The Big Bang Theory, ou a Teoria da Grande Explosão, é uma explicação hipotética da deflagração do Universo: uma explosão o teria trazido ao seu atual estado e o mantém em expansão, em movimento de diástole. Os corpos celestes distanciam-se de um ponto central e entre si.
Visto que o Universo, em tese, se expande há incontável tempo, em algum momento, supostamente, haverá ocorrido uma explosão de incalculável magnitude que terá dado partida ao estado em que tudo se afasta de tudo em velocidade que se acelera sobre si própria (exponencial).
Isto não é inferência conclusiva, tampouco é algo conferível; apenas se convencionou a hipótese (proposição que se admite, independentemente do fato de ser verdadeira ou falsa, como um princípio a partir do qual se pode deduzir um determinado conjunto de consequências, Houaiss).
Religiosos veem nesse início um criador. Aristotélicos veriam a partida do motor que movimenta o mundo. Cientista algum acredita que a hipotética explosão seja o começo do mundo, até porque, se havia algo para explodir, já existia, óbvio, uma compactada matéria que sofreria a explosão.
Essa questão do “começo de tudo” permanece uma incógnita. Simplesmente, por ora, não se sabe quando o Universo passou a existir. Talvez porque a ciência ainda não tenha meios de conferir, quiçá porque a nossa noção de tempo não seja adequada aos sofisticados cálculos necessários.
Esse tema aparta crença religiosa e pensamento científico. O cientista sabe que não sabe; propõe-se um por quê?; interroga-se e se informa. O religioso pensa que sabe; tem resposta pronta; impõe-se um porque:; responde-se que uma divindade criou o céu, a Terra e o que habita o mar e o ar.
Derrui-se a “certeza” religiosa com lógica singela: se necessário um ser criador do mundo, então, igualmente necessário um ser criador do ser criador do mundo. Se o mundo não pode existir sem um deus, então referido deus não pode existir sem que um criador antecedente o tenha criado.
Ademais, se, por declaração de fé, postula-se um efeito sem causa (ou um deus causa de si mesmo, autogerado), por coerência se admitirá que toda e qualquer coisa dispensa causa para ser efeito: o mundo, pois, poderia existir a partir de geração espontânea, produzindo-se a si próprio.
É dito: “Nada pode vir do nada, tudo necessita de um criador”. Bem, se nada pode vir do nada, então um criador também não pode vir do nada, donde, para existir um criador teria que haver outro criador antecedente, e assim sucessivamente, em eterna marcha à ré. Lógico, não é?
Mas, variei do rumo. A The Big Bang Theory que apeteço considerar é outra: a série de televisão intitulada Big Bang: A Teoria. Nela, um físico teórico, Sheldon Cooper, puro intelecto, compreende (logicamente) o Universo, mas não compreende (abismadamente) o mundo ao seu redor.
Em algum episódio, de forma amistosa, alguém lhe deseja sucesso em um concurso a que se submeteria, ou seja: faz-lhe votos de boa sorte em tempo futuro. Sheldon contém sua pressa e dá margem ao espanto com indignada absurdidade: outro cientista se permitira encomendar o futuro.
Ora, como alguém, mais ainda um colega seu, com algum rasgo de sensatez vê sentido em desejar qualquer sorte, boa ou má? Coisa tola. O futuro, desimportam boas ou más estimas, será aleatório. Não há pensamento positivo que nos proteja, não há praga que nos maleficie.
Esse episódio de Big Bang: A Teoria me ocorreu porque não pude evitar o testemunho de encomenda dessa natureza: alguém desejando a alguém que houvesse sol em dado fim de semana. O destinatário da vontade, agradecido, solicitou que o emitente rezasse para que assim ocorresse.
Veio-me o Sheldon. Lembrei que tribos primitivas dançavam ao redor do fogo, almejando influenciar as condições climáticas; que a gente medieval rezava para chover ou fazer sol, mas que, hoje, aplicativos fornecem com elevado grau de certeza a condição do tempo dos dias seguintes.
O tal alguém, orientado no manejo do próprio telefone, com a ciência frente aos olhos, conferiu o aplicativo. Bestificado, expressou-se: graças a deus, que ouvira as encomendadas orações, não choverá. Sheldon conteve-se e volveu à física teórica, que a vida prática é nada fácil de se aturar.
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