Coluna Direito e Arte / Coordenadora Taysa Matos
Vestida de silêncio
Ela conduz a valsa com os pés descalços sentindo o jardim de cacos e arame farpado
A dança sangrenta dos sentidos mais profundos move seu corpo lentamente.
Um vestido branco de cetim cheirando a guardado desenha as curvas dos infortúnios
Com a delicadeza de um sofrimento sufocado.
Emudecida pelo cansaço de agradar a todos,
Eis o preço da permanência em um lugar ao qual não pertence.
Amarras de espinhos cobrem-lhe os olhos e correntes oxidadas prendem seus punhos
Ela não conseguiu acostumar-se com as tentativas de moldá-la em uma forma de padrões impostos.
Na dança das cordialidades falsas, nunca aceitou agradar e agradecer.
Sentia-se enjaulada, tal como uma fera indomável que habita os calabouços escondidos
Ela não era o exemplo nem a vontade genuína de alguém.
Exalava um perfume de angústia
Notas de jasmim e tristeza.
Estar num mundo em que as dores não atingem o resto, mas lhe perfura alma, soa como uma espécie de tortura cotidiana.
Na sequência dos movimentos da dança impiedosa, os pés cortados narram a sua história de descontentamento.
Talvez ela nunca quisesse pertencer e tenha nutrido um imenso orgulho por não ter se tornado mais um lobotomizado por aquela cidade.
Todos sabiam seu nome
Até aqueles que queriam vê-la morta em um caixão aberto para olhar a sua face e justificar sua partida com a sua rebeldia.
Imagem Ilustrativa do Post: suffocate // Foto de: Christina Victoria Craft // Sem alterações
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