Do homem de poema  

26/12/2018

 

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

É uma coisa estranha o amargo na boca

Na noite insone em que o fim se anuncia,

Mais um dia passa; e, se a vida esvazia,

É uma coisa estranha o gritar da voz mouca.

 

Sorrir tristemente um sorriso já besta,

E dizer um basta ao tempo anguloso,

Sorriso dos parvos é um livro guloso

Comendo a história, os homens em festa;

 

Mas apesar disto, das eras mesquinhas,

Da dor nas esquinas, da hora vadia,

Da guerra, da fome, da má valentia,

Dos homens que matam e violam em rinhas,

 

Apesar da tristeza e da falsa esperança,

Da solidão própria aos homens de poemas;

Da televisão, dos romances, cinemas,

Que contam paixões que não deixam lembrança;

 

Apesar de tudo, do século-guerra,

crianças famélicas nos rincões do mundo,

Das pobres angélicas, do sofrer profundo,

Apesar da loucura, da saudade fera,

 

É coisa estranha o amargo que deixa

A vida escoada dos mais lindos picos,

Descendo e tecendo riachos bem ricos,

Um amargo adoçado, um beijo  de queixa;

 

Mesmo que sejamos feitos pra partir,

Mesmo que sejamos de barro e ardil,

Mesmo com as rugas, com as figas, com o frio,

Mesmo que não haja o imortal elixir,

 

Mesmo tormentoso, traído, queixoso,

Há sempre o momento em que a luz aparece,

Sempre um ensolarado sorriso que aquece,

Sempre uma Diana, uma vista, um gozo,

 

Então, faço a prece ao meu deus que não existe,

E o crio tão lindo a cada rezar,

E digo aos homens do mundo o altar

É a vida da gente, beleza agreste,

 

Digo que apesar da tristeza terrena,

Viver é bonito ao homem de poema.

 

 

Imagem Ilustrativa do Post: light, man // Foto de: RandyRooi // Sem alterações

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