Apaga esse sorriso da cara: estudar sem esforço para concurso, um objetivo impossível (Parte 14)

17/08/2018

“Hay una alternativa a la exigencia del esfuerzo, la oración, pero se ha de tener una fe descomunal”. G. Luri 

 

  1. Remate: “El que resiste, gana”[1]

Por último, ainda que não menos importante, recordar ao sofrido leitor (a) que nenhum “guia” de sugestões, irremediavelmente incompleto, proporcionará por si só o resultado esperado. Mas, ao menos, poderá servir para não olvidar um pequeno detalhe: que apesar do fato de que o êxito dependa de casualidades incontroláveis, das circunstâncias em que se apresentam os desafios e da personalidade de quem os enfrenta, o que efetivamente importa é a entusiasmada sensação de que estamos dispostos a perseguir nossos objetivos e convencidos de que, apesar da (ou graças à) fortuna, a cada dia que passa sabemos que estamos dando o melhor de nós mesmos para chegar a ser o melhor que podemos chegar a ser, sem importar o resultado.[2]

Assim que o mistério parece estar em querer o que se deseja; querer com tantas ganas que a renúncia não seja uma alternativa possível; querer com tantas ganas que não se tema, baixo nenhuma circunstância, tentar alcançá-lo; querer com tantas ganas que para consegui-lo esteja disposto a sacrificar todo o tempo e esforço que seja necessário; querer com tantas ganas que não só esteja preparado para fracassar, senão que também esteja disposto a aprender dos próprios fracassos para enfocar, com serenidade, as coisas de maneira distinta e proveitosa. Sobretudo, há que crer que se conseguirá, porque quanto mais uma pessoa crê que pode conseguir algo, maior será o esforço empregado e mais gratificante o êxito que desfrutará chegado o momento. Os logros poucos comuns requerem um nível nada comum de motivação pessoal, intrepidez e uma quantidade ingente de determinação, confiança e esperança.

Por que digo isto? Porque se os “sentimentos são a motivação da mente” (A. Damasio) e, junto com as emoções, aparecem em resposta a eventos que são importantes para nossos objetivos, motivos e/ou preocupações, sem esse sentido ou espírito de comprometimento pessoal e emocional sempre resultará mais difícil enfrentar-se e encontrar (ou inventar) soluções a nossos problemas, a nossas debilidades, a nossas limitações e/ou à maioria de obstáculos que não são nada mais que ilusões conjuradas por nossa egocêntrica imaginação.

Em qualquer caso, se nada disso for “suficiente para quem o suficiente é pouco” (Epicuro), atentos ao ingrediente mágico para ter um êxito excepcional na vida: “sitzfleisch: «calentar el asiento» y poner todo el empeño necesario en hacer un trabajo” (Walter Mischel). Nada do outro mundo…

 

Notas e Referências

[1] Camilo José Cela

[2] Nota bene: Há que cuidar de não exagerar o papel dos fatores ambientais no êxito. Por exemplo, revisando diferentes áreas de investigação em psicologia, David Moreau encontrou um denominador comum: a crença de que os fatores ambientais são determinantes do êxito no mundo real frente a traços ou fatores inatos. A ideia subjacente é a de “que cualquiera puede triunfar en la escuela, en el trabajo o en cualquier hobby si se esfuerza lo suficiente, o si se lo propone”. Segundo Moreau, o problema não é somente pela falta de evidências científicas que respaldem esta ideia, senão também pela “estigmatización y la culpabilización que esta creencia genera”. Porque se cremos esta ideia que conflui um pouco na mesma filosofia subjacente de que “se queres, podes”, ocorre que “culpabilizamos de sus fracasos a las personas porque si no han podido es porque no quieren, porque son vagos o porque no se han esforzado lo suficiente. A fin de cuentas, si no eres medallista olímpico es porque no has dedicado las suficientes horas a ello” (https://psyarxiv.com/sv9pz). Não há dúvida de que os pontos de vista que dão mais importância aos fatores ambientais são muito mais atrativos que os que assinalam a importância de traços estáveis e as diferenças individuais, especialmente nas sociedades modernas e democráticas, altamente “disneyficadas”, em que nos satisfaz sobremaneira crer na igualdade e na fábula de que “nada é impossível”. Supina insensatez. Como disse antes, não devemos equivocar-nos: todo mundo não pode fazer qualquer coisa.

 

 

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