A realidade da vida está na cidade, na pequena pátria; nela acontece a existência concreta. Não refiro apenas o cotidiano operacional, os afazeres, mas também a vida afetiva: nossa memória, os lugares da infância, os locais de recordação dos entes querido.
A qualidade de vida de um lugar depende muito dos seus políticos, da sua competência pessoal, da sua rede de relacionamentos, dos cargos que seus políticos ocupam. Seja: a característica de vida da cidade está relacionada aos políticos que ela elegeu e mantém.
A cidade será mais poderosa se o seu corpo de autoridades estiver composto, além do prefeito e de vereadores, por deputados estaduais e federais, secretários de Estado, governador. Tubarão carece um de deputado federal, mas tem dois deputados estaduais.
No tabuleiro do xadrez político, quero tratar da eleição municipal, que destaca nas pesquisas um ex-prefeito e um deputado estadual. Acompanhei entrevistas e debates. Formei convicção do preparo do ex-prefeito Carlos Stüpp, assim como do deputado Estener Soratto.
Tubarão, contudo, há que ponderar além das qualidades dos candidatos; há interesses estratégicos em jogo no palco do poder. Evidentemente, a cidade não deveria dar-se ao desatino de dispensar um deputado estadual de suas incumbências compromissadas.
A cidade de Tubarão – e a região da Amurel – conferiu a Estener Soratto um mandato, concedeu-lhe poderes para o desempenho de uma representação. A delegação que lhe foi atribuída para representar o povo tubaronense não é propriedade particular sua.
Esse contrato designa duas vontades: uma dá um encargo, outra o aceita. Soratto pediu um mandato de deputado ao povo, o povo lho concedeu. O deputado não pode desembaraçar-se dessa delegação representativa. Seu ofício é do interesse da cidade.
Sim, eu sei que ele argumenta ser amigo do governador e que, por gozar de tal relação, receberá, como prefeito, vantagens que outro não receberia. Ora, isso não é argumento de político sensato, pois uma declaração dessas é, desde logo, um crime eleitoral.
Ademais, não é assim que ocorre o trâmite das verbas. A obtenção de recursos não depende da simples declaração de amizade com autoridade superior, mas de capacidade de articulação, de inclusão no orçamento etc. Depende também de deputados. Soratto sabe disso.
Soratto compôs o governo Joares/Caio, então está informado do tanto de verbas estaduais e federais canalizadas para Tubarão, sem que o então prefeito pertencesse ao partido do governador ou ao do presidente da República. Foi habilidade política.
Soratto seria um bom prefeito? Suponho que sim. A cidade, porém, o deputou; ele é deputado, e deputado, para o interesse geral de Tubarão e região, deve permanecer. Stüpp, à sua vez, seria bom prefeito? Creio que sim. Por quê? Porque já demonstrou sê-lo.
Em eleição anterior, defendi que Stüpp não era o melhor candidato. O mesmo não ocorre agora. Não se trata de argumentar superioridade política ou administrativa sobre Soratto, mas de postular qualidades equivalentes de Stüpp e conveniência para a cidade.
Retomo: no campo político, é melhor para Tubarão ter dois deputados (Collaço e Sorato). Por que reduzir nosso poder, dispensando um deputado de sua essencial função? Dois bons nomes, Soratto e Stüpp: por que um não segue deputado e ao outro se elege prefeito?
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