Toda visão de mundo, ou cosmovisão, está ligada a uma ideologia, como conjunto sistematizado de ideias que organizam essa perspectiva da realidade, que, por sua vez, adota um valor fundamental, em torno e a partir do qual a referida visão de mundo se liga aos fenômenos, dando sentido às coisas, assim condicionando a hermenêutica, a interpretação da vida. Quando essa interpretação da vida possui uma coerência total, uma ligação de tudo e todos, notadamente no nível espiritual, é chamada religião.
O valor fundamental do cristianismo, como manifestação do monoteísmo, segundo o qual há um só Deus e uma só religião, é o da unidade do mundo, da interdependência das partes ao todo a que pertencem, e esse todo inclui tudo, conhecido e desconhecido, visível e invisível, inteligível e ininteligível. Essa unidade é, ao mesmo tempo, espiritual e material, mas a ênfase está na Ideia, no Espírito, que dá sentido e coerência à Vida, pois é o Espírito que significa a matéria, e sem Aquele esta é morta, na medida em que é o Espírito que dá unidade à matéria, sendo Ele próprio a verdadeira Unidade.
Uma vez adotada essa posição, por vontade livre, a pessoa ingressa num determinismo ideológico, pois suas ações passam a ser condicionadas por essa visão de mundo, por essa Ideia, aceitando os efeitos de sua conduta sobre o mundo e vice-versa, considerando que não vemos o resultado final de todas as nossas ações, ele não é imediato, porque esse determinismo muitas vezes atua de forma diferida ou por meio de um salto quântico, em que o além está determinado, ainda que não possamos percebê-lo.
No salto quântico não há continuidade aparente no movimento da partícula, ela está em um ponto e depois em outro, como num passe de mágica. O elétron está numa camada de energia e, de repente, surge em outra camada de maior (ou menor) energia, que é transcendente àquela anterior, com a qual não mantém contato evidente.
Saliente-se que a nova camada eletrônica (ou as novas camadas, que são várias) está lá com suas características, que podem ser tidas por “inconscientes” para o elétron, até que este chegue a esse nível e se comporte com as qualidades desse nível.
No plano humano acontece algo semelhante, em que os níveis quânticos são hermenêuticos e espirituais. A pessoa se entende num corpo, depois numa família, num clã, numa cidade, numa nação, dando saltos quânticos hermenêuticos para alcançar os respectivos níveis de realidade intelectual, de consciência.
O nível final de consciência é o da humanidade cósmica, em que a pessoa se percebe como membro da coletividade da Vida e do Cosmos, incluindo os entes que a antecederam e os que a sucederão. A pessoa se desfaz de seus condicionamentos locais, para agir como uma consciência coletiva, também no nível local, mas com o Espírito, além dos meros interesses individuais ou grupais, tendo em vista a comunidade humana, a comum unidade das pessoas.
O auge dessa consciência foi alcançado por Jesus Cristo, que agia conforme o Logos, Deus, a Consciência Cósmica, o Espírito, sendo fiel à sua visão de mundo, agindo livremente segundo sua religião, mas determinado por ela, submisso a Deus, confiando nos efeitos de sua ação conforme sua fé, sua religião. Nesse sentido foi até a morte, que teve como um de seus efeitos o de confirmar sua religião perante os apóstolos, sua visão de mundo Espiritual, uma vez que ressuscitou, o que é prova, para os cristãos, de que a realidade é mais do que vemos, indicando que há uma ordem espiritual com seu determinismo.
