Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Texto escrito em 06 de maio de 2022. O autor faleceu no dia 14 de maio de 2022.
A minha vida acabou. Não tenho mais o que fazer. O que me resta é seguir em frente ou para trás. O meu destino é apenas um pedaço de papel, pois a sorte nunca bateu a minha porta. Perdi a minha ferramenta de trabalho. Agora, sou um homem sem caráter, não sou mais digno de ninguém.
Às vezes, eu me perco no barulho do meu silêncio. E, assim, vou me tornando mais frio e seco. E é dessa maneira que vou me isolando das pessoas, me transformando no mais áspero dos seres.
No entanto, eu vou seguindo o trem da vida, o trem que nunca estaciona em lugar nenhum. E, assim, eu vou me transformando nessa finitude e infinitude que não cabem em nada.
Como disse, a minha vida acabou e não quero e nem vou chorar por isso. As minhas lágrimas são secas, eu me transformei em um homem sem sentimento. Um homem sem nada e sem tudo. Eu sou apenas o fim e o início de coisa alguma.
Às vezes, eu me jogo no abismo, mas este abismo é apenas uma janela em frente de uma linda paisagem que muito ainda eu vejo. Mas eu sou um homem sem caráter, não sou mais digno de ninguém. Não tenho nada para oferecer a ninguém e, assim, vou seguindo a vida, o trem da existência tanto para frente quanto para trás. Enfim, eu sou apenas esta linha equatorial da existência: a infinitude e a finitude que passeiam no meu ser.
Assim, eu vou me transformando em nada. Agora, eu sou um homem cego, um homem que nada vê. Mesmo assim, continuo a secar as minhas lágrimas. Nada valho, vou seguindo os passos dos outros passos, ninguém precisa falar comigo, eu sou este isolamento que eu me transformei. Enfim, eu sou este percurso da história na existência humana e o curso da história que todos tentam mudar: a finitude e a infinitude do eco que silenciam no ser.
Imagem Ilustrativa do Post: man standing in front the window // Foto de: Sasha Freemind // Sem alterações
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