Vocifera-se contra Eduardo Cunha. O presidente da Câmara dos Deputados é demonizado por céticos antirreligiosos, por indignados com a corrupção, por dilmopetistas de torcida interessada ou não, por alguns ladinos de ocasião.
Eduardo Cunha é mais grave do que essas coisas. Ele é um dos expoentes do que se denomina Bancada Evangélica. São 69 deputados e 3 senadores. Há parlamentares do PT, PSDB, PMDB, PRB, PSC, PR etc (conto-os em 16 partidos).
Faço outros cálculos (com eventual erro): PT, PMDB, PTB, PCdoB, Pros, PRB, PSD, PR, PP e PDT apoiam o governo. Esses partidos abrigam 62% da Banca Evangélica. A Banca Evangélica apoia Cunha e apoia o Governo.
Dilma recentemente buscou o PSC. Se houvesse obtido sucesso, teria mais 14% dos deputados que escoram Cunha alinhados a ela. Nessas coisas está a graça e desgraça dos inocentes políticos que se insurgem sem direção.
Bem, estes deputados são os evangélicos, que se manifestam publicamente em defesa de suas causas conservadoras. A eles se devem somar católicos, espíritas etc, que atuam sem tanto estardalhaço, mas com os mesmos objetivos.
Sobre tudo isso, um outro grupo denominado Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família. São 236 deputados mais senadores (contei 7). Aqui, igualmente, se misturam e se acertam parlamentares da base de Dilma e de Cunha.
As notícias mostram que aumenta o número de parlamentares militantes das causas conservadoras. Alguns deles são campeões de votos, elegendo a si e a companheiros seus com a sobra de votos trazidos para a sua sigla.
Se os evangélicos compusessem um partido, ele seria o terceiro maior da Câmara. Se a Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família se organizasse em uma sigla, ela seria a maior do Congresso Nacional.
Relembrando: esses parlamentares são “do” Cunha tanto quanto são “da” Dilma. Alguns foram ou são ministros de Lula e de Dilma. Sem ilusões, pois, de que conflitam ou são conflitados pelo atual governo.
Então, de repente, nos surpreendemos com a Emenda à Constituição 99/11, que reconhece em entidades religiosas o poder de propor no Supremo Tribunal Federal ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade.
Tal é o poder religioso conservador (não só dos evangélicos) que o texto recebeu apoio unânime na Comissão Especial que analisou a matéria. Seja: deputados “do” Cunha e “da” Dilma votaram exatamente do mesmo modo.
Seu próximo objetivo é a PEC 33. Por esse projeto de emenda constitucional, os deputados hostis aos avanços sociais, sejam os “do” Cunha, sejam os “da” Dilma, querem o poder de derrubar decisões do STF.
Cunha é absolutamente transparente nos seus propósitos e nos fundamentos do seu agir. Age movido por suas convicções, tem a intenção de atender seus eleitores. O deputado é singelo, mas verdadeiro.
Cunha, ademais, tem lastro. Um terço do país é evangélico. O Executivo, Dilma, que poderia fazer enfrentamento, está encurralado em incompetência e corrupção. Por fim, a intelligentsia nacional, que seria uma luz ética, caiu em descaminho.
A esquerda crítica independente, que poderia cobrar retidão e República, jogou-se na tentação de perdoar todos os erros da esquerda (que vejo de direita) no poder. Os deslizes se foram acumulando até que tudo estourou em desmoralização.
O governo está desmoralizado. Cunha entende de desvios morais. Vai jogar bem com isso, com a carta do impeachment de Dilma na mão. A não ser que um dos dois caia em decorrência de algo novo, os conservadores vão ditar suas leis para o Brasil.
Imagem Ilustrativa do Post: Presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha // Foto de: PMDB Nacional // Sem alterações
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