A grande lição da “Sociedade dos Poetas Mortos” – Por Roberto Victor Pereira Ribeiro

02/08/2017

Um professor bonachão e culto, uma gama de jovens claudicantes de seus destinos, um ambiente acadêmico, um “arremedo” de fraternidade e uma vontade imensa de que a vida seja aproveitada a cada instante. Esse são os ingredientes dessa receita-enredo de um filme que ficará para sempre no panteão da História cinematográfica mundial.

O pano de fundo se passa em escola onde o método de ensino tem como sustentáculo quatro pilares: tradição, honra, disciplina e excelência.

No entanto, John Keating, o sábio preceptor, inspira seus epígonos a pensarem em outros axiomas, como: carpe diem, sejam livres para pensar, educação salva o mundo etc..

Somos desde pequenos ensinados a competir e a sermos melhores do que os outros. Se falharmos com esse projeto, seremos, tão somente, pessoas opacas e pessoas opacas não são destaques. Precisamos entender que a sala de aula é o segundo ambiente mais propício para a formação humana. Este recinto só perde para a família e o lar doméstico. Por isso, nós, professores, somos responsáveis em formar cidadãos, e não máquinas ou robôs repetíveis. Cada ser humano é único. Não devemos olvidar também que nossa missão não é “colocá-los na forma”, isso seria castrar a aptidão de cada individualidade. Nossa real missão é mostrá-los a luz e o melhor caminho, mas, inevitavelmente, o caminho será percorrido por eles, e não por nós – até porque já percorremos o nosso.

Nesse ínterim, válido será sempre lembrar a importância da educação primária, da educação média e da educação superior, sem esquecer, é claro, duas outras educações que não deveriam faltar: a educação ambiental e sanitária e a educação jurídica. Como asseverava Carnelutti: “uma certa educação jurídica, caso estendida aos não juristas, é um meio para combater as duas pragas sociais que são a delinquência e a litigiosidade.” Lembrando sempre Pitágoras: “Educando a criança não será preciso punir o adulto”.

Não podemos educar como a sociedade do “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley. Lá há exemplo pernicioso de educação das pessoas. Educação com o medo. Educar pelo receio de perder algo que não se vive sem. O Estado drogava os seus habitantes como meio de manipular as massas. Mais uma vez insisto: não podemos trazer para o cotidiano ideias que adormecem nos romances mundiais. A educação deve seguir a mesma premissa do Direito, qual seja: pacificação social. Por isso o Estado deve aparelhar o homem com educação e com técnicas, a fim de fazê-los compreender que a vida está acima de qualquer outro bem e, portanto, é indisponível. Destarte, diminuiríamos a matança de vidas inocentes ou não inocentes; a horda de contumazes violadores da dignidade sexual dos humanos; os salteadores do patrimônio alheio; os prevaricadores sociais que se alimentam das verbas públicas etc.

Educação é doar conhecimento e conhecimento salva vidas, auxilia vidas e facilita a vida.

Como ensinava Piaget, o conhecimento não é um fator inerente ao próprio sujeito, como postula o apriorismo, muito menos que se aprende apenas observando o meio em que habita, como postula o empirismo. Deve ser, segundo ele, a junção das duas coisas mais a convivência humana. Para Piaget, o conhecimento é gerado através de uma interação do sujeito com o habitat. Destarte, defendia que a aquisição de conhecimentos necessita tanto das estruturas cognitivas do sujeito como de sua relação com os objetos e com os seres. Portanto, não é apenas colocar pessoas em um recinto e educar. Educação não é isolamento em salas de aula ou somente em ambientes escolares. Educação se ensina e se aprende vivendo.

Não podemos querer que o presidiário saia de lá melhor. Não podemos querer que o menor que cumpriu medida socioeducativa tenha aprendido a não errar mais. Não podemos querer que o político semianalfabeto pare de desviar verbas. Só poderemos exigir isso com veemência quando aplicarmos de fato a educação. Piaget lembra: "a capacidade cognitiva humana nasce e se desenvolve, não vem pronta". O Estado quer melhorar? Deve ensinar! Se não melhorar, o problema então é dele. E ele somos nós. Somos partículas de um todo. O Estado somos nós e nós somos o Estado.

Educação de qualidade é demonstrar na prática a existência da luz solar sobre a sociedade. Basta-nos abrir a janela pela manhã na aurora que veremos o sol brilhar para todos. Investir em educação é o mesmo que dizer que todos terão as mesmas oportunidades da mesma forma que o sol brilha para o rico e para o pobre.

Thomas Morus no seu clássico “A Utopia” preconiza que se a educação é forte e solidificada, não há necessidade de se criar leis visando a morte de infratores, pois todos da sociedade terão educação e sabedoria o suficiente para fugir dos delitos e/ou para compreender melhor os motivos do delito.

Há tempo ainda. Celebremos o exemplo de John Keating. Celebremos “A Sociedade dos Poetas Mortos”. Sabedoria e educação são dois vetores que apontam para um resultado de sucesso: evolução humana. Lembrem-se: “Carpe diem”. Aproveitem o dia, meninos. Façam suas vidas extraordinárias”.


Notas e Referências:

A SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. Título original: Deads Poets Society. Direção: Peter Weir. Elenco: Robin Williams, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke e Josh Charles. COR, EUA, 1989, Drama, DVD, 128 min.


 

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