Com a proximidade do final do ano, ficamos todos reflexivos. Pensamos no que fizemos durante 2016 e fazemos planos para 2017.
Para muitos de nós, foi um ano trágico, marcado por inúmeras violações de direitos... A poucos dias do Natal, não consigo deixar de pensar naqueles que não poderão passar as festas com seus entes queridos porque estão segregados. Especialmente naqueles que nem sequer foram condenados ou cuja sentença ainda não transitou em julgado, em face da recente decisão do Supremo Tribunal Federal.
Não me sai da mente a misoginia implícita no discurso “político” daqueles que deveriam nos representar. Também não esqueço as inúmeras mortes causadas pela polícia militar, assim como a invasão de uma igreja para coibir uma manifestação popular. Manifestações, aliás, que vêm sendo reiterada e ilegalmente reprimidas.
Ficou para sempre marcada a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos da América. Mas, acima de tudo, é indelével que houve, no Brasil, atos públicos a seu favor. Não consigo esquecer, pois, que não se está só a praticar, mas a enaltecer atos homofóbicos, racistas e machistas.
Restam na memória cada demonstração de bairrismo, cada ato de intolerância religiosa, cada manifestação preconceituosa.
Jamais olvidarei, ainda, cada etapa do golpe (sim, foi golpe) que o Brasil viveu, aceitou e – pior – aclamou em 2016.
Não poderei esquecer cada rasgo sofrido pela Constituição da República Federativa do Brasil.
Nessas poucas linhas, nem sequer ousaria esgotar todos os absurdos presenciados no ano que finda e toda a dor que suas lembranças me causam.
Mas, enquanto isso, o que eu fiz? Chorei as lágrimas de uma democracia enlutada? Empunhei armas contra as violações constatadas? Quero crer que adotei ambas as posturas. Enquanto lastimava a morte de uma incipiente democracia, vali-me das armas que estavam ao meu alcance – as palavras; as leis. Apesar de tudo, ou talvez justamente devido a tudo isso, DEFENSOREI.
Porque não posso me lembrar de 2016 como um ano de derrota. 2016 foi, acima de tudo, um ano de luta. E defensorar é, em sua essência, lutar. Lutar contra os discursos fáceis, contra as situações impostas. Lutar por quem não tem voz, acreditar nas “causas perdidas” e entender que uma derrota encerra uma etapa, mas não estabelece o fim da luta.
Defensorar é compreender que o impossível só existe para quem acredita nele e para de se esforçar. É não julgar nem ser punitivo, porque na vida já há muitos encarregados dessas funções. Defensorar é encampar incondicionalmente uma causa, é defender os direitos de modo intransigente. Defensorar é lutar.
Por isso, tenho muito orgulho de dizer que, no trágico ano de 2016, defensorei.
Embora deseje que 2017 seja muito diferente de 2016, pautado pela retomada constitucional e pelo respeito aos direitos, não tenho dúvida de que desejo que algo permaneça igual: em 2017, quero defensorar.
Imagem Ilustrativa do Post: En la calle // Foto de: Martin Garrido // Sem alterações
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