Anarquismos e Abolicionismos: Curso Libertário, BA Argentina – Por Guilherme Moreira Pire

14/08/2016

 "Existem pessoas, afirma o Sr. De Ficquelmont, que parecem conceber o curso do mundo como um drama dividido em atos. Elas imaginam que durante os entreatos podem se entregar, sem medo de serem perturbadas, a seus prazeres e seus negócios particulares. Elas não enxergam que esses intervalos, durante os quais os acontecimentos parecem interrompidos, são o momento interessante do drama. É durante essa calma aparente que se preparam as causas do ruído que será feito mais tarde. São as ideias que formam a corrente dos tempos. Aqueles que só veem as coisas grandes, que só escutam as detonações, não compreendem nada da história.

(PROUDHON, Pierre-Joseph, 1861)

Thiago Rodrigues, na edição 19 da revista verve, apresenta uma breve nota sobre a obra "A Guerra e a Paz" (1861) do francês Pierre-Joseph Proudhon, sublinhando o encontro que inspiraria o escritor russo Leon Tolstoi a nominar seu romance épico com o mesmo título, impressionado positivamente com os pensamentos de Proudhon sobre o papel da guerra.

Ao contrário da impressão positiva de Tolstoi, a maioria massacrou o escrito de Proudhon, mesmo libertários, a seguir caindo no esquecimento.

Destaca Thiago Rodrigues:

"A dificuldade em compreender essa outra perspectiva, distante da crença na pacificação utópica e definitiva, presente tanto nos liberais quanto entre socialistas e parte significativa dos anarquistas, fez com que o livro fosse, depois de hostilizado, praticamente ignorado nos anos seguintes, mesmo entre os libertários. A guerra e a paz foi o livro menos lido e comentando da obra de Proudhon. Foram apenas três edições em francês (1861, 1927, 1998) e nenhuma tradução integral em outro idioma desde sua publicação. Os trechos aqui publicados aparecem em inédita tradução ao português, tendo sido selecionados a partir da edição de 1998, coligida pelos editores franceses Hervé Trinquier e Henri Moysset. Procurou-se destacar os movimentos nos quais Proudhon apresenta sua noção de direito da força, problematizando o conceito de direito e paz entre juristas e contratualistas." 

[...] 

"A problematização exercitada por Proudhon, enfim, produz um combate às teorias e com as teorias internacionalistas, realistas e liberais, colocando uma perspectiva inimiga e impertinente. Atiça combates que fazem vibrar o que parece decantado e inerte, mas que é a cristalização de anos de batalhas, naturalizações, dominações e resistências." (RODRIGUES, Thiago, p. 21-22, 2011).

Há algum tempo, gostaria de propor (no limite organizar) um curso com profundidade sobre a influência de potências libertárias, como Ivan Illich, Godwin, Goldman, Bakunin, Kropotkin, Proudhon, Malatesta e tantos outros, no pensamento libertário, mas, apesar de importantíssimo, me parece (felizmente) que já existem pessoas com bastante propriedade nutrindo esforços nesse sentido.

Não que energizar essa prática seja inútil (muito pelo contrário), mas, momentaneamente, como uma escolha pontual, penso em remodelar um pouco a proposta que apresentei, acerca da organização de um curso livre de cunho libertário na Argentina (e quem sabe futuramente noutros lugares).

Um dos subtítulos que renderia atividades e debates no curso livre, poderia ser nominado como libertários contra as prisões, com ênfase nessa questão, após histórias dos pensamentos libertários.

Como esses encontros também são marcados por criminólogos, me pareceu oportuno remodelar a ideia original e propor dois títulos instituidores de tensões, de sorte a suscitar debates.

Isso dito, seguem os títulos:

(a) Reverberações do pensamento libertário nas histórias dos pensamentos criminológicos. 

(b) Anarquismos e abolicionismos como potentes ativadores de complexidades historicamente reduzidos a notas de rodapé pela criminologia no século XXI.

Assim como sobre a obra de Proudhon, é possível que algum repúdio se mostre presente acerca do curso, e após a dança venha o esquecimento.

Mas, sempre há os que apreciam essas movimentações, reinventando suas vidas libertárias no presente, com ressonâncias sublimes e imprevisíveis.

Saúde,


Notas e Referências:

PROUDHON, Pierre-Joseph. a guerra e a paz (1861).  Verve, 19: 23-71, 2011. RODRIGUES, Thiago. "a guerra, condição do homem:  nota sobre 'a guerra e a paz'  de proudhon". Verve, 19: 19-22, 2011


*Para consultar alguns textos abrangendo anarquismos e abolicionismos, (além de cursos e eventos abolicionistas já ocorridos, com participação ou não do autor), conferir em: <http://emporiododireito.com.br/tag/guilherme-moreira-pires/> - com encontros de várias potências inquietas, que vivem e energizam culturas libertárias, enquanto agitam o presente, dissolvendo mundos gosmificados, ativando complexidades, inventando e potencializando liberdades.


 

Imagem Ilustrativa do Post: Canção do Abismo // Foto de: jeronimo sanz // Sem alterações

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