O que pode ou não pode ser dito depende de um complexo sistema de controle de moralidade (Althusser, aparelhos ideológicos). As sociedades têm morais predominantes embutidas nas ideias em circulação.
Só circulam as ideias de quem tem origem em algum tipo de poder. As outras são simplesmente desconhecidas, apagadas, proibidas por meios legais ou reprimidas pela família, igreja, escola etc.
Moral controla comportamento. Quem controla alguma moral é sócio de algum poder. Os donos do poder cuidam para que não apareçam concorrentes com outras ideias, modifiquem o estabelecido e o dominem.
Isso já é sabido, aliás, isso é óbvio. O curioso é que pessoas sem qualquer chance de conseguir um lugar ao sol nesse mundo que admiram, em estranha sujeição voluntaria, defendem a moral que as controla.
Esses dedicados ao status quo não produzem os valores vigentes, não lhes conhecem a origem, não sabem a que se prestam; defendem-nos, todavia, como se fossem seus, ou como se os beneficiassem.
Este comportamento de otário, ideologicamente equivocado, talvez mudasse, se fosse compreendido que uma ideia é uma invenção como outra qualquer: é temporariamente útil, não é uma verdade eterna.
É fácil explicar a lâmpada: novidade que serve para iluminar; o lápis: criação útil para anotações. Agora, como explicar que o casamento católico foi inventado para controlar a reprodução de judeus?
Como dizer que alma (anima, matriz) é uma ideia de Platão, corrente na antiga Grécia, para explicar a origem, ou a condição ideal de todas as coisas, apropriada pelo apóstolo Paulo e aplicada aos cristãos?
Platonismo: doutrina do filósofo grego Platão, caracterizada especialmente pela concepção de que as ideias eternas e transcendentes originam todos os objetos da realidade material (Houaiss, editado).
Vá falar um coisas dessa, dizer que um valor tem local de origem e validade incerta, mais ainda se o interlocutor for religioso. O falante será visto como pecador, subversivo, de algum jeito pernicioso.
Bem, é só abrir um bom livro de História que tudo ficará esclarecido. Mas, em geral, como é sabido, prevalecem duendes, fadas, santos, demônios, anjos, espíritos de luz, curas, pensamento positivo e Papai Noel.
Todavia as coisas mudam. Embora sob controle e manipulação, as sociedades avançam. Hábitos novos derrogam velhos costumes e não se morre por adotá-los, pelo menos no universo liberal e democrático.
Com os seus tantos defeitos, o mundo em que, sim, é difícil, mas é possível arejar o pensamento é o da Tradição Ocidental que incorporou a herança da Revolução Francesa e da Independência Americana.
Sim, tenho anotadas as misérias do capitalismo; postulo sua superação. Mas, vá pensar alto na China, no Irã, em Cuba, na Venezuela, ou na Coreia do Norte, que você compreenderá o que estou a dizer.
A mais eficiente contribuição para que ideias novas circulem e revoguem as velhas vem da inteligência militar estadunidense: a Internet. Sim, há estúpidos e estupidezes circulando na rede. Há que tolerar.
Bobagens sempre invadem espaço. Importa é que boas ideias também estejam lá, e que é muito difícil censurá-las. É impossível proibi-las. Disponibilidade de pensamentos novos, já é, em si, avanço considerável.
Sem autor\a, mensagem de forte renovação moral me chegou como historinha imaginada com graça e simplicidade. Fala do avanço social das mulheres, do quanto elas deixaram de ser as eternas esperançosas da chegada do príncipe encantado para tornarem-se senhoras do que querem e podem ser.
É mais ou menos assim: era uma vez uma moça que passeava pela floresta, sonhando com seus sonhos, para lá e para cá. Eis que se depara com um sapo, e, para surpresa sua, ele se põe a falar. O sapo garante-lhe que se for beijado transforma-se em um príncipe, e que com a moça se casará.
Ela o recolhe, leva-o consigo, mas nada de beijá-lo. O batráquio reclama, afinal, só faltava o beijo, e era logo casar. Ela dá-lhe uma bonita e doce explicação: Homens, há muitos por aí. Um sapo que fala, bem... Um sapo que fala é um negócio lucrativo, e muito raro de se encontrar...
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