Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Faz tempo que já estou morta
todas as manhãs obrigo-me a reviver
não posso acalentar o sono eterno do outro mundo
se aqui as lágrimas continuam jorrando em rios de sentir
não posso atravessar o lago, o outro lado, depois do lodo
se aqui os lobos seguem arreganhando dentes,
arrebatando gentes
Faz tempo que já estou morta
morro todos os dias, horas, minutos,
a cada derradeiro suspiro de um dos teus, dos seus, dos meus,
somos todos nossos
Faz tempo que já estou morta, em vida,
quando a última flor cair do caule
‘inda estarei erguida, temerosa eremita
entre janelas abertas e portas trancadas
procurando frestas estreitas para respirar minh’alma
depois da carne desfeita
somos todos ossos
Não espere que eu escreva um bom epitáfio
quando do verbo nem sobrará a língua
e meu nome estará vagando em anônimos caminhos
– depois da vida perdida
somos todos esquecimento
no crime continuado do insano capitalismo –
Imagem Ilustrativa do Post: Capitalism the Vortex of Death // Foto de: photographymontreal // Sem alterações
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