Por Ivy Farias - 03/01/2017
Larissa, 24 anos. Carolina, 26 anos. Ana Luiza, 52 anos. Luzia, 85 anos.
O que elas têm em comum? Eram da mesma família e compartilham a mesma data e local na certidão de óbito. O assassino suicida de Campinas (SP) não destruiu apenas a “sua” família e sim a família de dona Luzia, mãe de Ana Luiza, avó de Larissa e Caroline.
Em minutos, um homem munido com uma arma na mão e preconceitos na cabeça não cometeu “apenas” um feminicídio: ele acabou com as três gerações de uma família.
Quanto tempo leva para se construir uma família? Dona Luzia tinha 85 anos e pode abraçar a sua terceira geração, a filha de Carolina, uma bebê que não teve o mesmo destino trágico das suas antecedentes.
Uma família é mais que um grupo de pessoas que partilha o mesmo sangue, DNA, valores, sobrenome, história. É o começo de tudo, o meio para um desenvolvimento e, neste triste caso, um fim.
Para esta bebê que está neste mundo desde maio há uma pergunta: como será sua vida sem sua família? Que histórias ela ouvirá? Que tradições terá?
O assassino suicida, claro, já está sendo defendido nas redes sociais. São pessoas que vêem a cena de um marido inconformado. Não vêem dona Luzia, Ana Luiza. Larissa, Carolina e sua bebê. Não enxergam que o discurso de ódio, o machismo e a hipocrisia não tiraram apenas a vida de nove mulheres como também roubaram desta bebê qualquer possibilidade de uma figura feminina em sua existência.
Carolina decorou o enfeite de maternidade em tons de lilás e rosa com flores, laço e borboletas. Postou a foto na internet e agradeceu a todas e todos que desejaram saúde para sua filha. Para uma delas, respondeu que verde era sua cor favorita e não a da bebê.
Neste momento de choque, de dor, revolta, tristeza, a constatação do feminicídio e de que o machismo tira vidas, ainda são poucos que conseguem compreender que a intolerância também furta passados e futuros como o caso desta bebê, que, dificilmente, saberá que a mãe abriu mão de seus gostos pessoais para dar espaço à individualidade dela.
E que a educação em gênero, a lei do feminicídio, Maria da Penha e todas outras demandas feministas não são mimimi para esta bebê dormir. Pelo contrário, são para nos acordar de que a história dela- e a nossa- já está marcada pela violência contra a mulher desde o começo.
. Ivy Farias é jornalista e estudante de Direito da UMC Campus Villa-Lobos/Lapa em São Paulo e uma das co-fundadoras do movimento Mais Mulheres no Direito. Crédito da foto: Gustavo Scatena/Imagem Paulista/Divulgação . .
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