Por Mariana Silva Nery - 29/06/2016
Este texto foi escrito em resposta ao artigo “Poucos querem aprender direito!” do respeitável advogado Paulo Silas Taporosky Filho.
A revolução industrial trouxe consigo mudanças significativas no cenário mundial no que diz respeito às relações de trabalho, que transformaram não apenas a vida dos adultos, mas contemplaram também todo o sistema educacional, que trata do aprendizado das pessoas desde a sua infância. Apesar de passados mais de duzentos anos desde então, o modelo de educação pouco se modificou, não acompanhando a realidade e nem a demanda do mundo atual.
Desde a escola somos ensinados a acertar o máximo possível: dar a resposta correta, ganhar a estrelinha e tirar um dez. Os alunos com “boas notas” são reconhecidos pelos pais e queridos pelos professores. Desde a primeira infância, período compreendido entre o nascimento e os seis anos de idade, somos ensinados a ter pavor de errar. O sistema educacional não reconhece a importância do erro enquanto processo natural de desenvolvimento da criança bem como a sua importância para a apropriação dos conhecimentos[1]. Claramente não me refiro à totalidade das instituições de ensino, mas sim da sua esmagadora maioria. Na sala de aula, quem primeiro responde corretamente à pergunta do professor encerra a discussão, ponto para este aluno. Os demais se calam e parte-se para o próximo assunto. O que vale mais, a resposta na ponta da língua ou uma discussão que desconstrua conceitos?
A criatividade, natural da criança, perde espaço no contexto estudantil e é necessário se encaixar, entrar no padrão. Kenneth Robinson, renomado consultor internacional em educação, chama atenção para a importância da personalização da educação de acordo com as aptidões e paixões de cada aluno[2]. O ser humano é dotado de múltiplas inteligências e também de formas muito específicas de aprendizado. No entanto, o modelo de educação vigente contempla apenas um padrão. E ele tende a destruir nossas aptidões naturais em vez de ser uma ponte para que possamos acessá-las. Ou você se encaixa ou você terá que ouvir muito por aí que “não vai dar certo na vida”.
A partir das reflexões feitas acima, é fácil transferir essas questões para a vida universitária. O estudante, que hoje vive na era digital - em que a informação está a alguns toques – muitas vezes não hesita em procurar soluções rápidas, respostas prontas e resumos questionáveis. Ele, de fato, não está preocupado em aprender, mas sim em passar na matéria X ou Y, pois, dentre outros fatores, foi assim que lhe foi ensinado desde que era criança. Atribuir o fator “preguiça” ao aluno se mostra um argumento um tanto quanto simplista, pois a questão do comportamento dos indivíduos durante o seu processo de aprendizado é muito mais complexa que isso.
Estudar Direito não deve ser tarefa árdua, pois a educação precisa estar alinhada com as paixões e afinidades de cada um. Estudar se torna atitude natural quando olhamos sob essa perspectiva. As faculdades, apesar de proporem aos seus alunos uma ampliação de horizontes do ponto de vista acadêmico, ainda estão amarradas a um sistema de ensino pouco eficaz, que tem como reflexo a entrada de profissionais despreparados e inseguros no mercado de trabalho.
É fundamental que se faça uma revolução educacional, de maneira a abandonar de uma vez por todas o modelo industrial, que se baseia na linearidade, na conformidade e no processamento em série e perceber que o crescimento das pessoas não se dá através de um processo mecânico, mas sim orgânico. Não é possível prever os resultados do desenvolvimento humano, no entanto, é necessário que sejam criadas condições que permitam que este crescimento ocorra de maneira livre e plural.
Notas e Referências:
[1] SUCLA, V. M. O sentido construtivo do erro no processo de alfabetização. 2005. 10 f. Artigo (Graduação em Pedagogia) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Paraná. 2005.
[2] KENNETH ROBINSON. Façamos a revolução da aprendizagem. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=PhTW2210Pp0>. Acesso em: 27 jun. 2016.
. . Mariana Silva Nery é acadêmica do décimo semestre de Direito da Faculdade Independente do Nordeste. E-mail: mariana.sn@hotmail.com . .
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