Era uma vez uma república chamada Psémata. Nessas terras, os seus cidadãos não conheciam outra forma de relacionamento senão o virtual. Todos os instrumentos de tecnologia que favoreciam conversas surgiam numa velocidade muito rápida. Aplicativos de comunicação haviam aos milhões.

As pessoas não se importavam mais com a realidade. Ela não fazia qualquer sentido nas suas vidas. Todos se importavam apenas com aquilo que acontecia dentro das redes sociais. Essa situação ocorria também nos poderes legitimamente constituídos. O Poder Executivo deixava de lado as comunicações formais e preferia anunciar opiniões ao invés de publicizar os atos de governo. O Legislativo criava leis para o mundo cibernético. O Judiciário protegia a todo custo os direitos de quem tinham condições de existir na rede. A vida no interior dessa Matrix parecia a concretização da Democracia direta participativa. Todos estavam conectados e distantes de cada um ao mesmo tempo.

Em Psémata, as ruas eram vazias, as lojas definhavam, os espaços públicos se assemelhavam a cemitérios. Não obstante a sua Constituição protegia os direitos de manifestação, direitos de reunião, nada disso ocorria. Tudo que envolvesse proximidade entre as pessoas, empatia de um pelo outro, era considerado como doença. Nada justificava estar junto com as pessoas e suas diferenças.

Psémata é uma terra de avessos. Os seus Cidadãos e os Poderes Institucionais preferiram viver uma mentira existencial. Os dados científicos, as teorias formuladas pelos pesquisadores, mesmo dentro das paredes virtuais, não serviam para nada. Esses dados e teorias eram mentiras, eram argumentos de conspiração. O conjunto dessas ideias era um obstáculo ao engrandecimento daquela terra e de seus eminentes “cidadãos de bem”. É a opinião individual e/ou coletiva a única verdade na qual transita com serenidade na Psémata das redes sociais. Eis o imperativo da sua vida social: nada faz sentido a não ser se for validado pela opinião de cada cidadão dessa república. Mentira em oposição à Verdade é o valor que orienta as formas seguras de convivência dentro das redes virtuais. E assim todos viveram felizes para sempre. Fim.

 

Imagem Ilustrativa do Post: brown panel door // Foto de: Steve Jhonson // Sem alterações

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