FEMININO CAÓTICO

21/03/2019

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Nem precisamos do escudo de Athenas contra a Medusa

Ninguém olha nos olhos querendo enxergar lá dentro

É nossa caverna, é a prisão

Veem-se imagens distorcidas, ressequidas, fantasmagóricas do que projetamos ser o outro

Simulações horizontais de uma flor no quadro

Isso é uma flor?

No canteiro do jardim está a realidade da tela

Eternizar na fotografia, na pintura, na poesia a visão de uma essência que não se diz, precede ao conceito e à formulação do nosso olhar

Eis que nem tudo está perdido

Porque a borboleta bate asas e constroi seu voo

Encontra a flor e embriaga-se do néctar

E quer mais

Anseia o futuro

Faz previsões mitológicas, astrológicas, numerológicas

Tentativas de conter a inexatidão das linhas tênues de uma liquidez esfumaçante no castelo dos vampiros ancestrais

Pobre Dom Quixote, andante e solitário

Somos um retrato da incompreensão humana, tão mascarada por tatuagens que escondem a pele e a alma

Conhecer é um trajeto não-linear em um rodovia mal sinalizada...

Hoje o dia é violeta na tarde de lilases tons, onde já sinto o acordar de um novo momento.

Sobre o telhado da memória,  secam rosinhas brancas.

Outras rosas, em moitas, trepam pelas paredes.

Num jardim, onde mimosas flores recendem, rebrilha o profundo e macio azul de que meus olhos andam aguados.

Luzes fortes palpitam na neblina e os olhos marejados sentem fome do tempo do amanhã.

Faz silêncio profundo.

Num salão forrado de um pano verde, sob uma luz escassa, ouve-se, na voz de Parra, a declaração: "gracias a la vida que me ha dado tanto". 

O filósofo, abrindo a sóbria maleta, oferece os nobres presentes que me são devidos,  como diz o astuto Ulisses na Odisseia.

Para deslumbre e encantamento eram duas largas rosas,  mais róseas e frescas que as rosas que enchiam a mesa, nos dois vasos da China.

Medita sobre o bem das almas e escreve o almanaque das lembranças.

Já sinto o cheiro dos eucaliptos.

Os passarinhos, em alvoroço, cantam com alegria as delícias do viver.

Sem acolhimento,  sem pressa. Somente violeta do dia.

 

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