Medicina defensiva em excesso

11/11/2019

Medicina defensiva pode ser considerada um conjunto de medidas adotadas pelo médico para evitar eventual omissã e responsabilização ética, civil e criminal.

É muito comum, por exemplo, o profissional solicitar vários exames para confirmar um diagnóstico.

Vive-se a Síndrome de Ulisses[1] (ou cascata diagnóstica[2]) em que se faz um exame e depois faz outro seguido por mais um e assim sucessivamente.

Segundo Bobbio, medicina defensiva significa:

prescrever exames não para investigar um diagnóstico ou para identificar o tratamento mais eficaz, mas para se prevenir de eventuais desforras judiciais. Assim, os pacientes são submetidos a uma quantidade de exames nem sempre úteis para sua saúde, mas indispensáveis para a tranquilidade do médico.[3]

Tudo isso trouxe várias consequências, tais como: 1) aumento dos gastos para o paciente, para as operadoras e para o SUS; 2) elevação do tempo para obtenção do diagnóstico e realização dos procedimentos; 3) aumento da comercialização de aparelhos e produtos médicos; 4) desconfiança; 5) burocratismo.

Em razão disso, há forte movimento para alterar a prática médica desenvolvida nos últimos anos, com a finalidade de evitar desperdício de tempo e de dinheiro.

Ou seja, é preciso reconhecer também que há pouca previsibilidade de alguns diagnósticos e que há dificuldade para escolher indicadores e métricas de avaliação de resultados e ainda é difícil compatibilizar satisfação/expectativa.

O uso indiscriminado da medicina defensiva acabou trazendo novos riscos: o excesso de diagnóstico e o excesso de prescrição[4].

A posição do médico, realmente, não é fácil. De um lado, ele precisa se prevenir contra eventual acusação de negligência ou imperícia. De outro lado, muitas vezes são solicitados exames e procedimentos desnecessários.

De qualquer forma, é importante, portanto, a adoção de novas perspectivas na prática médica.

Uma alternativa é a Saúde Baseada em Valor, em que se dá mais atenção ao paciente, com ampliação da prática do cuidado, prestigiando o sentido humanista e considerando as individualidades da pessoa e também o custo da intervenção médica.

A questão realmente não é fácil de resolver.

Contudo, uma atuação médica séria e responsável é aquela que evita desperdícios, preserva a confiança, observa o progresso das ciências e compartilha decisões com o paciente. Tudo isso também evita a responsabilização pessoal e promove a qualidade do trabalho e da Medicina.

 

Notas e Referências

[1]     BOBBIO, Marco. New risks of contemporary medicine: overdiagnosis and overprescription (palestra). Instituto de Ensino e Pesquisa Sírio Libanês, São Paulo/SP, 11 Out 2019.

[2]     BOBBIO, Marco. New risks of contemporary medicine: overdiagnosis and overprescription (palestra). Instituto de Ensino e Pesquisa Sírio Libanês, São Paulo/SP, 11 Out 2019.

[3]     BOBBIO, Marco. Medicina demais: o uso excessivo pode ser nocivo à saúde. Barueri: Manole, 2020, p. 24.

[4]     BOBBIO, Marco. New risks of contemporary medicine: overdiagnosis and overprescription (palestra). Instituto de Ensino e Pesquisa Sírio Libanês, São Paulo/SP, 11 Out 2019.

 

Imagem Ilustrativa do Post: HPV Vaccination in Sao Paulo Brazil March 2014 // Foto de: Pan American Health Organization PAHO // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/pahowho/13383716683

Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura