Ao olhar para raiz, a árvore não vê o tempo passar, pois, quando árvore, suas raízes já estão lá, bem consolidadas.
Ao olhar para os frutos, a árvore vê o tempo voar, pois quando árvore, os frutos surgem, amadurecem e caem, sucessivamente.
O que trazemos, nossas referências, congelam-se no tempo, pois precisamos delas para nos apoiar, para crescermos, para que o desenvolvimento ocorra e, assim, o necessário compartilhamento de experiências se concretize.
O que almejamos e criamos envelhece mais rápido do que somos, aparentemente.
Notamos, quando atentos ao reproduzido, que o tempo desgasta nossa criação. Judia da nossa construção, esculpindo algo novo, diferente do que idealizamos.
Essa novidade, compartilhada, é semente a ser jogada ao vento, é o novo com esperança de crescimento.
E, como semente, a novidade trará as memórias de suas raízes ancestrais, do caminho enquanto tronco que se fortificou ao longo dos anos e da glória de reproduzir frutos para, enfim, eternizar-se.
Atendida essa tarefa de não esquecimento, as raízes, enfim, cumprem sua missão.
E nesses felizes momentos percebemos que, na verdade, nossa base não era tão eterna no mundo real, pois, de repente, agarraram-se no tobogã do tempo e rapidamente se dirigiram para um pacífico lugar comum.
Então, aquelas raízes, vistas daqui, não do alto de um galho, enquanto fruto, mas ao lado da árvore, enquanto broto, envelheceram.
Poxa, aquela árvore já não goza de visgo e de vigor de outrora.
Quando foi que acordamos e percebemos que nossos pais já não podem nos carregar no colo e nos girar livres como um peão?
Quando perceberemos que levamos essas raízes e temos o dever natural de fortalecê-las para uma nova geração?
Sim, é nosso dever contribuir para que a floresta não morra.
O Estado, como a entidade gestora dessa mata, precisa de um ecossistema equilibrado de semeadura eficiente, de proteção ao crescimento sadio da vegetação e de meios de garantia para que os respectivos frutos da mata eclodam como esperança de manutenção da vida nesse ambiente.
Do contrário, viveremos pelo finito. Algo, sem sentido e que nos torna desnecessários.
Qual a razão de viver sem lembrar que a vida é assim sentida por oposição ao outro?
Absolutamente nenhuma.
Destarte, é de se pensar - e lembrar sempre - que a teoria consequencialista que ora se apresenta como o farol da atividade estatal (conforme arts. 20 e 21 da LINDB) indica que toda atividade de gestão e de controle da coisa pública precisa ser acompanhada de uma justificativa que considere as consequências desses atos no mundo real e no universo jurídico – sobre tudo na atual conjuntura de revolução tecnológica de informação multicompartilhada.
Tal tarefa demanda um exercício de futurologia bastante aguçado, ao ponto de se exigir que o gestor público já se previna (aplicando os princípios da prevenção e da precaução) das possíveis pragas que podem assolar suas árvores e demonstre, objetivamente, como o combate dessas pragas, por exemplo, pode trazer benefícios e malefícios para toda floresta e para a própria árvore em si.
Logo, a proposta é que tenhamos em mente a seguinte ideia: o que ocorre no Estado, intersubjetivamente, não é nada diferente do que acontece nas nossas vidas, subjetivamente, de forma geral.
Nascemos, crescemos, buscamos nos reproduzir e morremos à procura de algum sentido.
Tal sentido para o Estado, obviamente, é o interesse público sempre passível de concretização (pois, de abstrato, nada pode ter).
Desse modo, respeitar os ladrilhos construídos por aqueles que já passaram por aqui, deixar contribuições construtivas para um novo e mais eficiente asfalto dos caminhos sedimentados e garantir um futuro para manutenção dessa via de desenvolvimento é tarefa fundamental de todos os cidadãos.
Lembremos que a flor no asfalto indica tanto esperança de vida como falha na preservação daquela construção.
Como imaginar, então, um Estado que proteja novas árvores que surgem por entre pedras colecionadas ao longo do tempo?
Talvez, respeitando o passado, investindo no presente e garantindo futuros.
Sim, no plural, pois temos infinitas possibilidade de crescimento, mas só uma de destruição.
Nesse sentir, abrace sua raiz, valorize seu tronco e se lambuze de seus frutos...que logo trarão o orgulho de novas sementes.
Imagem Ilustrativa do Post: High ceilings and a view, are students really studying at these tables? // Foto de: ocegep // Sem alterações
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