Determinismo está diretamente ligado à noção de causalidade. O determinismo materialista é regido pela causalidade local e limitado pelo princípio da incerteza, segundo o qual não há certeza, mas probabilidades, significando, em última análise, uma ideologia caótica. Para o determinismo idealista ou espiritual a causalidade verdadeira é não local, ou seja, é global, valendo o que é chamado de Causalidade Vertical por Wolfgang Smith (In O Enigma Quântico: Desvendando a Chave Oculta. Trad. Raphael de Paola. Campinas, SP: Vide Editoral, 2011, capítulo VI), indicando uma causalidade difusa, ligada a um campo de energia que está numa camada ainda não compreendida pela física, mas que permite os fenômenos conhecidos como emaranhamento ou entrelaçamento quântico, ou tunelamento quântico, decorrente da natureza global e indivisível da realidade. Esse tema foi desenvolvido no artigo “As regras do jogo da Vida”, e está diretamente ligado a ele, valendo a leitura (http://emporiododireito.com.br/as-regras-do-jogo-da-vida/).
O determinismo idealista ou espiritual exige humildade, tendo em vista em que se deve reconhecer a impotência do homem diante de Deus, do Cosmos, impotência essa que é mitigada pelo fato de que a mesma cosmovisão, a religião, indica que há sentido na Vida e que Deus é Bom e Justo, e está no controle de todas as coisas. Por isso, não há verdadeiramente acidentes, mas a Providência agindo por trás de tudo. Deus é fiel e cumpre suas promessas, o que significa que a razão divina é absoluta, e nela se pode confiar, mesmo que seja provisoriamente ininteligível. A pequenez do homem não é nada diante do poder de Deus, sendo que a fé correta, ligada à razão correta, ao Logos, salva. Mais importante que ganhar qualquer conflito pontual, é vencer a batalha final, a guerra. Assim, essa aparente impotência implica grande potência, pois “Se Deus está conosco, quem estará contra nós?” (Rm 8, 31).
“Quem habita na proteção do Altíssimo pernoita à sombra de Shaddai, dizendo a Iahweh: Meu abrigo, minha fortaleza, meu Deus, em quem confio! É ele quem te livra do laço do caçador que se ocupa em destruir; ele te esconde com suas penas, sob suas asas encontras um abrigo. Sua fidelidade é escudo e couraça. Não temerás o terror da noite nem a flecha que voa de dia, nem a peste que caminha na treva, nem a epidemia que devasta ao meio dia. Caiam mil ao teu lado e dez mil à tua direita, a ti nada atingirá” (Sl 91, 1-7).
Nesse mundo de probabilidades, Deus age além das possibilidades, pois Deus é o Deus do impossível; o que é o caso da ressurreição para os materialistas, uma coisa impossível. Não temos acesso ao vácuo quântico, ao nível subquântico, que possui energia infinita, pelo que nosso conceito de impossível é certamente limitado.
“Jesus, fitando-os, disse: ‘Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível’” (Mc 10, 27).
Humildade é contrário de orgulho, ou vaidade, e esse pecado é o principal, que levou à Queda, à separação do homem de Deus, e do homem da natureza; e enquanto essa postura da humanidade perante a Vida não for mudada, a desordem continuará, como nas guerras e no aquecimento climático.
O livre-arbítrio permite a escolha, que no fim das contas, é entre esses dois modos de ver o mundo: segundo um caos materialista ou conforme a ordem espiritual; e feita a opção, em espírito e ação, os efeitos são determinados pelo conjunto das ideias, o pacote é completo: para uma vida de caos, e sem direção, ou de ordem, ainda que oculta, mas com sentido.
A escolha leva à servidão da matéria ou do Espírito. E nosso livre-arbítrio nas atividades diárias consiste na constante atenção de conter os impulsos, pois a neurociência nos diz que nossa liberdade é exercida numa fração de segundos, apenas para conter a reação instintiva do corpo. O treinamento contínuo do Espírito, pela oração, pelo estudo e pela prática das virtudes, facilita a contenção da ação instintiva, para a ação espiritual e inteligente. Sem a restrição dos impulsos somos escravos da carne.
