Do museu a democracia: um país em chamas

07/09/2018

Coluna Não Nos Renderemos / Coordenadores Daniela Villani Bonaccorsi Rodrigues e Leonardo Rodrigues

“Um fogo queimou dentro de mim

Que não tem mais jeito de se apagar

Nem mesmo com toda água do mar”

(Milton Nascimento) 

Com tristeza no coração assistimos o Museu Nacional arder em chamas transformando em cinzas 200 anos de trabalho e o quinto maior acervo do mundo. Mais de 100 mil objetos de várias civilizações de todo o universo desde o Paleolítico até ao século XIX foram completamente destruídos pelo fogo. O fogo queimou parte da história, da riqueza, da cultura e do patrimônio da humanidade. Algumas das peças destruídas pelo fogo eram únicas em todo o planeta, desde ossos de dinossauro, passando por múmias egípcias, até milhares de objetos produzidos pelas civilizações pré-colombianas. Foram destruídos pelo fogo: a fóssil de 12 mil anos de Luzia; os murais de Pompeia; a primeira edição de “Os Lusíadas”, de 1572; a Bíblia Poliglota de Antuérpia, de 1569; o documento de assinatura da Lei Áurea; o exemplar completo da Encyclopédie Française etc.

Quando era criança e ainda residia no Rio de Janeiro meu falecido pai, em seu velho fusca, costumava nos levar para passear na Quinta da Boa Vista, Zona Norte do Rio, local em que ficava o Museu Nacional, destruído pelo fogo. Nas sempre animadas excursões escolares, também, habituávamos a visitar o Museu Nacional, entre outros. O fogo que destruiu o Museu Nacional queimou parte da minha “velha infância”.

A neófita democracia brasileira, também, arde em chamas. A Constituição da República, outrora Cidadã, é queimada amiúde. Alimentados pela mídia opressiva, direitos e garantias fundamentais são torrados em nome da sanha punitivista e do discurso oco da impunidade. A presunção de inocência está em chamas. Direitos dos trabalhadores são aniquilados pelos escusos interesses do mercado e do capital. O Congresso, com o aval da mídia e do judiciário, queimou 54 milhões de votos. Hoje, a vontade popular se encontra aprisionada numa cela da polícia Federal. Tratados e convenções internacionais são queimados diante dos holofotes da imprensa e do assanhamento dos fascistas.

Na fogueira das vaidades, do autoritarismo e do estado de exceção a democracia é incinerada sem pudor e sem escrúpulos.

Desgraçadamente, não há como salvar o Museu. Contudo, é necessário que as forças progressistas e democráticas se unam para tentar salvar o que ainda resta da democracia.

Queimaram minha “velha infância”, espero que minha esperança e a de todo povo brasileiro seja salva.

 

 

 

Imagem Ilustrativa do Post: Museu Nacional // Foto de: E o Rio Era Assim // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/eorioeraassim/43766557644

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