Procurei uma palavra que pudesse expressar esses tempos de ódio nas redes sociais que traduzem nosso malconduzido debate político. Fiquei com algo entre impropério e imprecação.
Impropério no sentido de queixa ultrajosa encaminhada a ninguém e a todo mundo concomitantemente; imprecação como um anátema praguejador lançado contra divergentes difusos.
Muitas pessoas vão às redes sociais e publicam vociferações. As origens das malcriadezes, em geral, são localizáveis em grupos de orientação “moral” bolsonara, ou de alinhamento partidário lulopetista.
Como o fim é a beligerância em si mesma, fatos equivalentes com causas análogas recebem tratamento desigual. Como é a direita que governa e a esquerda está no oposição, dirijo-me a esta.
Um exemplo: um museu encerra saberes e nos leva por expedições sobre a própria humanidade. Nós, então, com razão, escandalizamos o incêndio do Museu Nacional em 2018. Contudo, outros incêndios:
Teatro de Cultura Artística, 2008; Butantã, 2010; Palácio da Praia Vermelha, 2011; UFRJ, 2012; Memorial da América Latina, 2013; Centro de Ciências da Saúde, 2014; Língua Portuguesa, 2015; Cinemateca, 2016.
Por que lástimas por apenas um dos eventos? Por inspirações sectárias: de 1º de janeiro de 2003 a 1º de janeiro de 2011 governava o Brasil Lula da Silva; de então até 31 de agosto de 2016, Dilma Rousseff.
Frente ao rol de sinistros os sequazes petistas aplicaram silêncio obsequioso. Em 2018, todavia, presidia Temer, ex-sócio de Lula e Dilma nos negócios da Pátria. Pespegaram-lhe as culpas do fogaréu.
Outro exemplo: um curriculum vitae refere conhecimento. A autoridade que lista cursos não realizados em seus dados curriculares frauda informações de interesse público. É coisa de ser repelida.
Assim, muito apropriadamente, Damares Alves e Ricardo Salles, ministros de Bolsonaro, e Wilson Witzel, governador do RJ, ao inflarem titulações, sofreram ativo rechaço pelas mídias sociais.
Repulsa seletiva: Celso Amorim e Dilma Rousseff (ministério de Lula) deram-se, falsamente, ele, com doutorado pela London School of Economics, ela, com cursos de mestrado e doutorado na Unicamp.
Nas mídias sociais, ativistas assacam e justificam os piores feitos dos “mitos” a que se alinham. Essa guerra de mentiras pregadas ou acobertadas sucede porque não debatemos ideias.
A direita brasileira é atrasada; não defende ideias. Sua inspiração intelectual é ignorante dos avanços do mundo. Sua obsolescência está, sobretudo, nos costumes e nas metodologias de intervenção social.
Valores religiosos, métodos violentos. Militantes religiosos e violentos. O presidente da República entrega a sorte nacional à “vontade de deus” e confia as questões sociais adversas à polícia.
A esquerda que nos governou é de direita. E não é séria: rouba, mente, é religiosa. Nem é propositiva; não defende ideias. Nossa esquerda está muito ocupada em fazer guerrilha na mídia para defender seus ladrões.
À direita, populismo e rasgos fascistas. À esquerda, populismo e rasgos de locupletação. A direita que nos governa fará algum estrago; a esquerda que nos governou já nos estragou o seu quinhão.
Encurralados entre fraudes, nas últimas eleições, sem discussão circunspecta e elegemos frases de efeito: ódio, esperança, demagogia, propostas genéricas. Muitos escolhemos o mal menor; não havia a melhor ideia.
Aflição política: impropérios e imprecações. Contados os votos, rancor: brados pelo mito violento que oferta “ordem”. Gritos pelo ladrão “inocente” que acusa os juízes (que ele nomeou). Ideias? Ideias não há.
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