Dos confins do Brasil: corrupção e desengajamento moral!

24/04/2017

Por Valdemar Habitzreuter e Wellington Lima Amorim – 24/04/2017

Existem dois personagens interessantes para uma pesquisa filosófica, psicológica, sociológica, ou um estudo de caso que explique o lulinha-paz-e-amor de ontem e, agora, o nosso Lula-guerra-e-ódio. Ou ainda, a capacidade de personagens como Bolsonaro e Lula angariar apoio entre as massas. Quem se habilita e realizar tal empreendimento? O que Existe em comum entre estes dois indivíduos? Quem defende o Lula e Bolsonaro é o mesmo público alvo: a massa desqualificada (seja a elite financeira do país, ou as classes menos favorecidas economicamente). Deve haver uma explicação teórica para o fenômeno Lula/Bolsonaro.

Sem sombras de dúvida na psicologia/psiquiatria, Bolsonaro e Lula podem configurar um estudo de caso realmente relevante. Por outro lado, Durkheim nos aponta para um fato social que ele chama de efervescência; isto é, o conjunto de emoções que podem aflorar em um agrupamento de pessoas, e estas devem ser canalizadas para um único objetivo ou ideal. E para isto, é preciso de um comando, um líder que trace os destinos do grupo. Tornar-se um líder é um processo natural, estabelece-se uma reciprocidade de sentimentos de prazer e plenitude, entre o líder e os liderados, e depois, verifica-se a dependência psicoemocional recíproca. Assim, ao líder, são inerentes certas características: como poder e dependência, aureolados de espiritualidade e carisma.

Os tentáculos de um Lula ou de um Bolsonaro apresentam estas características que são capazes de aparelhar e dominar os mais frágeis e rasos em conteúdo. E seus comandados que legaram aos mesmos o poder de comandar suas emoções, se tornam dependentes destes líderes desengajados moralmente. Lula tornou-se dependente do prazer proporcionado pela sensação de plenitude no exercício de seu poder que lidera as emoções dos idólatras, e, do outro lado, estes, dependentes de seu líder. Lula e Bolsonaro são duas faces de uma mesma moeda. A relação entre estes líderes e seus idólatras se mostram na figuração de um círculo vicioso que tem por principal característica o desengajamento moral.

Você já se perguntou como é que possível depois da engenharia de corrupção do país, políticos e empresários, militontos ou intelectuais de fachada, prejudicar pessoas que morrem na fila de um hospital não sentirem arrependimento ou sentimento de culpa? Não sentem qualquer peso moral por suas ações?

Albert Bandura, psicólogo clínico, nos demonstra que qualquer comportamento é apreendido pela observação ou pela experiência. E dele que nasceu o conceito de desengajamento moral. Este consiste na justificativa moral a respeito da má conduta que temos, e assim o faz, quando suas ações podem ser justificadas por se considerar como agente da moralidade pública. Por exemplo: a) Adúltera? Apedrejamento! B) Homossexual? Atire-o de um prédio C) Em nome da causa, de um projeto de poder, seja de esquerda ou direita, justifica-se o roubo na saúde, na previdência etc:

O desengajamento moral é sempre produzido por um conjunto de padrões de pensamento muito bem conhecidos por todos nós: a) a pessoa se considera especial e acredita mesmo que está acima das regras e das leis; o indivíduo quer sempre obter vantagens e privilégios indevidos. Sente-se esperto e poderoso quando engana e rouba dos outros; b) a pessoa não admite ser auditada ou repreendida por suas ilegalidades, passando a tratar a autoridade que a enquadrou, como inimiga ou mesmo como o “bandido” da estória; c) A elasticidade ética do indivíduo cria uma série de mecanismos para transformar suas ilegalidades ou irresponsabilidades em justificativas. E essas justificativas “devem” ser aceitas pela sociedade, pelo simples fato de ele acreditar ser uma pessoa “especial””.  (Eduardo Carmello, por Pires (2016)).

Ou ainda, conforme Pires (2016) nos resume, os 8 mecanismos de desengajamento moral:

“1. Justificação moral; (“Meti a mão na cara da minha mulher para defender a minha honra!”) 2. Linguagem eufemística; (“Só tomei uns choppinhos antes de dirigir” Sacou? “choppinho” alivia, né? Se você disser “Eu bebi antes de dirigir”? Muda tudo, não é?) (chamar “invasão” de “ocupação”).3. Comparação vantajosa; (“Eu podia estar matando, mas estou apenas roubando”) 4. Difusão da responsabilidade; (“Ora, todo mundo sonega imposto de renda”) 5. Deslocamento da responsabilidade; (“Sou obrigado a roubar porque o governo não me dá emprego” “Sonego porque o governo cobra imposto muito alto”.) 6. Distorção das consequências; (“Fazer um download de um filme pirata na internet não prejudica ninguém”) 7. Desumanização; (“Não estamos matando homens como nós, eles são terroristas”) 8. Atribuição da culpa. (“Com aquela roupa, ela estava praticamente me pedindo para ser estuprada”)”.

Pois é, você reconheceu mais alguém? A lista pode ser extensa! Desde os “intelectuais” de esquerda aos empresários que se acham da “direita” conservadora e liberal.


Valdemar Habitzreuter. . Valdemar Habitzreuter é Msc. em Filosofia – Universidade Federal de Santa Catarina. . . .


Wellington Lima Amorim. . Wellington Lima Amorim é Professor Doutor em Ciências Humanas – Universidade Federal do Maranhão. . .


Imagem Ilustrativa do Post: America the Beautiful no. 1 // Foto de: Andrew Hernandez // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/andrewhernandezart/13911592068

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O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.


 

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