Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Pendurei tijolos na janela,
neguei-me a vê-los empilhados à beira,
no esmo das coincidências inverossímeis,
quero tijolos para a construção de lugares habitáveis em vida, um a um,
unidos em muitas paredes pulsantes,
guardando segredos de gerações inteiras.
Não me venha com discursos de opressão,
já basta a morte rondando as ruas,
catando as gentes frágeis pela garganta,
roubando o ar da sua graça,
na triste moeda de troca do desespero sem volta.
Pendurei tijolos na janela,
como um pedestal homenageando as [inacreditáveis] partidas,
neguei-me a vê-los empilhados à beira,
esperando a fila interminável sem despedidas.
Insisto que um tijolo seja respeitado em sua sina
de fazer da vida uma fortaleza bem protegida
na casa que nos guarda a portas fechadas,
onde ainda insistimos,
embora silentes,
que nos é de direito a vida por inteiro,
– só depois o barco de Caronte,
a viagem, as despedidas –
até a hora [exata] da nossa morte, amém!
(que até a hora da nossa morte, amem!)
Imagem Ilustrativa do Post: centro // Foto de: Gabriel de Andrade Fernandes // Sem alterações
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