Happy Birthday! – Por Marcos Catalan

29/09/2017

Ainda me lembro daquele 30 de setembro.

Na ocasião, com o coração em júbilo, celebrava a publicação do texto inaugural de uma coluna que nascia prometendo compartilhar, semanalmente e a partir da união de muitas mãos, parte dos deliciosos, acalorados e, espera-se, acolhedores debates havidos nos encontros e desencontros, quase quinzenais, do grupo de investigação científica Teorias Sociais do Direito (TSD), um projeto alocado em um projeto maior, o Mestrado em Direito e Sociedade da Unilasalle, único do gênero no Brasil.

Talvez seja necessário grafar, aqui, que o Teorias Sociais do Direito (TSD) é um grupo de pesquisas formado por professores e, cada vez mais, por comprometidos jovens investigadores – Aronne sugeriria introduzir, talentosos, posso quase ouvi-lo – imantados pela alteridade, pela valorização da diversidade e que encontraram no pensamento crítico a ferramenta epistêmica que serve de bússola, lanterna e cobertor ao mesmo tempo!

Imperioso registrar aqui – buscando preservar nossa memória – que o grupo, às vésperas daquela ocasião, daquele 30 de setembro, havia sido provocado – durante um encontro havido quase sem querer, entre um de nós e o simpaticíssimo Alexandre Morais da Rosa – a criar e, o que é bem mais complexo, a administrar uma coluna no Empório. Tal encontro casual acabou por trazer ao mundo a coluna que hoje, na primavera, completa a sua primeira primavera.

O Direito e a Sociedade de Consumo, esta filha querida de muitas mães e de muitos pais, alguns dos quais, ainda, é preciso perceber, são tão desconhecidos do leitor quanto deste singelo administrador. Filha que cresce, cheia de vida e que a cada linha cosida ou a cada experiência fundida no contato da escrita – escritas lançadas na vastidão da Internet tal qual mensagens em garrafas[1] – com o olhar do outro, desperta a atenção, pela paixão ou pelo estranhamento, pouco importa, de todo aquele que a vê.

Quarenta e quatro foram textos publicados, contado este, obviamente.

Aos incrédulos, a conta é permitida e facilitada pelo acesso on line.

Perdoe-nos o leitor – talvez, literalmente, o leitor, embora, neste caso, não teria eu porque pedir perdão a mim mesmo – as falhas na não difusão dos artigos, notas, ensaios e (ou) comentários, talvez expectados, semanalmente. Nossa condição humana, nossa condição, demasiadamente, humana, emerge e explicita-se, ao lado da crueldade de Chronos, como as únicas justificativas para a inobservância, mecânica, do compromisso social que estimula as sístoles e diástoles que impulsionam o coração e os dedos das mãos de cada pesquisador do grupo de pesquisas Teorias Sociais do Direito, para nós, just TSD.

Dezessete foram as penas – às vezes, movidas a quatro mãos – que transitaram da esquerda para a direita, de cima para baixo, um sem número de vezes, pautadas por inconstante e caótica cadência na escrita. E dezessete foram as penas que entremeio a esse fluxo irregular, buscaram dominar as idas e vindas frenéticas do pensamento nos incontáveis instantes havidos desde os primeiros rabiscos, desde o esboço inicial até a versão publicada, não, necessariamente, a versão final, penas que trouxeram para o papel – e para deleite ou a irritação do leitor, tampouco nos importa – fragmentos coerentes de pensamentos em ebulição na solidão da mente humana, compartilhando-os na utópica tentativa de construção de mundo com um pouco mais civilidade, mais justiça social e despido do fetiche proprietário e de tantas outras inclusões excludentes.

Em pauta …

Perdão …

Originalmente, grafou-se, aqui, na ordem do dia, signos que, por razões que talvez um dia, eu o explique, foram desprezados e, neste fluxo, deletados, tão rapidamente quanto cada uma daquelas palavras – aqui escritas, embora, não escritas – havia sido digitada.

