Lula não será Macunaíma – Por Léo Rosa de Andrade

23/03/2016

Aos que se quedam apreensivos com o acirramento dos ânimos sociopolíticos, ou seja, com as manifestações de rua contra ou a favor do governo, digo que se enganam. Vejo com muito bons olhos o alvoroço que sucede.

É que desde muito tempo as coisas tanto se nos faziam. Tudo em política nos era desimportante. Agora temos algumas insipiências de vontades. Creio que boa parte do Brasil organizou-se em torno do que não quer. Já é alguma coisa.

O problema é que não se tem claro o que se quer. Se ficarmos com a medida das ruas, vemos muita gente contra o lulopetismo, mas não observamos manifestações a favor de uma alternativa ao desgostado.

Por outro lado, os lulopetistas apresentam-se-se em vermelho e bradando o nome do seu líder. Seja: O PT e Lula ainda existem como manifestação de vontade popular. Os contra Lula não se revelam a favor qualquer liderança alternativa.

O Ibope, em pesquisa de outubro de 2015, diz que 55% dos eleitores não votariam de jeito nenhum em Lula, contudo, seus concorrentes mais prováveis sofrem de rejeição bastante próxima (Serra, 54; Alckmin 52; Marina, 50; Aécio, 47).

Em contrapartida, quando se pergunta sobre certeza de voto, 23% mencionam Lula. Depois, Aécio, 15; Marina, 11, Serra, 8; Alckmin, 7. Já sobre possibilidade de voto, Marina, 28%; Aécio, 27; Alckmin, 23; Lula, 18.

Por fim, questionou-se sobre não conhecimento: aí, 16% não conhecem Alckmin o suficiente para opinar; 11, Serra; 10, Marina; 9, Aécio; 2, Lula. Inferência: 98% dos eleitores sabem quem é Lula e 55% não votam nele de jeito nenhum.

Desde a data da pesquisa, a imagem pública de Lula vem piorando (rejeição alcança 57%), dada a sua associação com crimes e criminosos. E ainda por sobre isso está o fato de menos de 10% da população apoiar o governo que ele apoia.

Segundo o Datafolha, em 17/18mar16, Marina, Aécio e Lula são os nomes mais citados para a eleição de 2018. Considerando a margem de erro, os três aparecem empatados quando confrontados entre si.

Lula, entretanto, é quem mais sofreu como o cenário político do País. Em simulações em que a disputa envolve Marina e um tucano, Lula perdeu pontos. Em confronto entre Marina, Aécio e Lula, temos, respectivamente, 21%, 19 e 17 (FSP, 20mar16).

O petista, então, por enquanto, não ganharia eleições. Mas se for ministro, vai sê-lo com quase ¼ do eleitorado nacional cativo de sua vontade política (coisa que ninguém mais detém), e com mais de três anos para mudar o triste panorama nacional.

Lula tanto pode ter almejado um ministério com esse desiderato como pode tê-lo buscado como rota de fuga do juízo de primeiro grau (Sérgio Moro) que conduz a operação Lava-Jato. Aqui política e Direito se cruzam e talvez se contendam.

Cruzam-se como suposições jurídicas e como palpites de Facebook. Opiniões de torcida, claro, não valem. Já as possibilidades incidentes sobre a roubalheira lulopetista que repercutem em Lula são as decorrentes da jurisprudência.

A sua nomeação como ministro foi uma pequena grande maracutaia. Grande porque a República e suas instituições são solenes, majestáticas. Pequena porque a presidenta ajudar um “companheiro” via posse delivery é baixa ladineza.

Estou convencido de que Lula tornou-se ministro para esquivar-se do foro curitibano. Mas, ainda que eu esteja correto, isso não muda nada. Lula não é réu na Lava-Jato, então, suponho, vai ser difícil comprovar que se escamoteia da Justiça.

Por outro lado o telefonema da presidenta informando que manda uma posse “para usar se necessário” é bastante denunciador de más intenções. Isso talvez faça com que a Justiça considere que Curitiba é foro prevento.

Essa tem sido a jurisprudência: não valem manobras de buscar ou renunciar a foro privilegiado para escapar do juízo original ou para procrastinar o feito. Em resumo, Lula poderia ser ministro e responder, ainda assim, a processo em Curitiba.

Sobre o sonho lulopetista de ver Moro afastado da Lava-Jato por trair a Constituição, é facecioso. Moro tem recebido confirmação dos tribunais superiores. E não por acaso. Veja-se, por exemplo, essa algazarra sobre a gravação que envolve Dilma.

“Durante interceptação telefônica deferida em primeiro grau de jurisdição, a captação fortuita de diálogos mantidos por autoridade com prerrogativa de foro não impõe, por si só, a remessa imediata dos autos ao Tribunal competente...” (STJ, info 575).

Disto tudo resta que sob governos lulopetistas acontece “nunca antes nesse País” a Justiça pondo ordem na política. Seja em foro privilegiado, seja no comum, ladrões do dinheiro público estão sofrendo consequências.

Talvez Lula fique ministro; talvez seja processado e condenado. Ninguém sabe. Mas Lula e os seus já viram que a margem de manobras malandras se restringiu. Cabem menos heróis sem caráter. Graças à Justiça, macunaímas estão se dando mal.


 

Imagem Ilustrativa do Post: Latinidades – Festival da Mulher Afro Latino Americana e Caribenha 2013 // Foto de: Cultura de Red // Sem alterações

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