Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Quando a penumbra caiu diante de nós como cortina espessa,
Eu vi a viscosidade de um tempo líquido encobrir certezas;
Eu ouvi as vozes das ruas, gravando em força e pedra,
A história circular de uma antiga era;
Repetindo o tempo de homens partidos,
Despertos, errantes, ansiosos e aflitos.
Todos sedentos de fantasias e teorias elegantes;
Nesse mundo tão estreito de vizinhos tão distantes.
Parece Pandora com a caixa aberta,
Quando os demônios soltos espalham dúvida sobre a terra.
Mas também vi, no fundo da caixa, resplandecente e verde estrela;
Vencendo com sua luz a penumbra, a dúvida e a pedra,
Vencendo a inércia que nos ata
E a estranheza que nos separa.
Esperança é seu nome e brilha além da serra,
Acima do preço do pão e do valor da terra;
Reluz além do maior mirante,
Guiando o pragmático escudeiro e o cavaleiro andante;
Pois sabem que a vida é barco de vela aberta,
Conquista à procura de navegante.
Mas a esperança pede ação.
Pois é do embate das nuvens carregadas que vem o relâmpago e o trovão.
É necessário romper o rudimentarismo do desejo,
Para que essa força luminosa passe de mero lampejo.
Quem espera não alcança nada além da visão;
É filho pródigo e prematuro da omissão.
“Audácia, audácia e mais audácia”, disse o revolucionário;
Mas, hoje, os curtidores refugiam-se no mais próximo balneário.
Se esquecem que é do suor e do risco que vêm o novo e o troféu.
E que ninguém deveria se levantar da cama sem sonhar, um dia, tocar o céu.
Imagem Ilustrativa do Post: light and shadow 2 // Foto de: Rookuzz. // Sem alterações
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