A percepção do espaço e as relações com o meio ambiente.

03/06/2018

Introdução.

O Ser Humano, habitando o planeta terra, desenvolve ações, relações e interações de ordem física, biológica e cultural a partir (e dentro) dos espaços naturais, construídos (físicos), culturais ou do trabalho. A verbalização da relação que o Ser Humano estabelece com o espaço e a respectiva apropriação, revela preocupações que envolvem a forma de uso e as respectivas consequências.

Segundo o antropólogo Edward T. Hall, em A Dimensão Oculta, lançado em 1966[1], o estudo das dimensões que envolvem o uso dos espaços pelo Ser Humano, acabou por verbalizar a relação de tempo e espaço, revelando a proxémia (estudo das distâncias ocultas entre pessoas e o espaço), cuja analise destacou as preocupações que envolvem a dinâmica de poder na apropriação e na utilização do meio ambiente pelo Ser Humano - percepção do espaço pelo Ser Humano e como o Ser Humano se apropria dos espaços existentes.

A questão do presente ensaio é posta a partir da necessidade de refletir sobre a percepção que o Ser Humano possui acerca do espaço que ocupa no meio ambiente e, ao mesmo tempo, a respeito do espaço que o envolve de forma subliminar e imanente aos aspectos naturais e culturais.

Aproximações acerca da compreensão de espaço, segundo Edward T. Hall.

A leitura de Edward T. Hall é transdisciplinar, exatamente como são as questões ambientais do mundo contemporâneo, não se limitando a um único campo do conhecimento ou a uma profissão específica. O Professor e antropólogo Norte Americano, partindo da análise de diferentes contextos e comparações, em especial do mundo natural e do mundo cultural, apresenta perspectiva que comprova a influência do espaço sobre a vida do Ser Humano, sublinhando que as dimensões de espaços invisíveis podem influenciar nas relações pessoais, familiares e sociais.

Para falar do espaço e defini-lo, Edward T. Hall utiliza o mundo natural, enfatizando que a abordagem exige a fixação de que o homem é, antes de tudo e definitivamente, como outros membros do reino animal, um prisioneiro de seu organismo biológico. Nessa incursão, o estudo do espaço regride no tempo, exigindo a compreensão da evolução do uso do espaço pelo Ser Humano a partir dos elementos naturais e culturais. Trata-se do neologismo proxémia, criado por Edward T. Hall para explicar as relações que o Ser Humano estabelece entre o tempo, o espaço e as culturas.

Utilizando os atributos do mundo natural, Edward T. Hall afirma que a dicotomia que segrega o homem do resto do mundo animal não é um abismo vasto como pensa a maioria das pessoas, pois, quanto mais aprendemos a respeito dos animais e dos intrincados mecanismos de adaptação que a evolução produz, de maior importância  se tornam estes estudos para a solução de alguns  dos mais desnorteantes problemas humanos.

Para Edward T. Hall, a assimilação da importância do espaço na vida do Ser Humano funda-se, antes de tudo, na demarcação de território. A territorialidade, no reino animal, representa o espaço de proteção e de defesa dos integrantes de uma mesma espécie. A aplicação da territorialidade na vida humana (ou no meio ambiente construído) resulta na necessidade de criar espaços de convivência familiar e social protegidos.  No reino animal, a proteção dos espaços envolve cravejar ambientes que mantenham a comunidade distante dos animais avessos à convivência dos integrantes de uma mesma espécie.

No mundo construído pelos Seres Humanos, as regras de proteção do espaço não se diferem. A questão, entretanto, é que a proteção dos espaços não envolve apenas a tirania homicida de uma nação, como nas guerras e ocupações territoriais vividas e registrada pelo mundo pretérito. Atualmente, a peleja alcança sobretudo a afluência de sistemas culturais (em ambientes internos e internacionais). Segundo Edward T. Hall, torna-se cada vez mais evidente que os choques entre sistemas culturais não se restringem às relações internacionais. Explica, que as questões culturais estão assumindo proporções significativas dentro dos países, exacerbadas pela superpopulação presente nas cidades.

Portanto, a definição de espaço e a compreensão do seu uso pelo Ser Humano, é elementar à vida em sociedade. Quando o uso do espaço é realizado, sem alienação, o Ser Humano pode avaliar, de forma mais consentânea, o resultado das ações que mantem com o ambiente e com os seres que compõem o ambiente. Edward T. Hall concluiu que ao escrever a respeito de minha pesquisa sobre o uso que o homem faz do espaço – o espaço que ele mantém entre si mesmo e seus companheiros; e constrói em torno de si, em casa e no trabalho – meu objetivo é trazer à luz muita coisa tomada como certa. Desta forma, espero aumentar a auto-identidade, intensificar a experiência e diminuir a alienação.

O espaço e as relações com o meio ambiente.

O uso dos espaços no mundo contemporâneo, tomado a partir da questão ambiental, relava que o Ser Humano é o predador que deve ser contido, afastado das comunidades, pois é avesso à convivência com outras espécies do planeta. Visto de outro lado, agora sob o aspecto cultural, os Seres Humanos estão em constantes processo de autofagia, mantendo o nível de stress e de agressão em ritmo de destruição de todos os valores essenciais à sobrevivência das culturas e das diferenças entre as nações, numa tentativa de planificação econômica, cultural e social.

A apropriação dos espaços pelo Ser Humano e a respectiva dominação é imante à natureza biológica, contudo, a dominação alienada, responsável pela constituição de uma sociedade insustentável, é fruto de aspectos exteriores que estão relacionados com  os contra valores criados pela forma de vida que não respeita as diferenças existentes dentro do ambiente.  

Conclusão.

É essencial que a humanidade compreenda a importância da vida a partir do olhar do espaço, seja natural, construído ou cultural. A percepção do espaço deve levar em consideração o Ser Humano e os demais seres viventes do planeta e suas relações estabelecidas com o meio ambiente.

Dentro da analise do espaço, é curial a percepção de que: a) existem dimensões invisíveis, ocultas e imanentes que devem ser analisadas, compreendidas e respeitadas e, b) que o homem criou e cria uma dimensão cultural, responsável por controlar a natureza.

No dizer de Edward T. Hall, o homem encontra-se, hoje, na posição de criar, verdadeiramente, a totalidade do mundo em que vive, e ao qual os etólogos se referem como o seu biótopo. Ao criar este mundo, está, na verdade, determinando que tipo de organismo será. Este é um pensamento assustador, diante do pouco que sabemos sobre o homem. Também significa que, num sentido muito profundo, nossas cidades estão criando tipos diferentes de pessoas, em suas favelas, hospitais de alienados, prisões e subúrbios 

Portanto, as condições de sobrevivência do Ser Humano requerem o reexamine da vida em sociedade, a revisão da situação do homem nos espaços que ocupa e, em especial, a reconstrução dos espaços urbanos e rurais (aspectos construídos e culturais), como forma de alterar os parâmetros de sustentabilidade ambiental. 

Notas e Referências

[1] HALL, Edward T. A dimensão oculta. Rio de Janeiro, ed. Francisco Alves, 1976.

 

Imagem Ilustrativa do Post: Renato Soares_Vista aérea de Guaraqueçaba_PR // Foto de: MTur Destinos // Sem alterações

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