Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
O discurso era o mesmo:
é preciso mudar para modernizar!
E o rolo compressor
demonstrou o seu valor:
deixar de ser gente
para ser intermitente...
mas, se ganhar mais,
ser hipersuficiente,
ou também estar
gestante ou lactante
trabalhando sem restrição
em local insalubre
pela liberdade de um tostão
a mais na conta corrente...
O discurso era sedutor:
é preciso combater a má fé!
E o direito de ação
encontrou sua limitação:
afinal, só pode ser abuso
querer procurar direitos de graça,
porque é caro demais
postular para ficar devendo:
a audácia de buscar lã,
para voltar tosquiado...
Agora tudo pode ser negociado,
desde que seja para perder
o pouco que sobrou:
prometeram nenhum direito a menos,
mas deram apenas menos direitos...
Vire autônomo exclusivo
ou descubra que
vale quanto ganha
quando pleitear reparação
por danos extrapatrimoniais...
Terceirize sua atividade,
resolva-se com arbitragem
ou ganhe gratificação
em vez de salário...
Descubra-se em uma encruzilhada,
em que terá de escolher
entre ter direitos sem nenhum emprego
e um emprego sem direito a ter direitos
Seja tratado como coisa,
pois seu preço é a culpa da crise
Assim, é melhor chamar de
abono, prêmio ou participação,
mesmo que não deixe
de ser seu único ganha-pão
Os fins justificam os meios
A ordem agora é
flexibilizar tudo:
empresas sem empregados,
pessoas sem coração,
terceirizam até a Justiça,
se houver acordo com o patrão
O tempo passa,
só não passa a sensação
de ser passado para trás
Direitos mudam ou desaparecem
e só não some o único direito
verdadeiramente inalienável
e presente desde criança:
o de chorar sozinho
por ainda manter a esperança...
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