Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Morro de viver todos os dias. E as minhas entranhas vão ficando gastas, puídas, desmedidamente entristecidas. A finitude dos dias vai demarcando territórios demasiadamente curtos para as dimensões absurdas do coração. Pois é bem certo que não sei descrever com precisão em que lugar deixei cair as asas que me trouxeram a este chão. A madrugada já faz morada nesse horizonte que se estica feito fio comprido de costurar meus infinitos tão longínquos...
Não. Não posso crer que a minha sina seja apenas tecer palavras a passos lentos no descalço dessa vida tão repentina... A água invade em enxurradas os meus olhos fundos, lá bem distante da superfície deste meu mundo. Não. Não sei a que intento me foi dado o dever de viver em descompasso, ainda que eu mesma pague o preço por tantas rasuras e remendos na alma minha...
Vivo de morrer todos os dias. As lembranças vão se perdendo entre os vãos dos dedos dessas minhas mãos enfraquecidas. E os meus desejos vão sendo silenciosamente em brancas nuvens entardecidos...
Mesmo assim seguirei descosturando a linha. Desfazendo os nós. Até que nós todos sejamos sonhadores de novos gestos - e uma luz se acenda na cabeceira de uma outra história que se avizinha.
Sonhar é o que importa - ainda que seja apenas um bom retrato em branco e preto pendurado na parede da imaginação. Porque comporta um infinito inteiro. Abaixo. Acima. Dentro. Além das beiras. Bem profundo. Ao abrir das portas de um novo mundo.
Imagem Ilustrativa do Post: Weeping stone 2 // Foto de:Ryan Vaarsi// Sem alterações
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