Este texto se dividirá em duas etapas.
A primeira é argumentativa e a segunda por meio da divulgação de dados.
É com grande assombro que se constata a quantidade de estabelecimentos comerciais espalhados em todos os pontos das cidades brasileiras cuja economia é unicamente extraída do tabaco e da bebida alcoólica. Alguns funcionam 24 horas durante todos os dias da semana, ou, em lugares bastante suspeitos (na frente ou ao lado de: Escolas, Universidades, Hospitais de Recuperação, etc...) e perigosos (Postos de Gasolina e próximo de Rodovias).
Ora, mas qual é o problema se a lei permite a fabricação, venda e consumo destes produtos para maiores de idade (os quais em tese possuem absoluta consciência dos seus atos e da consequência dos mesmos)? Não usa apenas quem quer (tem vontade), pode (possui condições econômicas), onde (no lugar mais acessível ou agradável), quando (pode escolher qualquer dia e hora) e quanto quiser (desde o simples gole ou trago em diante)? Não basta serem consumidos com moderação para inexistir dano (ou seja, tais produtos não seriam por natureza prejudiciais à saúde e ao comportamento social, mas apenas quando utilizados em excesso)?
Para responder, em poucas palavras, enumero três pontos:
Em primeiro lugar: até hoje nenhuma pessoa na face da Terra se tornou mais bondosa, moralizada, inteligente, estudiosa, trabalhadora, amiga, familiar e sociável fazendo uso de tais Drogas (não trazem qualquer benefício).
Em segundo lugar: tais produtos causam dependência/viciam (despertam constante desejo e provocam a perda do controle. Isto é não são produzidos para serem experimentados ou utilizados com moderação).
Em terceiro e último lugar: quem ganha dinheiro com tais produtos não querem ser responsáveis por nada de mal que aconteça. Ora, se algo negativo ocorrer sob o efeito destes produtos (acidente, perda do emprego, falência, doença, internação, entrar em coma, agressões, crime, morte, etc...) os seus fabricantes provavelmente dirão que tais danos não tem qualquer correlação. Caso haja alguma ligação, a culpa é exclusiva do consumidor que é maior de idade e sabedor dos riscos a que está submetido (afinal de contas ninguém o obrigou a usar, bem como a se exceder ou praticar qualquer ato irregular. Tanto é verdade que outra pessoa que consuma o mesmo produto e na mesma quantidade não realizou tal conduta infeliz ou sofreu qualquer prejuízo, bem como é perfeitamente possível usar tais drogas lícitas a vida inteira sem qualquer lesão). Em último caso (quando houver condenação judicial transitada em julgado fruto de provas incontestáveis) pagam indenização com seus lucros.
No clássico livro intitulado “Democracia na América” (narra experiências que o filósofo francês Alexis de Tocqueville teve nos Estados Unidos por volta de 1830) há a seguinte passagem: “Certa vez alguém me dizia na Filadélfia que quase todos os crimes na América são devidos ao abuso do álcool, que o povo simples pode consumir, pois era vendido a preço irrisório. Por que não taxam a aguardente, perguntei? – Os legisladores já pensaram nisso, mas é difícil. Teme-se uma revolta; e, aliás, os membros que votassem tal lei estariam certos de não serem reeleitos. Portanto, respondi, os amantes da bebida são a maioria e a temperança impopular.”
O relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou o álcool como o maior responsável por mortes de brasileiros entre 15 e 19 anos, seja em acidentes ou por paradas cardíacas[1]. Levantamento da OMS também constatou que o álcool pode causar mais de 200 doenças, incluindo mentais.[2]
Já, em relação ao tabaco, encontra-se no livro “Justiça – o que é fazer a coisa certa” (resultado do magnífico e famosíssimo curso oferecido na Universidade de Harvard pelo grande pensador e orador Michael Sandel) um trecho bem ilustrativo: “A Philip Morris, uma companhia de tabaco, tem ampla atuação na República Tcheca, onde o tabagismo continua popular e socialmente aceitável. Preocupado com os crescentes custos dos cuidados médicos do fumo, o governo tcheco pensou, recentemente, em aumentar a taxação sobre o cigarro. Na esperança de conter o aumento dos impostos, a Philip Morris encomendou uma análise do custo-benefício dos efeitos do tabagismo no orçamento do país. O estudo descobriu que o governo efetivamente lucra mais do que perde com o consumo de cigarros pela população. O motivo: embora os fumantes em vida, imponham altos custos médicos ao orçamento, eles morrem cedo e, assim, poupam ao governo de consideráveis somas em tratamentos de saúde, pensões e abrigos para os idosos. De acordo com o estudo, uma vez levados em conta os “efeitos positivos” do tabagismo – incluindo a receita com os impostos e a economia com a morte prematura dos fumantes – o lucro líquido para o tesouro é de R$ 147 milhões de dólares por ano.”
Em março de 2012, a Fundação Mundial do Pulmão informou que, em 2010, as seis principais fabricantes de produtos de tabaco do mundo tiveram lucros de US$ 35,1 bilhões, o equivalente ao faturamento da Coca-Cola, da Microsoft e do McDonald`s juntos. Segundo a OMS, a cada ano cerca de 5 milhões de pessoas morrem por fatores atribuídos ao tabaco. A estimativa é que em duas décadas o número aumente para 8 milhões, com 80% dos óbitos em países com menor renda. A OMS alerta: “O tabaco mata mais que tuberculose, Aids e malária juntas”[3].
O Brasil tem prejuízo anual de R$ 56,9 bilhões com o tabagismo. Desse total, R$ 39,4 bilhões são gastos com despesas médicas e R$ 17,5 bilhões com custos indiretos ligados à perda de produtividade, causada por incapacitação de trabalhadores ou morte prematura.
A arrecadação de impostos com a venda de cigarros no país é de R$ 12,9 bilhões, o que gera saldo negativo de R$ 44 bilhões por ano, revela o estudo Tabagismo no Brasil: Morte, Doença e Política de Preços e Esforços, feito com base em dados de 2015[4].
Não se enganem queridos leitores tais Drogas estão a serviço da economia à qualquer custo.
Notas e Referências
[1] Disponível em: http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2016/11/alcoolismo-cresce-entre-os-jovens-e-preocupa-oms-e-especialistas.html.
[2] Disponível em: http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,consumo-de-alcool-aumenta-43-5-no-brasil-em-dez-anos-afirma-oms,70001797913
[3] Disponível em http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/dia_mundial_sem_tabaco.html.
[4] Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-05/tabagismo-custa-r-569-bilhoes-por-ano-ao-brasil.
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