Cartas à Benguela

30/03/2019

Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos

Ouvi o poeta recitar versos de amor, dizia-se possuído por deuses esquecidos e bradava ter Vênus a soprar o próprio Amor em seus ouvidos.

Benguela,

O sábio dos versos não sabe o que diz!

O que sabes de amor, aquele que traz à mão grilhões que nos prendem às suas vontades?

Benguela, ele não sabe!

Vênus, ganha cada tostão de liberdade na Freguesia da Vitória em busca da tal carta que há de nós libertar.

Ao anoitecer, repousa teu corpo nas folhas caducas de nativo e sob as sombras da densa árvore espera meu corpo sedento. Enlaço-me em teus braços amantes, mergulho em teu colo, peregrino no vale que se faz entre teus montes e me nutro de amor.

Somos duas e só a lua testemunha nosso segredo.  A noite mansa e quente a confundir-se com o véu negro de nossos corpos, cúmplice, nos oculta.

Vênus me fala de amor em crioulo e seu dedilhar em minhas costas acusam as marcas que ganhei por buscar a liberdade, Vênus me faz esquecer a dor.

Meus lábios acobreados passeiam-te, miro teu norte, língua serpentea-te e sucumbo a cada fio de água doce que flui de ti.

Entre gemidos, grunhidos, sorrisos, lágrimas e gritos sorrateiramente interrompidos minha boca cúmplice arranca de ti, Vênus, a alma.

 

Feminismos, Artes e Direitos das Humanas

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

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