Entendo que estamos no limite de um nível de energia, prestes a um salto quântico coletivo, salto esse que é também hermenêutico, de sentido do mundo, de interpretação de todas as coisas, e feito o salto, a mudança intelectual gerará os efeitos coletivos, prenunciados como era messiânica, ou Reino de Deus, mas para isso, seguindo as Escrituras, está sendo necessário o sofrimento coletivo, pelas guerras, fomes, doenças, fenômenos decorrentes do descontrole individual e coletivo do egoísmo e dos instintos carnais, até que esse movimento atinja o limite do insuportável, gerando a energia necessária para a mudança de cosmovisão e atitude no plano global, para que a humanidade seja então guiada pelo determinismo ideológico ou espiritual, pela melhor razão, que é coletiva, pelo Logos.
Para o retorno do Messias é necessário que se complete a energia psíquica suficiente para o salto quântico, a catarse coletiva, para que a nova consciência, inaugurada por Jesus Cristo, se torne manifesta, irrompa à consciência coletiva, atingindo cada um e todos os homens vivos. O apocalipse descreve, assim, a transição de fase da humanidade, de um estado em que a consciência potencial será transformada em consciência real, em pensamentos em toda sua realidade, com todo o desconforto para aqueles com débito energético com o meio, como um pesadelo acordado, ou seja, os que acumularam experiências de vida em detrimento consciente da vida alheia terão o retorno físico e psíquico de suas ações. O organismo humanidade cósmica irá agir contra seus membros indesejáveis, como numa reação imunológica, atacando um corpo estranho ou uma infecção.
“E eles clamaram em alta voz: ‘Até quando, ó Senhor santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra?’ A cada um deles foi dada, então, uma veste branca e foi-lhes dito, também, que repousassem por mais um pouco de tempo, até que se completasse o número dos seus companheiros e irmãos, que iriam ser mortos como eles” (Ap 6: 10-11).
“‘Não danifiqueis a terra, o mar e as árvores, até que tenhamos marcado a fronte dos servos do nosso Deus’. Ouvi então o número dos que tinham sido marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel” (Ap 7: 3-4).
O quantum da revelação divina é medido pelo número dos cento e quarenta e quatro mil. Atingido esse limite de injustiça e desequilíbrio, a energia será suficiente para o salto, que levará à Justiça, à harmonia e à Paz. Como no plasma, as pessoas deixarão de se guiar pelos seus egoísmos e agirão “ionizadas” por Deus, pelo Logos, atuando individual e coletivamente em harmonia. O poder humano, inclusive no nível político internacional, será exercido pela melhor Inteligência, como na República idealizada por Platão e profetizado como Reino de Deus ou Era Messiânica.
“Assim diz o Senhor Iahweh: Tu és aquele de que falei nos dias antigos por intermédio dos meus servos, os profetas de Israel, os quais profetizaram naqueles dias, anunciando que eu havia de trazer-te contra eles. Sucederá naquele dia, em que Gog vier contra a terra de Israel, — oráculo do Senhor Iahweh — que a minha cólera transbordará. Na minha ira no meu ciúme, no ardor da minha indignação eu o digo. Com efeito, naquele dia haverá um grande tumulto na terra de Israel. Diante de mim tremerão os peixes do mar, as aves do céu, os animais do campo, todo réptil que rasteja sobre a terra e todo o homem que vive sobre a face da terra. Os montes serão arrasados, as rochas íngremes, bem como todos os muros ruirão por terra. Chamarei contra ele toda espada, oráculo do Senhor Iahweh; será a espada de todos contra todos. Castigá-lo-ei com a peste e o sangue; farei chover uma chuva torrencial, saraiva, fogo e enxofre sobre ele e as suas tropas e os muitos povos que vierem com ele. Engrandecer-me-ei, me santificarei e me darei a conhecer aos olhos de muitas nações e elas saberão que eu sou Iahweh” (Ez 38, 17-23).
Nesse Dia a humanidade entenderá o determinismo espiritual, a ação de Deus na História, ainda que, por ora, “apenas” pelas forças da natureza. Uma “grande coincidência”, mas uma Coincidência Divina, profetizada há quase três mil anos, fará como que o Logos, a Inteligência, exemplificado por Jesus Cristo, e não o egoísmo, passe a governar as pessoas e, consequentemente, as nações.
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