Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Este artigo traz algumas provocações reflexivas, um pouco de filosofia que eu gosto de praticar.
Há pouco tempo terminei de ler o livro “Crer ou não crer”, uma conversa sem rodeios entre um historiador ateu (Leandro Karnal) e um padre católico (Pe. Fábio de Melo) e me surpreendi com a elegância do embate, os pensamentos e os argumentos de ambos os autores. O interessante é que não sou ateia nem católica, mas entendi vários pontos abordados pelos dois, convergindo com alguns e discordando de outros.
Refletindo sobre o conjunto da obra mencionada atrelado aos meus estudos sobre o comportamento humano e as emoções, com o olhar observador de uma escritora e o debate inerente a uma advogada, feito através do autodiálogo, pude perceber que a história, seja ela a história da sociedade de cada país em determinado momento ou época, ou a história de vida pessoal de cada indivíduo, com as circunstâncias que o rodeia, tem papel fundamental nas escolhas.
Tudo depende muito dos costumes, das circunstâncias e dos hábitos que nós adquirimos ou que nos foram impostos durante as nossas vidas. E daí, eu questiono: somos totalmente livres para fazer escolhas? A resposta, no meu entendimento pessoal, é que depende. Explico. Temos o livre arbítrio, mas existem fenômenos inconscientes que atuam nos bastidores de nossas mentes e que não representam necessariamente a nossa capacidade de escolha, o nosso Eu, ou a essência do que somos. Como pode ser livre alguém que não se autoconhece? Como ter liberdade a partir de conceitos e condicionamentos alheios?
A partir das duas perguntas acima, observando questões como a violência imposta pela era digital, pois somos bombardeados diariamente por uma avalanche de informações, que tem por trás uma inteligência artificial que “sabe” quais conteúdos exibir para cada pessoa, através de algoritmos de interesses (moda, esportes, política, cultura, artes, gastronomia, religião, etc.), reforçando comportamentos e tendências, inclusive através de notícias falsas que viram verdades absolutas, receio que as escolhas não são tão livres assim.
O mundo é dual e podemos escolher o que queremos para nossas vidas. No entanto, sem o devido processo de educação com o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e o autoconhecimento, que nos permite um pensar crítico diante dos acontecimentos da vida, as escolhas são subjetivas e parciais, muitas vezes impostas pela sociedade através de opressão, medo, propagação de ódio, preconceitos e dogmas.
Pertinente citar uma frase conhecida de Pablo Neruda: “Você é livre para fazer escolhas, mas é prisioneiro das consequências”, com a qual posso concordar apenas em parte, pois reforça o binômio escolha/consequência, mas sentencia com outro binômio liberdade/prisão, que a meu ver é antagônico. Não pode haver prisão, quando há verdadeira liberdade, este é o ponto.
Acredito mais nos binômios escolhas/consequências e perdas/ganhos, citando o seguinte pensamento de Augusto Cury: “Uma pessoa imatura pensa que todas as suas escolhas geram ganhos. Uma pessoa madura sabe que todas as escolhas têm perdas”.
Assim, quem busca o autoconhecimento vive uma transformação constante, pois o autoconhecimento não se esgota, mas permite que nos tornemos protagonistas de nossas vidas, de modo que as nossas escolhas representarão cada vez mais as nossas essências, num processo de liberdade, ou melhor, de libertação. Aliás, através do autoconhecimento só temos a ganhar, ainda que ele seja adquirido num processo de dor e enfrentamento, pois é fundamental para a nossa saúde mental e nos projeta para o conceito mais aproximado de liberdade de escolha.
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