Construção

02/10/2022

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Pendurei tijolos na janela,
neguei-me a vê-los empilhados à beira,
no esmo das coincidências inverossímeis,
quero tijolos para a construção de lugares habitáveis em vida, um a um,
unidos em muitas paredes pulsantes,
guardando segredos de gerações inteiras.

Não me venha com discursos de opressão,
já basta a morte rondando as ruas,
catando as gentes frágeis pela garganta,
roubando o ar da sua graça,
na triste moeda de troca do desespero sem volta.

Pendurei tijolos na janela,
como um pedestal homenageando as [inacreditáveis] partidas,
neguei-me a vê-los empilhados à beira,
esperando a fila interminável sem despedidas.

Insisto que um tijolo seja respeitado em sua sina
de fazer da vida uma fortaleza bem protegida
na casa que nos guarda a portas fechadas,
onde ainda insistimos,
embora silentes,
que nos é de direito a vida por inteiro,
– só depois o barco de Caronte,
a viagem, as despedidas –
até a hora [exata] da nossa morte, amém!
(que até a hora da nossa morte, amem!)

 

 

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura