AS QUESTÕES DAS VERSÕES DE UM CRIME

30/05/2018

Um réu confesso. Várias testemunhas que mentem. Uma advogada inexperiente e com passado manicomial. Um advogado flutuando em teses e versões. Só essas informações, por si só, são misturas homogêneas de uma boa receita filmográfica.

Versões de um crime apresenta enredo envolvente e com muitas surpresas ao longo da estória.  Existem, é bem verdade, máculas cinematográficas, mas como minha visão é mais aguçada para a presença do Direito, acabei assistindo desprezando as inconsistências lógicas de determinados desfechos.

A trama se passa quase que inteiramente nas dependências de um tribunal norte-americano. A personagem de Keanu Reeves, um advogado experiente e proprietário de um estilo bem clássico, assume a defesa do filho de uma amiga. O jovem, pré-universitário, é acusado confesso de ter assassinado seu pai, em um típico caso de parricídio.

A história é contada a partir dos depoimentos das testemunhas chamadas para depor no tribunal. A incoerência de seus depoimentos e as técnicas usadas pelos advogados só corroboram para mostrar as mentiras ou as versões criadas pelo testemunho. No Direito Estadunidense, é bom lembrar, existe o crime de perjúrio. Enquanto aqui no Brasil vige o crime de falso testemunho. Na esteira do caminhar da película, para nós, espectadores, são mostrados diversos flashbacks com possíveis acontecimentos imaginados ou reais.

Destarte, como se fôssemos jurados somos obrigados a nos posicionar seja do lado do acusado, seja do lado da vítima, seja do lado da mãe.

Mike confessa ter matado. Mas e o motivo? Ele se nega a falar com qualquer pessoa, inclusive com seu advogado e com sua mãe. Na aproximação epilogar do filme, ele abandona o seu lado emudecido e conta sua versão.

O advogado Richard Ramsey resolve buscar auxílio de outro colega advogado, o famigerado Dr. Brady, causídico que desperta admiração e respeito dos juízes e da sociedade como um todo. Por questões particulares, Brady não pode comparecer para funcionar como advogado ao lado de Ramsey, porém envia sua filha Janelle Brady, recém-formada por uma grande universidade de Direito e com talento para detectar mentiras. O que Ramsey não esperava era que Janelle fosse totalmente inexperiente e com um passado de internação em manicômio devido ataques obsessivos.

Com o cliente totalmente rendido as emoções e calado; com diversas testemunhas fantasiando versões de seus depoimentos; com uma colega assistente inexperiente e com episódios de transtornos emocionais, Ramsey não sabe o que fazer, não sabe como defender e como interceder. O mais interessante de tudo, sem parecer spoiller, é que ele sabe desde o primeiro milésimo de segundo do primeiro take do filme: o que fazer sobre a verdadeira versão. 

The Whole Truth - Courtney Hunt. Direção: Nicholas Kazan. Elenco: Keanu Reeves, Renée Zellweger, Gugu Mbatha-Raw, Gabriel Basso, Jim Belushi, Sean Bridgers, Christopher Berry, Ritchie Montgomery, Jim Klock, et al. COR, USA, 2016, Suspense Policial, DVD, 94 min.

 

Imagem Ilustrativa do Post: algemas // Foto de: Naiane Mello // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/dallion/1355568361

Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/2.0/legalcode

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura