se desequilibra ao perpassar as pernas, em seguida retira do cabide um jovial vestido florido de seda e o veste, alcança as sapatilhas azuis calçando-as pendulando os pés, na caixa de jóias opta pelo conjunto de pérolas em colar, brincos e anel, algumas gotas de alfazema atrás de cada orelha e por fim a maquiagem através de um leve delinear escuro nos olhos com lápis, rímel preto para alongar os cílios e batom rosa pastel nos lábios são o suficiente para recebê-lo.

Resta-lhe ainda, dez minutos, para por o espumante no congelador, separar as taças de cristais, acender as velas, apagar as luzes, ligar o aparelho de som com uma melodia de Maria Callas e, portanto se sucede na rapidez da espera.

Na sua chegada ele traz um vaso de orquídeas brancas oferecendo-as juntamente com o olhar terno e carente pelas lacunas do distanciamento. Prontamente ela o recebe com um sorriso largo e olhos brilhantes, agradece a oferta floral colocando-a sobre a mesa e o leva pela mão até o pequeno jardim, onde as orquídeas das primaveras pretéritas já florescem impudentes em vários tons sinalizando que vingou as emoções para posteridade.      

Àquela mulher impetuosa e infantil de sentimentos amadurecera. Sua cama não estará mais fria. Pois, o inverno se despede sem deixar saudade.

 

Imagem Ilustrativa do Post: Outono // Foto de: Guilherme Dedecek // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/guigodedecek/3818361500

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