Retomo o fluxo …

Em pauta, ao longo deste primeiro ano, estiveram assuntos atados ao pensamento espetacular de Debord e a transformação de pessoas em mercadorias, a transformação da segurança em mercadoria, a transformação da saúde em mercadoria – em um mundo dividido entre hipócritas e hipocráticos –, quase tudo transformado em mercadoria e, ainda, a comercialização de um sem número de promessas não cumpridas, de sonhos não vividos, o que permitiu, questionar, se a felicidade ofertada pelo Mercado poderá um dia ser vivida, em vez de, instantaneamente e cada vez menos, experimentada a conta gotas.

Entremeio o vai e vem de ideias, de e-mails e de textos, vida e direito foram tratados enquanto bens de consumo e, neste tempo, quase perpétuo, de exceção, até a reprodução humana assistida foi tratada como bem de consumo.

Do início ao fim da vida em uma única semana!

Confesso, em verdade, que já não sei mais se essa foi, de fato, a ordem cronológica que orientou a difusão das referidas publicações versando sobre nascimento e morte, mas o fato é que, em algum momento, no desvelar dos últimos trezentos e sessenta e quatro dias – aniversariamos amanhã, 30.09, não hoje –, o direito de escolher deixar de ter direitos não foi esquecido, tendo sido enfrentado com seriedade, embora, Camus siga afirmando que viver vale a pena[2].

E entre um e outro instante, a moradia foi tratada como bem de consumo ao mesmo tempo em que e, com elevado grau de sadismo, testículos foram espremidos com a mesma tranquilidade que processos como a gentrificação, a privatização da segurança na urbe e a opressão promovida pelas instituições financeiras, em desfavor dos menos favorecidos, obviamente, dos mais necessitados, são, cotidianamente, desprezadas pela mídia.

Infantes – esses seres que algumas vezes, em verdade, muitas vezes, me levam a pensar em Dante Aliguieri e na sua Comédia Divina[3] – também passaram por aqui em ensaios ora explorando aspectos fundidos à sedução publicitária e ao seu direcionamento a esse nicho de consumidores, ora buscando estimular a reflexão acerca de coisas que voam e não são aves e que poderiam despencar das profundezas do azul do céu. Outros infantes, um pouco mais carentes, também foram lembrados.

O rolezinho é bem-vindo neste espaço! Mui bem-vindo!

Temas mundanos – nem por isso, menos relevantes – atados à (in)efetividade do Direito na Sociedade também emergiram prenhes de complexidade, libertando-se de alguns dos simplismos que, normalmente, informam a sua escrita. Enfim, ao longo deste ano, ainda houve tempo para a grafia de notas sobre o papel subversivo da Sociologia Jurídica, a importância da Metageografia e a necessidade de cuidados com a Democracia.

Houve, até, uma nota de culpa!

Por tudo isso e, me permitam o recurso a primeira pessoa, só tenho a agradecer. Alexandre, Aline, Ardala, Carla, Celso, Cláudio – entre nós, Claudinho –, Fabrício, Felipe, Gabriela, Germano, Giuliano, Iury, Jáfia, Jorge Alberto, Juliana, Lia, Marcelo, Norberto, Rafael, Tamires, Thais e Yassmine e, a todos os outros que não consigo nominar, registro aqui, em uma palavra, toda a minha gratidão.

Bem sabem, vocês, que não gosto de sentir-me obrigado …

E não se esqueçam que, como o perlage do Champagne, a alegria é deveras efêmera[4].


Notas e Referências:

[1] ADORNO, Theodor. Mensagens numa garrafa. In: ŽIŽEK, Slavoj (Org.). Um mapa da ideologia. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2010.

[2] CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. São Paulo: Record, 2004.

[3] Sei que a obra tem por título A divina comédia, tradução de La Divina Commedia.

[4] LIPOVETSKY, Gilles. Da leveza: rumo à civilização sem peso. Trad. Idalina Lopes. Barueri: Manole, 2016. p. 302.


Imagem Ilustrativa do Post: 001: Happy Birthday // Foto de: Denise Mattox // Sem alterações

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