Por Aline Gostinski, Fernanda Martins, Natasha Karenina, Patrícia Cordeiro, Thayla Fernandes e Vitória Buzzi - 15/10/2015
Hoje inauguramos nosso primeiro texto na coluna Feminismos. E, bom... Vamos começar do começo? Afinal, o que é feminismo?
Responder a esta pergunta, a princípio, não é difícil. Feminismo é “um movimento social, filosófico e político que tem como objetivo direitos equânimes (iguais) e uma vivência humana por meio do empoderamento feminino e da libertação de padrões opressores patriarcais, baseados em normas de gênero. Envolve diversos movimentos, teorias e filosofias que advogam pela igualdade entre homens e mulheres, além de promover os direitos das mulheres e seus interesses.”[1]
Mas e agora, com essa definição, você já entendeu realmente o que é e pra que serve o feminismo? Ou melhor, os feminismos? Ou só ficou mais confusa/o ainda?
Pra começarmos a explicação, vamos propor um exercício pra você, leitora e leitor. Pedimos que observe as pessoas ao seu redor. Todas as pessoas, que, de alguma forma, fazem parte do seu cotidiano. E comece a se questionar: onde estão as mulheres? Na rua, no seu trabalho, na sua faculdade. As mulheres ocupam todos estes espaços? Mas, e mais importante, elas ocupam estes espaços da mesma forma e com os mesmos direitos do que os homens?
Nas ruas, ou em qualquer outro espaço público, a mulher tem o direito de andar onde quiser, como quiser, a hora que quiser, vestindo o que quiser, sem sentir medo, sem ser importunada, apenas ocupando um espaço público que também é seu por direito? Pergunte às mulheres ao seu redor. Quantas se sentem intimidadas com o simples fato de... Saírem de casa? Quantas pensam e repensam várias vezes nas roupas que vestem, se são adequadas caso precisem ir a pé até certo lugar, ou andar de transporte público? Pense, também, em quem são estas mulheres que ocupam os transportes públicos, as ruas, expostas aos riscos aparentemente inerentes da condição de ser mulher, e quem são as mulheres que se locomovem de carro particular, da garagem de casa à garagem do trabalho, sem muito contato com a rua e a cidade? São todas iguais, estas mulheres?
E no seu trabalho, as mulheres, mesmo que sejam a maioria numérica, estão predominantemente ocupando cargos de liderança? Elas são as chefes, as gerentes, as diretoras? Quando você pensa em um líder, a primeira coisa que te vem a cabeça é uma mulher? Que tratamento todas estas mulheres estão recebendo no ambiente de trabalho? Elas são respeitadas? São ouvidas? E, pense ainda... Quem é esta mulher líder? Ela tem os mesmos problemas, as mesmas preocupações que as mulheres que cuidam da limpeza e da organização das salas? Que mulheres podem sonhar com cargos e salários mais altos, e que mulheres sequer foram ensinadas que sonhos assim são passíveis de serem sonhados?
E nas universidades? Onde estão estas mulheres? Em quais cursos predominam? O que lhes foi ensinado como uma área de conhecimento “inerentemente feminina”? E qual área ainda é hostil à presença delas? Elas são professoras, alunas, bolsistas, funcionárias? Elas estão sendo respeitadas pelos professores e alunos homens? E quais são estas mulheres que conseguem entrar em uma boa universidade, e dedicar horas do seu dia aos estudos, e quais sequer ousam sonhar com a universidade, pois o cotidiano impôs outras urgências, como sustentar a casa e cuidar de filhos?
A esta altura, achamos que pelo menos uma coisa já ficou clara: falar sobre feminismos é falar sobre igualdade. E não apenas sobre igualdade formal, mas materializar esta igualdade em diversos aspectos e segmentos do nosso cotidiano. A igualdade formal nos diz que homens e mulheres podem trabalhar, estudar, e, pasmem, andar na rua. Mas temos que pensar o que é necessário para viabilizar esta possibilidade, e entender que as necessidades variam conforme o grupo de mulheres que estamos tratando. Mulheres negras, mulheres transexuais, mulheres brancas, mulheres bissexuais, mulheres jovens, mulheres cissexuais, mulheres gordas, mulheres indígenas, mulheres cadeirantes, mulheres pobres, mulheres lésbicas, mulheres mães... Cada grupo vive uma realidade específica, e sofre opressões decorrentes destas realidades. Por isso falamos em feminismos: um movimento diverso, heterogênero. Diferentes mulheres têm diferentes demandas, que às vezes coincidem, e às vezes, não! Por isso, pensar em um único feminismo, com olhos somente para as diferenças entre os gêneros, nos parece bastante excludente.
Sabemos que a esta altura, você deve ter mais perguntas do que respostas. Talvez lhe ajude dizer que: nós também. Também estamos aprendendo, e também estamos cheias de dúvidas, e queremos compartilhar aqui, com você, tudo que possa ajudar a entender melhor o que são os feminismos, e pra que servem. Nas palavras da escritora nigeriana Chimamanda Adichie, “feminista é uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica dos sexos”[2]. Você acredita? Este já é o primeiro passo para o aprendizado.
A proposta, portanto, da coluna feminismos é essa, um grupo de mulheres, composto pela complexidade de seus cotidianos, articulando pensamentos sobre o direito, sobre questões feministas, sobre seus espaços de trabalhos e demandas pessoais, dialogando com homens e mulheres que estejam prontxs a repensar suas verdades e seus comportamentos.
Esse é o nosso convite, permita a dúvida e a potência dos novos olhares, pois (re)pensar feminismos é convocar a transformação de mentalidades e constituir coletivamente novas hipóteses de compreensão solidária e emancipatória.
Notas e Referências:
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Feminismo
[2] ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Sejamos todos feministas. 1a edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Aline Gostinski é formada em Direito, Pós Graduada em Direito Constitucional e Mestranda em Direito na UFSC. Professora de Criminologia e Ciência Política da Univali. Email: alinegostinski@hotmail.com Facebook: aqui
Fernanda Martins é Mestre em Teoria, Filosofia e História do Direito pelo Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina. Professora substituta na Universidade Federal de Santa Catarina e professora na Universidade do Vale do Itajaí. Professora e pesquisadora com ênfase na História do Direito, na Criminologia, no Direito Penal e Processual Penal.
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Natasha Karenina é graduada em Direito pela Universidade Federal do Piauí. Mestre em Direito e Relações Internacionais pela UFSC na área de Direito Internacional dos Direitos Humanos. Professora de graduação em Direito.
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Patrícia Cordeiro é graduanda em Direito e Comunicação Social – Jornalismo.
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Thayla Fernandes é Advogada. Graduada em Direito pela Direito na Faculdade de Direito de Vitória (FDV) e em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atua na Comissão de Direitos Humanos e na Comissão de Política Criminal e Penitenciária da OAB/ES. Cofundadora do Instituto Capixaba de Criminologia e Estudos Penais (ICCEP). Pós-graduanda em Direito Penal e Criminologia pelo Instituto de Criminologia e Política Criminal (ICPC).
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Vitória Buzzi é graduada em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, advogada, escritora do livro "Pornografia de Vingança", e, claro, feminista.
Email: vitoriabuzzi@gmail.com
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Imagem ilustrativa do post: Marcha das Vadias (Slutwalk) - Campinas // Foto de: Douglas Arruda // Sem alterações
Disponível em: hhttps://www.flickr.com/photos/douglasarruda/6207023905
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